Há umas horas atrás tive medo. Não queria pensar senão que talvez estivesses impedido com alguma coisa inesperada. Não conseguia pensar que coisa inesperada poderia ser essa que talvez te estivesse a impedir de me atenderes o telefone ou de me ligares. Não queria pensar. E não querendo pensar, não conseguia deixar de pensar. O medo a atrofiar-me o pensamento. O pensamento a ditar-me coisas estranhas, nomeadamente que haverias de estar impedido porque haverias de ter-te cansado de mim. Sem mais nem menos! De um dia para o outro! Sei lá! Não querendo pensar que tudo é possível, sabendo que nem tudo sendo possível há coisas bem possíveis de acontecerem.
Há umas horas atrás só queria que me atendesses o telefone estranhamente silencioso. Ou que te lembrasses de me retornar as chamadas. E um medo mórbido instalou-se dentro de mim e prostrou-me no sofá, encolhida como uma pétala murcha e enrugada, caída de um vaso abandonado ao romper do outono. Qualquer coisa dentro de mim a escrever um verso triste que haveria de colar neste lugar debaixo de uma imagem nobre, escolhida propositadamente para um desfecho despropositado.
Subitamente surges-me à porta! Dizes-me que as saudades te trouxeram aqui. Deixas-me sem pensamento e sem palavras. Varres-me o medo como um vendaval. Quase me trazes as lágrimas aos olhos e o poema aos dedos.
Sei agora que não sou tão forte e tão firme como me julgo.
Agora sei como te quero. Como não te quero perder. Deveria ter-to dito. E não fui capaz!
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