Não tenho sono. Nem cansaço. Nem tristeza alguma. Apenas uma íntima necessidade de escrevinhar sobre coisas.
Amar alguém não significa apenas desejar mas, sobretudo, compreender esse alguém (porém, com a certeza que jámais o compreenderemos). Quero dizer: aceitar, respeitar, com carinho e liberdade.
Hoje sei que assim é. Já o soube em outras ocasiões. Quando entendi que havia transposto, finalmente, uma etapa. E que estava preparada para a etapa seguinte: a do amor sem outro interesse que não seja o amor. Há quem lhe chame amizade, eu continuo a chamar-lhe amor.
Foi assim com todos os meus grandes amores. Nunca acabaram, Ficaram algures dentro de mim, aconchegados, acarinhados, sem nunca envelhecerem: Apenas os despi e vesti com uma outra roupa.
Todos eles me deram parte do que hoje tenho e fizeram de mim o que hoje sou e isso, nada o pode alterar.
O primeiro grande amor que tive, foi tão intenso que durou anos até lhe encontrar o sítio certo no meu interior. Ele ensinou-me a ter confiança em mim mesma, ainda que nunca a tivesse nele. Fez-me acreditar que tinha valor, era bonita, insubstituível e que poderia sempre melhorar. Quando as coisas não corriam bem, ele aparecia-me nos sonhos para me dizer que tudo iria melhorar. Nunca o esqueci, apesar de ter esquecido o sofrimento de o perder. Estive 14 anos sem saber nada dele. Encontrei-o por acaso há dois anos e pude perceber que também ocupo um lugar feliz nas suas memórias.
O meu segundo grande amor, foi tão intenso que teria vendido a alma ao diabo, trocado a minha vida pela dele e todas as lamechices impossíveis de descrever. Foi quase uma eternidade! E quando me parecia não ser possível sobreviver, heis que encontrei o lugar certo dentro de mim para o encaixar, sem ter de nos matar. Ele ensinou-me o prazer supremo. Mostrou-me toda a beleza da vida. Levou-me ao inferno e ensinou-me a sair dele. Enfim, fez-me perceber porque jámais terei pretensões à perfeição. Pois sendo eu perfeita (por mera suposição), como poderia compreender e perdoar todos os outros? Ainda o amo como a mais ninguém, mas ninguém sabe disso senão ele mesmo. Amo-o da forma que se pode amar alguém que um dia nos deu a felicidade quase absoluta e que, só por isso (ou não só) não pode ser esquecido.
O meu terceiro grande amor foi quase ou talvez apenas, um idílio. Eventualmente nascido da necessidade extrema que tenho de amar. Ajudou-me a recuperar a autoconfiança. A reencontrar-me com a adolescência, não só na forma de sentir e querer, mas também na paixão pela música e o prazer enorme de escrever. Foi assim, como redescobrir-me, regressar ao passado, ao tempo em que os professores me chamavam a menina dos fones e diziam que um dia eu seria escritora ou então uma eterna sonhadora. Fez-me sentir que só envelheço por fora, cá dentro continuo uma menina tola. E só por isso (ou se calhar nem só), nunca o poderei esquecer. E como eu gosto dele, como eu o amo!
Estou pronta para recomeçar.
Tenho a casa arrumada e sinto-me bem.
Porque nada se perde, tudo se transforma.
E é necessário ser feliz e fazer os outros felizes.
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