domingo, 30 de agosto de 2009

Foto: "Trevo de quatro folhas"
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"O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade."

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- Miguel Esteves Cardoso -
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Foto: "Boneca de trapos"
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"A alegria do Ser, que é a única felicidade verdadeira, não pode vir até si através da forma, ou seja, através de qualquer bem material, feito indiviual, pessoa ou acontecimento - através de qualquer coisa que aconteça. Essa alegria não pode vir até si - nunca. Ela emana da dimensão informe que existe dentro de si, da própria consciência e, por conseguinte, é una com quem você é."
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"A dupla realidade do Universo, composto por coisas e espaço - forma e nada -, é igualmente a nossa realidade. Uma vida humana saudável, equilibrada e proveitosa é uma dança entre as duas dimensões que constituem a realidade: a forma e o espaço"*
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- Eckhart Tolle, em "um novo mundo" - despertar para a essência da vida. -
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*Espaço: é a consciência sem forma e a essência de quem somos, tudo o resto é forma.
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sábado, 29 de agosto de 2009

Foto: Óbidos - "Ruelas, portas e janelas II"
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O ser humano é um ser dependente. Ele cria as suas próprias dependências porque não sabe viver sem elas. É dependente desde a nascença. Tarda em se separar dos pais. A maioria das vezes larga a dependência dos pais para uma outra derivada do casamento ou da união de facto. O ser humano necessita de ter dependências físicas, emocionais e psicológicas. Não necessita apenas das suas mas também das dependências dos outros, essencialmente daquelas que ele próprio cria ou ajuda a criar nos outros.


Era 1H00 da manhã, os Xutos já tinham actuado, andavamos nas caipirinhas, enquanto isso, o marido de uma telefonou seis vezes. Tive de a levar a casa pois só havia um carro e calhara ser o meu. Todo o brilho desaparecera dos seus olhos agora sombreados.
- Sempre tive horários para chegar a casa, só que às vezes, estou tão bem que me esqueço, o pior é depois. Em solteira eram os meus pais que os marcavam, depois passou a ser ele. - disse-me.
- És feliz assim? - Perguntei-lhe.
- Não. - Respondeu-me
- Já fizeste alguma coisa para mudar isso? - Perguntei-lhe
- Não consigo. Ele controla todos os meus passos. - Respondeu-me. - De qualquer maneira, eu não saberia viver sozinha. Nunca seria feliz sozinha. Estou melhor assim.
- Cada um é que sabe das suas dependências. - Comentei por último.

Há dias fui jantar com uma amiga ao tão falado Freeport de Alcochete. Pelo caminho ela desatou a chorar. Já tinha percebido que a felicidade não era coisa que a abordasse muitas vezes, mas achava que ela era tão independente quanto me parecia possível.
- Não suporto o meu marido. Faz-me a vida num inferno! Parece uma coisa, mas é outra, ninguém imagina como ele me trata mal, abaixo de cão. Só não o deixo porque dependo dele económicamente, se não fosse isso, há muito que o teria deixado. - Desabafou.
- Não dependes nada, tens os teus rendimentos, podes muito bem manter-te a ti própria. - Disse-lhe.
- Eu não sou como tu. Nem imaginas como te invejo! Só precisas do dia a dia para andar bem disposta! Mas eu não saberia ser feliz com o dia a dia, preciso de um certo luxo a que estou habituada, de férias no estrangeiro, e poder gastar quanto me apetece e no que me apetece. Como poderia privar-me do tipo de vida que faço? - Disse-me.
- Bom, então as tuas dependências são outras. Cada um é que sabe das suas! A felicidade não é coisa simples, mas quase sempre se encontra na simplicidade. Nunca tive medo de abdicar, mas às vezes tenho medo de arriscar, principalmente quando o risco é o de perder a liberdade a troco de nada. Não me serve para nada um jantar caro num restaurante de luxo sem uma boa companhia e uma conversa agradável, a não ser que o faça sozinha e por deleite próprio. Ter férias no estrangeiro em hotéis luxuosos sempre de trombas um com o outro, ter discussões debaixo de um coqueiro, trata-se apenas de mudar o cenário de guerra para um mais vip. Mas diz-me, os arremessos e os palavrões usados também são mais caros e mais eruditos? Eu prefiro a praia aqui do lado, um guarda sol, um livro e o Mp3 e se tiver companhia ainda melhor. Mas como eu costumo dizer, cada um é que sabe.


Ela fuma, mas o marido não sabe. Porque ambos decidiram deixar de fumar ao mesmo tempo. Parece que ele conseguiu - a menos que também o faça às escondidas - mas ela não.
- Como é possível que ele não se aperceba? Não entendo, o cheiro do tabaco é bastante comprometedor. Bem podes mascar xiclete, vaporizares-te com perfume, sempre há-de ficar alguma coisa. Afinal como é que consegues? - Comentei.
- Com pouco contacto físico. - Disse-me prontamente.
- Xi! Não há beijos, uns apertõezinhos, umas rapidinhas na casa de banho, umas dentaditas no pescoço, uns encostos disfarçados na rua?... abidicas disso só pelo tabaco? Não era melhor falares com ele?... - Eu, feita parva!
- És parva? Ia ser uma chatice, uma grande zanga! Julgas que são todos malucos? Que eu até gostava de ser maluca, já fui noutros tempos, lembraste quando eu namorei com o... Porra! Não me lembres desses tempos! Mas nós dois nunca fomos assim e agora nem pensamos nisso. É melhor assim. - Respondeu.
- Pronto, pronto. Toma lá um cigarro e consola-te. Cada um é que sabe dos seus consolos e desconsolos, das suas dependências. Tu bem sabes, para mim a vida é às cores. Cinzento só mesmo o fumo do tabaco, que eu tanto gosto, diga-se, assumidamente. E tudo o resto não tem nada a haver, nunca terá, com o ser maluco ou não. É preciso temperar o amor permanentemente e isso é possível. Tu sabes que eu sei que isso é possível. E mesmo assim olha que ele acaba por morrer! Claro que não depende só de um, ambos têm o seu papel, é por isso que é importante ser real, livre e independente, só assim o outro o poderá ser também. E a vontade de tocar físicamente e de fazer coisas também cresce com esse sentimento de bem estar, torna-se natural. E quando morre, as recordações deixam um sabor mais doce do que amargo. Mas cada um é que sabe... - Disse enquanto lhe acendia o cigarro.
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Who Wants to live forever - Queen

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Foto: Óbidos - "Ruelas portas e janelas I"
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Há dias em que o coração sorri, sorri!...
É o que se sabe! Como um desvio no escuro e a luz a queimar-nos a vista! Como o nascente, a madrugada! Como a visão depois da cegueira! Como o primeiro passo a seguir a uma queda! Como o primeiro emprego ou a primeira vitória! Como o primeiro baile, o primeiro beijo, a primeira noite!
E depois é o que se sabe! Mas o coração sorri porque ainda não sabe! Ou não quer saber!...
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I Will Surviver - Cake

MUSE

Já li muitas criticas negativas quanto ao novo albúm dos Muse. Não sei, eu devo ter uma pancada qualquer pelo grupo... a príncipio pensava que era a voz do Mattew Bellamy que entrava por mim a dentro como se me possuisse. Mas não é apenas isso! Agora que ouvi Exogenesis - symphony parte I, II e III percebo que há muito mais que uma voz a possuir-me!

HOJE

Esta noite em Corroios Xutos & Pontapés. Lá estarei.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

PENSAMENTOS DISPERSOS

Foto: Óbidos - "Por detrás da fachada"
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Há em ti qualquer coisa que faz o sangue fervilhar nas veias e me conduz como se à beira da fogueira. Vai, não vai. Vai. Posso bem caminhar descalça sobre as brasas e voltar sem qualquer dor, sem qualquer marca. Apenas a vertigem a dançar na cabeça, como se fosse criança e voltasse da feira popular com restos de algodão doce nos cantos dos lábios.
Não sei das minhas fragilidades quando uma das tuas mãos encontra uma das minhas mãos e as linhas se cruzam ou confundem, tranquilamente. Nessa eterna brevidade dos momentos em que o nosso destino é um só, aqui e agora.
Há qualquer coisa em ti que me impede de resumir os dias a horas.
Dizem que deveremos amar alguém com quem gostemos de conversar.
Eu não sei nada sobre o amor. Mas acho que o amor gosta de falar. Acho que um amor silencioso será sempre um amor triste. Mas eu continuo a não saber nada sobre o amor. Apenas sei que há em ti qualquer coisa que me faz falar enquanto o sangue fervilha nas veias e a vertigem parece querer lançar-me na fogueira, nessa fogueira que sinto à beira do caminho.
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I belong to you - Muse

terça-feira, 25 de agosto de 2009

COMPREENDER O AMOR

Foto: "Juntos, enquanto houver chama."


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“Amo-te por seres como és” significa: “conheço-te, reconheço a essência inconfundível do teu ser, e aceito-te tal como és”.
Conhecemos o outro – e não o conhecemos, pois cada pessoa é um mistério inexplicável, insondável. Quanto mais nos metermos nas profundezas da nossa própria personalidade ou na de outra pessoa, mais obscuro se torna para nós aquilo que desejamos captar. Apesar disto, o amor conserva vivo o desejo de penetrar no mais íntimo do outro. E só ele nos pode revelar, sequer um pouco, como é realmente a outra pessoa.
(Jutta Burggraf, in O desafio do amor humano)

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"A visão é, provavelmente, a fonte de estimulação sexual mais importante que existe.
No homem, existem numerosos estímulos visuais envolvidos na atração sexual, que vão muito além da visão dos genitais do sexo oposto. A forma de se mover, um olhar, um gesto, inclusive a forma de se vestir, são estímulos que, enquanto potencializam a capacidade de imaginação do ser humano, podem resultar mais atraentes que a contemplação pura e simples de um corpo nu.
Segundo o neurobiólogo James Old, o amor entra pelos olhos."

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"No homem, a aparição da linguagem representa um passo muito mais avançado como meio de solicitação sexual. Em praticamente todas as sociedades humanas, o uso de frases e canções amorosas constitui uma das preliminares mais habituais. Libertado o cérebro da carga social, uma frase erótica, sussurrada ao ouvido, pode resultar tão incitadora quanto um bramido de elefante na imensidão da selva."

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"A estimulação tátil é uma necessidade básica, tão importante para o desenvolvimento como os alimentos, as roupas, etc.. O contato físico é a forma de comunicação mais íntima e intensa dos seres humanos, segundo alguns estudos, até os mais insignificantes contatos físicos tem notáveis efeitos."

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"A língua é a base de todo o paladar e a boca é uma das partes mais sensíveis do corpo e mais versáteis. Um beijo combina os três sentidos de tato, paladar e olfato. Favorece o aparelho circulatório, aumenta de 70 para 150 os batimentos do coração e beneficia a oxigenação do sangue. Sem esquecer que o beijo estimula a libertação de hormônios que causam bem-estar. Detalhe: na troca de saliva, a boca é invadida por cerca de 250 bactérias, 9 miligramas de água, 18 de substâncias orgânicas, 7 decigramas de albumina, 711 miligramas de materiais gordurosos e 45 miligramas de sais minerais. As terminações nervosas reagem ao estímulo erótico e promovem uma reação em cadeia. Ao mesmo tempo, as células olfativas do nariz – mais próximas da boca – permitem tocar, cheirar e degustar o outro."
(Gosto especialmentente deste texto - voltarei a beijar sem pensar nas bactérias?)

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"O amor não começa quando os olhares se encontram, mas sim um pouco mais embaixo, no nariz. "Há circuitos que vão do olfato até o cérebro e levam uma mensagem muito clara: sexo", explica Maria Rosa García Medina, especialista em sentidos químicos do Laboratório de Pesquisas Sensoriais do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet), da Argentina."

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"A paixão é uma emoção de ampliação quase patológica do amor. O acometido de paixão perde a sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque o indivíduo perde a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio.
O sentimento exacerbado entre duas pessoas, é um exemplo de uma paixão. A paixão pode ultrapassar barreiras sociais, diferenças de formação, idades e géneros. A paixão completamente correspondida causa grandiosa felicidade e satisfação ao apaixonado, pelo contrário qualquer dificuldade para antigir essa plenitude pode trazer grande tristeza pois o apaixonado só se vê feliz ao conseguir o objeto da sua paixão.
A Paixão resume-se num sentimento de desejar, querer, a todo custo o calor do corpo de outro ser. Cria-se uma necessidade de ver e tocar a pessoa pela qual se apaixonou. É um vício que debilita a mente de forma a focar-se somente naquela pessoa. E qualquer outro pensamento é momentâneo e irrelevante para o apaixonado."

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Eu cá só sei de um fogo que arde e não se vê, que queima e nem sei porquê! Vá-se lá entender o amor!
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domingo, 23 de agosto de 2009

Foto: "Consegues alcançar-me?"
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"Todos somos normais até nos conhecermos melhor."
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Não temos de entender/conhecer o outro.
Para/porque queremos entender/conhecer o outro? Saber tudo acerca dele, esmiuçar as entranhas dos seus pensamentos, confirmar os gostos e as apetências, observar os pormenores mais banais do espaço onde se movimenta, identificar os cheiros e os sabores, entrar vida adentro como se fosse nossa e instalarmo-nos como se a pudessemos conduzir na direcção do nosso interesse, sorver a individualidade, sugar o próprio eu do outro!... para, fatalmente o abandonarmos ou ele nos abandonar!...
Conhecer o outro dá muito trabalho!
Enquanto nos empenhamos em conhecê-lo, sobra pouco tempo para desfrutar, desinteressadamente, a graça dos momentos. Desvendar os mistérios é combater a ilusão. Á medida que nos vamos infiltrando no mundo do outro o outro vai-se tornando um estranho, cada vez mais rotineiro e ausente. Cada pedaço que julgamos conhecer do outro é uma peça que se retira ao puzle sonhado e que jámais se encaixa. E quanto mais julgamos conhecer, maior é o incómodo e a solidão. Conhecer/entender o outro é um processo cheio de armadilhas perigosas. Acabamos por perceber, entre nauseas sucessivas, que cada um de nós é um labirinto. Que a distância é cada vez maior e maior o abismo que nos há-de separar. Que o desconhecido, aquilo que nos inquieta, é precisamente aquilo que nos dá maior felicidade e ânimo.
Desejar o outro é predender tomá-lo exclusivamente para nós.
O desejo incessante de nos imiscuirmos na vida do outro, é a causa do outro desejar expulsar-nos da sua vida. Cada ser solitário, porque assim é. Todos buscamos companhia, amor e compreensão. O problema é o domínio que cada um quer exercer sobre o outro, ainda que inconscientemente. Para prender a si, aquele que acabará sempre por perder! Quanto mais fundo do outro vamos, mais distantes.

Quero-te desigual todos os dias, para que não me mates o sonho.
Não entres no meu túnel, para que não percas a luz.
Fica sempre por perto para que possa sentir-te.
Nunca deixes que te prenda ou que te abandone.
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Uprising - Muse




sábado, 22 de agosto de 2009

Foto: "Olho-te"
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Olho para as minhas memórias como se olhasse para uma terra cheia de gente e de edificios, parques, jardins e locais carregados de pessoas que se movimentam alheias a mim. A minha vida a correr em película de filme lento, ora silencioso ora carregado de sons diferenciados e de vários estilos. E vozes que distingo entre outras vozes que ficaram, que nunca se apagaram. A minha memória é uma terra enorme, cheia de casas, ruas e pessoas que circulam lentamente, algumas em silencio, outras que falam em simultaneo. E há aquelas que me falam em particular - como se colassem os lábios aos meus ouvidos e sussurrassem coisas. Que sorte ter memórias! - Penso eu. - E vozes distintas que vêm sussurrar-me enquanto a noite baixa sobre esta cidade de fantasmas! E os lábios a desenharem curvas para cima ao mesmo tempo que o mar adormece dentro de mim com aquele barulho ritmado de ondas sintonizadas. Não sei que cor é esta com que, por vezes, pinto as minhas memórias, onde tudo vive harmoniozamente num sorriso a morrer-me no canto dos olhos - cheios de sono!
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Broken love song - Peter Doherty

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Foto: "Atentamente"
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Empurro o coração um pouco mais para o centro. Pulverizo o cérebro com particulas de renovação. É então que encontro uma perspectiva diferente de qualquer coisa ou de quase tudo. Atenta à realidade, mas não séria o suficiente para me tornar descrente. Discreta mas ousada. Poderá lá ser? Yup! Eu diria que sou agente secreta. Não gosto de camuflagens mas gosto de um certo secretismo - este é como que um pretexto para me interessar pelo dia seguinte. Sempre com algum espanto, por vezes revolta, mas também com muito humor e a pensar que tenho todo o tempo do mundo para fazer e refazer quem sou.
Tenho sempre um espaço aberto frente a mim. É onde as lágrimas secam - sabiam que todas as lágrimas secam? Mas que há pessoas que teimam em regá-las para lhes manter a humidade? Outras há que as congelam para sempre!
Diante dos meus olhos há sempre um espaço amplo, vazio, para ser preenchido. Um espaço que cabe nas minhas duas mãos, mas que não tem medida. Um dia perguntaram-me porque mantenho as mãos fechadas durante longos periodos. Nunca me tinha apercebido, mas fiquei atenta e confirmei que assim é. Já lá vão muitos anos e tento combater esse hábito. Nunca percebi a razão: sou aberta de espirito e gosto de dar! Acho que fecho todos os medos e receios nas mãos, para evitar que me minem o pensamento. Talvez seja porque gosto de conservar tudo o que amo, porque não gosto de abrir mão do que conquisto. Nascemos de mãos fechadas, carregadas de esperanças - dizem. Nunca quis largar as minhas esperanças! Está explicado!
Tudo isto para dizer que ainda cabe em mim um mundo novo!
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What We Know - Sonic Youth

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Foto: Ponte 25 de Abril - "Nevoeiro sobre o Tejo"
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A primeira semana de férias está passada. Diversão? Descanso? Nem um pouco! Com a praia ao pé de casa e nem pus lá um pé! Aproveitei que estou sózinha e pintei os azulejos das casas de banho. Parecia canja! Népia! Quatro dias de trabalho! Colocar massa nos intervalos. Esfregá-los. Retirar todos os apetrechos das paredes. Colocar fitas por todo o lado e cobrir o chão. Aplicar a primária e dar duas de mão com a tinta de cor. Voltar a aparfusar os apetrechos todos. E depois limpar tudo. Xi! My God! Que dias! E finalmente reparei o estore do meu quarto como devia ser. Estou tão cansada, tão arrasada fisicamente que até os braços tremelicam! Não tenho cabedal para estas coisas, sei-o agora. Sou é tão teimosa e determinada que acabo por conseguir. E agora, obra feita, fico a fitá-la carregada de orgulho e de dores nas costas e nos braços. Estou satisfeita e semi-morta. Amanhã à noite vem a minha familia passar uns dias, por isso vou aproveitar para dormir durante 24H00, de outra forma estarei um destroço. Acho que nunca me senti tão cansada na minha vida! E ainda assim, estou bem disposta.

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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Foto: Praia Fonte da Telha - "Leva-me contigo"
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Quero ir aonde nunca fui e voltar como nova, para te contar coisas diferentes. Sentar-me ao teu lado no velho sofá que nos vai amparado a imaginação dos gestos inquietos. E ver-te a rir como um miudo que se encanta com as história da avozinha. E nos olhos entusiasmados, o desejo do lobo impaciente.
Quero ir a um lugar que não conheças e que não me conheça. Apenas para fazer tontarias irreais e difundir-me na ilusão de momentos novos. Só para poder ficar horas a parlapear contigo e a admirar o brilho dos teus olhos carregados de sede.
Quero ir, sem que saibas, para um ponto cardeal desconhecido. E aumentar a saudade que todos os dias inventas para mim.
Quem sabe, eu possa ir e voltar sem ser necessário reinventar o amor. Talvez ele já exista na invenção das histórias que vamos contando um ao outro, mas os meus olhos não tenham tinta para o pintar. E nem as minhas mãos te afaguem com a verdade.
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Foto: Trafaria - "Onde me arrumo?"



Nunca decorei os caminhos percorridos. Vou sempre como se fosse a primeira vez, de forma incerta e errante, para que nada se repita. É por isso que me perco tantas vezes nas voltas que dou. Pois nunca soube traçar linhas, ler mapas, visualizar estradas. Não sou distraída, só não sei marcar certezas.


A memória não é repetitiva. Pensamos num facto ou acontecimento indefinidas vezes, mas sempre de angulos ou miras diferentes, só alguns pormenores se mantêm inalterados. É assim que vejo os meus caminhos. Nunca sei aonde me levam, nem o que permanecerá.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Foto: Costa da Caparica - "Tardinha"
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Perdido...
O tempo dos laços imperfeitos, a desmancharem-se a cada madrugada
e dos abraços mal apertados, incertos, tímidos, a medo.
Perdido no fundo de qualquer coisa que há dentro de mim
que não é alma, nem nada que se explique.



segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Foto: Pôr-do-sol Transmontano "Fim-de-tarde no nosso terraço" (Esta é para ti mana)
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Hoje tive uma ótima notícia. Estava angustiada, mas o meu coração voltou a encher-se de ternura por alguém que amo muito. Porém, o meu filho está zangado comigo. A adoloscência é uma coisa monstruosa! Nunca sabemos se os adolescentes nos amam ou nos odeiam! A paixão de um adolescente, quando correspondida na mesma medida, tende a ser o centro do universo! Ou estás comigo ou estás contra mim! Penso que a virgindade e a ansia/perpectiva de a perder, poderá levá-lo a fugir de casa. Não sei se faça terapia, se me junte a ele. É que já ouvi dizer que a loucura pode ser hereditária: "os pais podem herdá-la dos filhos"! Por falar nisso, hoje discuti com o meu ex-marido, o qual me desligou o telefone na tromba. Nunca soube discutir com ele, acabava sempre por perder! É mal da maioria dos homens manterem uma postura de superioridade no confronto de ideias. Se perderem numa discussão com uma mulher, perdem a virilidade: ou a fodem imediatamente, ou já não a conseguem foder! Tiro e queda ou morte súbita! Os filhos adolescentes também têm essa coisa deslumbrante de conseguirem pôr os pais a ralhar ao fim de vários anos de tréguas! E de nos porem a chamar nomes brutalmente feios às sogras que até nos querem bem - sem que elas ouçam, é claro!
Agosto é o meu mês. Ao meu Leão preferido e por quem tenho paixão crescente e que ontem fez anos, os meus parabéns e um beijão carinhoso. Amanhã dedicar-lhe-ei o dia. Estou a sobreviver a um puro temporal, do tipo tsunami e descubro que existem árvores com raízes profundas, às quais me posso segurar firmemente. Os temporais devastadores servem para realçar as verdadeiras afectividades. De outra forma, seria o caos.

domingo, 2 de agosto de 2009

Foto: Trás-os-Montes - "Debaixo do céu"

Abandonno os jardins, os bancos roubados aos velhotes, as sombras das árvores, o cheiro das flores e da terra regada. Na verdade, eram esperas. Esperas quase sempre desesperadas, do passar do tempo vazio, do encontro por acontecer.
Um dia partirei, hei-de abandonar a casa, as fotografias e todos os trastes que me prendem no presente. Partirei sem ideais e sem números de telefone.
É preciso encurtar caminho quando tudo nos parece distante, deixar para trás a carga mais pesada e mais inutil.
Trago comigo uma lucidez abstracta, gerada pela desilusão de quase tudo e a ilusão de que sou capaz de voar. A ideia de que o vento que me arrasa e me prosta no chão jámais me deterá.
Abro os olhos, devagarinho, para me habituar às ausências. O que os fere não é a luz, é a falta dela. Já fui quase cega de dor, porque teimava em ver no escuro. Porque trazia comigo uma obscura lucidez.
Já não tenho medo. O medo abandonou-me. O medo era um silêncio que fazia muito barulho dentro de mim. Eu a imaginar que a vida me falava aos gritos. Então comecei a falar baixinho. E depois num tom que eu própria podia ouvir.
Já não tenho medo. Só não não sei do caminho.