quinta-feira, 27 de março de 2014



Olho pela janela para a tarde que morre debaixo do céu. Ouço as crianças a brincar no pátio da rua e a rua nasce agora a brincar. Tenho uma montanha de coisas por fazer, mas trepo às árvores recortadas nos vidros e que se dobram sob um vento furioso. Eu, como num trapézio, balanço sem rede prestes a cair no abismo. Não sei se o abismo está nesta sala de luz apagada, se na sombra que vai crescendo do outro lado do vidro, não sei se do lado de fora, se cá dentro, se eu mesma aqui no cimo das árvores, se a criança que fazia nascer ruas a brincar. Hoje, é-me difícil parir ruas, pois vivo no velório dos dias.


2 comentários:

xeltox disse...

"Parir ruas", excelente. Uso não parir ruas, prefiro o tal velório dos dias, hoje cinzentos, no escuro das janelas fechadas ao escuro breu do meu trabalho quase solitário. Ninguém me vê, mas ainda bem!


Beijo grande, xeltox

espinhos e outras flores disse...

Eu vejo-te, sempre! Estás no meu coração, por entre os espinhos, onde se encontram as coisas as boas.

Beijo grande