Eu creio que o importante não é saber o quanto amamos.
Quando amo, acontece de forma tão intensa que, se me ponho a quantificar, terei de acreditar que ficarei sempre a perder, pois os investimentos devem ser vantajosos ou, no mínimo, equilibrados.
O importante é saber que se ama.
E eu não sei nada.
Sei que fui, muitas vezes, o flagrante delírio de um certo afecto. Sei que fui um silencio sem arestas, polido e branco, à espera de um flagrante. Todo o meu ser se despenhou num tempo em que já não sei precisar. Toda a luz se funde um dia e se apaga como se equivoco tivesse sido. É evidente que o amor não é um deserto. Aquece como uma estufa onde todas as sementes germinam e crescem. Porque quanto mais quente, maior é a vida que se lhes promete. Queima. O amor só morre quando arrefece. O amor é quente mas não é um deserto.
Dizia eu que já fui destino, noutro tempo, no tempo antes de ser silencio. Dizia eu que já fui generosa e desarmada, quando tinha um punhado de sonhos descarregados no regaço. - Não eram rosas Senhor, eram narrativas dos desejos que agora são antepassados já mortos. - Fui grito e ferida que cicatrizou. Hoje sou feixe de luz que desliza pelos dias amenos e de marés calmas.
... e eu disse-lhe que ele deveria ter razão. Que o amor não é este sangue aconchegado e livre de registos a correr sem regresso e transcrição do passado. Este sangue navegável. Que o vazio profana-se mas nunca se repete. O que se repete são as valsas.
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Silent all these years - Tori amos
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