O pombo indiferente ao voo das gaivotas
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Ontem uma amiga pediu-me para a acompanhar na visita a um apartamento, com o propósito de compra. Há muito que o casamento está falido, atingiu aquele nível de agressividade em que só já falta um degrau para atingir o ódio e o amor, ou aquilo que resta dele, se transformar num animal raivoso.
Apartamento luxuoso, bonito, com apenas um quarto, sala, cozinha e wc, pelo preço de € 145.000,00. Era lindo, mas pequeno e caro. Ela ficou encantada e a fazer contas à vida para aferir das suas capacidades económicas. Não é demasiado pequeno? Muito luxo e pouco espaço? Onde vais meter os teus filhos? Respondeu-me que os filhos ficavam com o pai. E como vais contribuir para o sustento deles? Respondeu que o pai ganhava muito mais do que ela. Que não podia descer de cavalo para burro, sair duma vivenda de sonho e meter-se num apartamento rasca. Já sabia, há muito que repete a mesma história. E, então, perguntei-lhe onde iriam ficar os miudos nos dias em que estivessem com ela, onde dormiriam, que espaço lhes reservava. Disse-me que não queria pensar nisso, poria um beliche em qualquer lado, logo se veria, tinha era de pensar nela e resolver a sua vida. Fiquei perturbada. Como pode uma mãe dissociar a sua vida da vida dos seus filhos?
O que foi? Perguntou ela. O que foi?! Perguntei eu.
Com tanto apartamento razoável e com preço mais acessível, onde pode ter um quarto para cada um dos miudos, criar-lhe um espaço próprio com privacidade, para que possam desenvolver a sua própria identidade e esta mãe só pensa nela, só pensa na decoração, no seu cantinho de luxo! Que materialismo!
Ficou ofendida comigo, as lágrimas vieram-lhe aos olhos e disse-me: isto não é materialismo, é idealismo. No meu ponto de vista, o ilealismo é algo subjectivo que se prende com a fantasia - sonhamos o que idealisamos lutamos pelos nossos ideais com vista a torná-los realidade na medida do possível. Se sonhamos com bem estar físico descurando o lado emocional, arredando aquilo que é essencial a qualquer ser, os filhos, o dever de lhes proporcionar um crescimento saudável física e emocinalmente, estabelecer harmonia entre o físico e o espiritual, para que possam tornar-se adultos estáveis e equilibrados com fortes conceitos familiares e socias...
É puro materialismo! Todos nós idealisamos casas bonitas, bons carros... etc. E cada um deve procurar viver o melhor dentro das suas possibilidades mesmo tendo os seus ideais.
Zangou-se comigo. Mas, mais tarde acabamos a tomar um café juntas, com um ar um pouco pesado, como o tempo. Somos amigas. Ás vezes fico com os filhos dela e sinto uma pena imensa deles, não sei bem de quê ou talvez saiba.
Somos todos diferentes uns dos outros e cada um vale o que vale. Tenho dificuldade em entender esta mulher! Esforço-me. Aceito-a, apesar de andarmos sempre às turras.
Mas penso que cada um vale o que vale não por aquilo que mostra cá fora, mas por aquilo que guarda lá dentro, não pela casa que tem, mas pelos sentimentos que revela.
Mas penso que cada um vale o que vale não por aquilo que mostra cá fora, mas por aquilo que guarda lá dentro, não pela casa que tem, mas pelos sentimentos que revela.
2 comentários:
Ola... Continuo a gostar dos teus textos, deveriam ser lidos por algumas pessoas que eu conheço... sim, o materialismo fortalece o egocentrismo e isola as pessoas... na realidade, também, aniquila familias, sera um dos culpados desta crise?
Cumprimentos
É verdade, mudei o endereço e o nome do meu website !!! noEnigma em : http://www.noenigma.com/
Jchacim,
Bem vindo! Obrigada pelas palavras.
Há coisas que não compreendo, ultrapassam-me! Tenho o mau hábito de deixar transparecer, ás vezes de não calar, o que penso ou o que sinto e isso acaba por magoar as pessoas de que gosto, mas sempre me esforço para aceitar as diferênças.
É por isso que mantenho este espaço tão reservado, tão distante das pessoas que me cercam, a fim de poder desabafar um pouco sobre coisas e pessoas diversas, sobre as minhas vivências.
já dei uma vista de olhos no teu espaço novo. Mas requer tempo e atenção. Irei assiduamente.
Bj.
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