Arre! Que puta de vida! Ainda a semana passada tinham tirado uma semana de férias juntos no estrangeiro. Quando regressaram ela vinha com um ar divinal e eu exclamei: "Meu deus! O que o amor faz às pessoas! Torna-as muito mais bonitas! Dá-lhes juventude e um brilho esplendoroso!" A semana passada!
De um momento para o outro tinha um trapo velho, jogado no lixo, mesmo ali, à minha frente. A dizer: "Dói tanto, dói tanto! O que é que eu faço à minha vida? Como é que eu páro esta dor, como é que eu vou superar isto?" Não tenho palavras! Nada me ocorre num momento destes! E nada serve de nada, bem o sei. Conheço essa facada que atravessa o corpo e nos leva todo o sangue.
Trouxe-a comigo para casa e ficamos a conversar até à noite.
- Como é que vou sorrir para os meus filhos! Achas que eles vão dar conta?
- Vais conseguir sorrir porque para os filhos nós temos sempre um sorriso, até nos momentos mais difíceis e as crianças não reparam nessas coisas, estão entretidas com o mundo deles, não te preocupes. - Tentei sossegá-la
- Como é que é possível! Há dois meses atrás ele pedia-me "nunca me deixes", e agora faz-me isto?! - Disse banhada em lágrimas.
- Não sei! Nunca entendi os homens! Nunca poderei entender os homens! Têm comportamentos absolutamente inexplicáveis! Espero tudo de um homem e não espero nada! É assim que encaro a minha relação e o amor - Hoje é, amanhã não sei o que será. Vivo com a maior das intensidades. Mas não espero que seja para sempre. E estou preparada para mais um golpe. Chegamos a uma dada altura que já não custa tanto. O amor passa a ser uma ferida aberta, parece que nunca cicatriza, porque vem mais um e dá mais uma pancada. Habituamo-nos!- Respondi.
-És capaz de ter razão. Não posso acreditar no que me está a acontecer! Se visses a frieza dele! Tem consciência da dor que me está a causar mas falou com uma insensibilidade! Afinal porque é que andava comigo? Sinto-me tão envergonhada! Como é que eu vou encarar as pessoas?
- Tens vergonha de quê e porquê? - Perguntei-lhe constrangida com a crise de choro .
- Porque eu andava tão feliz... dizia a toda gente como me sentia feliz e que ele era um homem maravilhoso. Que lhes direi agora? Que vergonha!
- Céus! É por isso que tens vergonha! Amar e estar feliz, estar feliz e mostrar aos outros que se está feliz. Afinal não é a coisa mais natural do mundo? Nínguém consegue esconder a felicidade que o amor nos dá, ela reflecte-se nos olhos e os lábios não param de sorrir. E não dá vontade de contar a toda a gente, de cantar e dançar na rua, de falar alto, cumprimentar todas as pessoas que passam por nós...? Como é que podemos ter vergonha de nos termos sentido assim? É o melhor sentimento que podemos ter... - Tive de me calar que ela já estava a esboçar um sorriso mas, de repente voltou às lágrimas e ao desespero.
- Sinto tanta vergonha! O que é que eu vou dizer ás pessoas?
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