segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

COISAS DE GAJA


Quando estou de mal com a vida fico de mal com todos e até comigo mesma e não pode ser. Esta manhã levantei-me, dirigi-me a uma estéticista e pedi-lhe:
- Preciso que faça alguma coisa por mim (que me ajude a tornar-me numa mulher a sério, voltada para o exterior, a valorizar o fútil, a amar o visível, a mirrar as coisas da alma - pensei), ensine-me a maquilhar-me e a arranjar-me como deve ser.
Ela sentou-me numa cadeira rodeada de espelhos e produtos de beleza e começou o seu trabalho. Creme, base, anti-olheiras, blush, lápis, rímel, contorno dos lábios, baton e foi-me dizendo como é que tudo se aplicava, o porquê da escolha deste ou daquele produto. Quando acabou, olhei-me ao espelho e exclamei: “Uau! Acha que devo cortar o cabelo, trocar de penteado, pintar? E como profissional lá me aconselhou. Vim para casa com uma catrafada de produtos na mala, uma máscara no rosto e um vazio dentro de mim.
Agora sim, estou muito melhor! Olho-me de relance nas montras e gosto do que vejo. Passarei a gostar de ir às compras, do cabeleireiro, dos programas de moda e das revistas sociais. Talvez me inscreva num ginásio e passe a tomar o chá das cinco na pastelaria mais bem frequentada da zona. Estou até a pensar inscrever-me no clube profissional e ir aos almoços, jantares e convívios com os colegas e adoptar um ar de bem sucedida. Farei algumas viagens, até já marquei uma para daqui a 15 dias ao Algarve, e andarei ocupada todas as horas do dia com coisas palpáveis, talvez nem precise de escrever, tão pouco tenha tempo para sonhar.
Quero-me uma mulher a sério!

domingo, 30 de janeiro de 2011

Entardecer
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In My Sky At Twilight - Pablo Neruda


" In my sky at twilight you are like a cloud
and your form and colour are the way I love them.
You are mine, mine, woman with sweet lips
and in your life my infinite dreams live.

The lamp of my soul dyes your feet,
the sour wine is sweeter on your lips,
oh reaper of my evening song,
how solitary dreams believe you to be mine!

You are mine, mine, I go shouting it to the afternoon's
wind, and the wind hauls on my widowed voice.
Huntress of the depth of my eyes, your plunder
stills your nocturnal regard as though it were water.

You are taken in the net of my music, my love,
and my nets of music are wide as the sky.
My soul is born on the shore of your eyes of mourning.
In your eyes of mourning the land of dreams begin."

FANTÁSTICO

THE OTHER SIDE from Zephyru on Vimeo.

DESABAFOS


Ele ontem ligou-me a pedir desculpa, mais uma vez, por me ter decepcionado tanto. Expliquei-lhe que uma pessoa que muda o comportamento de um dia para o outro, de forma inesperada e radical, é impossível não nos decepcionar. É com espanto e verdadeira decepção que o encaramos. E só queremos perceber porquê, para que possamos aceitar e encerrar o capitulo.

Quando nos conhecemos ele tinha ma euforia comigo, uma alegria contagiante! Dava-me a mão enquanto caminhavamos. No café encostava a cadeira dele à minha para poder ficar a segurar na minha mão. Conduzia com uma mão no volante e a outra na minha. Viamos filmes colados um ao outro e de mão dada. Dormiamos encostados e de mão dada. Mensagem de manhã, telefonema à tarde, mensagem à noite. Ás Quartas-feiras vinha a correr lá de C. B. para poder estar 3H00 comigo. Depois passava o resto da semana em Sintra e à sexta à tarde já tinha o fim-de-semana todo programado para o passarmos juntos. Um dia, ao jantar, disse-me que acredita que nada acontece por acaso e acreditava que não tinha sido por acaso que nos tinhamos conhecido da forma que nos conhecemos. Eu disse-lhe que a vida é cheia de coíncidências espantosas, só isso.

Ontem explicou-me que, por acaso, inesperadamente, encontrou em C.B. uma rapariga por quem, antes de mim, tinha tido uma grande paixão, uma rapariga que nunca tinha esquecido, foram almoçar e ela contou-lhe que a relação dela com o namorado estava a terminar. O coração dele disparou encheu-se de esperança e nada mais voltou a ser o que era. Eis a explicação! Mais me disse que entendeu que não foi por acaso que eles se encontraram, pois acredita que nada acontece por acaso!

Eis, então, uma coisa espantosa! e brilhante para meditar, não fosse o caso de eu estar envolvida no assunto e de me tocar com alguma dor.

Posso entender, porque o sei, o que é um vulcão a despertar súbita e inevitavelmente dentro de nós. O amor adormecido que acorda com um beijo! Posso entender, porque o sei, o quanto isso nos transtorna e afecta o nosso comportamento. Posso entender, porque o sei, que isso possa ter a força brutal de mudar tudo. O que eu não posso, apenas porque não sou capaz, é de entender este "nada acontece por acaso"! E isto desassossega-me o espirito. É que, a pensar assim, agiremos constantemente de forma inconsequente e sempre teremos a justificação. Então que significado tive eu na vida deste homem? Que significado este homem teve na minha vida senão um mero acaso feliz que durou pouco mais de quatro meses? Para acreditarmos numa coisa, necessário é que desenvolvamos uma tese sobre ela, a menos que acreditemos por crença ou por acaso.

Ontem fui jantar a casa de uma amiga que se mudou à pouco tempo aqui para a rua do lado. Curiosamente descobri que ela é muito religiosa. Tinha santos no quarto e confessou-me que desde que se separou do marido vai à missa todos os domingos. Já tinha percebido, mas nunca tinha abordado o assunto. Estivemos sentadas à mesa até às três da manhã, sempre a comer, a beber e a falar compulsimente das nossas frustrações. O ser humano vive cheio de coisas para as quais não encontra explicação. Ela também acredita profundamente que nada acontece por acaso e que temos um destino. Eu preciso de compreender para poder aceitar. Não tenho fé nem crenças. Eu questiono e não acredito naquilo que não responde aos meus porquês. Os porquês subsistem porque, enfim, não me consigo libertar do pensamento inquisitivo. São poucas as coisas em que acredito sem que tenha uma explicação para elas. Mas sei que não há necessidade de que algumas coisas se expliquem, o amor, por exemplo, não se explica, sente-se e sabe-se lá porquê! Conformo-me com isso. Se o amor se explicasse não se chamaria amor. E no amor, eu continuo a acreditar apesar de todas estas experiências que me vão moldando.

O texto já vai longo e a manhã chegada ao termo.

sábado, 29 de janeiro de 2011

A GUERRA DOS SEXOS


Já que não posso viver sem eles, vou tentar compreendê-los!

A imagem que tenho dos homens tem-se vindo a degradar bastante ao longo dos anos, fruto das minhas experiências, das experiências das minhas amigas e, sobretudo, do meu trabalho. "Os homens não prestam!" É a frase que ouço permanentemente e que acabo por repetir vezes sem conta. Os homens não prestam? Homens e mulheres há que não prestam, efectivamente. Tenho excelentes amigos e conheço homens encantadores. Analisamos os homens a partir dos nossos parametros e das nossas expectativas. Mas eles são tão diferentes de nós! E é tão difícil aceitar isso sem nos desesperarmos! Eu consigo compreender os meus amigos e aceitá-los como eles são. Eu digo que os homens são todos iguais e agem da mesma maneira. Porém, aquilo que compreendo e aceito num amigo, não o consigo compreender e aceitar num companheiro amoroso! Afinal não são todos iguais? Então, o que espero eu de um homem em particular?

Há tempos o meu ex-marido disse-me: - "Desculpa ter estragado tudo. Desculpa não ser o super-homem." As mulheres esperam que eles sejam super-homens? Já lá vai o tempo em que o homem era o tronco, o suporte da família, em que se esperava que um homem fosse, sobretudo, um homem íntegro. Certamente que as mulheres de antigamente esperavam e desejavam que eles fossem, simultâneamente, amorosos. Hoje, as mulheres sustentam-se e por isso, procuram no homem um companheiro, alguém com quem partilhar o amor. Hoje, as mulheres sentem-se fortes e autónomas pelo que o homem perdeu o papel de protector. Hoje só subsiste o lado afectivo das relações. Portanto, o mais perturbador. Por isso se diz hoje, com demasiada frequência, "eu não preciso de ti, tu não precisas de mim, estamos melhor sózinhos." O que não é verdade. Eu amo, tu amas, ela ama, ele ama, nós amamos, vós amais, eles amam. É o verbo mais conjugado à face da terra, por eles e por elas e só faz sentido se for conjugado a dois. É preciso que eles e elas se entendam. Num estudo que andei a fazer, foi-me aconselhado este livro. Já o tenho. Está na altura de o ler.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

POR QUEM OS SINOS DOBRAM?


Esta tarde tive uma longa conversa. A conversa de que necessitava para serenar o espirito. Uma pessoa que sempre foi maravilhosa, nunca me tinha decepcionado, de repente, parecia uma pessoa estranha, um intruso! Bastaram as sensações ou intuições ou o que quer que se lhe chame, para sentir isso. O que é que se passava?! As explicações não me satisfaziam, daí a maior desilusão.
- Diz-me a verdade - pedi-lhe.
E ele começou a abrir-se. E disse-me, finalmente:
- Quando estou contigo sinto-me bem, estou feliz. Mas tenho o coração dividido. Há uma pessoa que está cá dentro e não sai. E sinto-me mal, é como se te traísse, e tu não mereces isso. E então sofro! Quanto mais tempo passo contigo pior me sinto, a pensar se é justo para ti. Sinto-me um filho da mãe! Eu gosto de ti, fazes-me feliz, mas não correspondo às tuas expectativas, sempre bem disposta, sempre a sorrir, sempre a dar-me carinho. E eu vou ficando cada vez mais triste, a sentir-me cada vez mais um filho da mãe!
Eu senti-me a tremer ligeiramente, mas disfarcei. Filho da mãe!- Pensei!- Não poderias ser feliz, simplesmente? Por acaso saberás por quem os sinos dobram? Nâo basta ser feliz? Só isso? É preciso o coração? E então pensei que deveria revoltar-me, sei lá, chamar-lhe nomes, ofendê-lo, sei lá! Um Leão não lida bem com estas coisas! O orgulho apunhalado desta maneira, é uma coisa insuportável! Falo a sério. Tremia ligeiramente, embora que de forma controlada.
E agora vou ter de ir à reunião de condomínio! Não estou com espirito para isto, mas tem de ser, é obrigação de qualquer condómino responsável.
Voltei. Encho o copo de vinho. Esta noite é a minha companhia. Não preciso de mais nada. Voltam-me as palavras à memória, como se fosse um eco. Desgraçado! Confessar-me a verdade! Céus! Senti-me quase a desfalecer! Por momentos fiquei sem voz, com as palavras enroladas na garganta! Não era melhor mentir-me? Dizer-me uma treta qualquer igual áquela que me tinha dito há dias atrás? Não seria melhor manter a farsa e até jurar-me a pés juntos que era tudo uma questão de problemas de depressão motivada pelo desânimo no trabalho! Mas ele é um rapaz delicioso e honesto. Perdoa-me. Como posso magoar uma pessoa que só me fez bem? - Disse. Ho céus! O que eu senti naquele momento! Alguém imagina? Foda-se!
- Nunca discutimos! Só me lembro de momentos maravilhosos. É um final feliz! Andei três dias a bater mal, só porque me custava a abdicar da alegria e bem estar que tinha contigo e porque me custava aceitar que, a final, fosses igual a todos os outros, quando te julgava tão diferente!- Disse-lhe. - Sei agora que nunca estive enganada a teu respeito e isso tranquiliza-me. Estou bem, acredita. persegue os teus sonhos. É assim que a vida faz sentido, só assim. Eu também tenho os meus. Quero-te bem.
E assim terminou a nossa conversa. Não tive coragem para lhe dizer que tenho a vida cheia de textos e rascunhos que não lhe dizem respeito. Que sempre tive o coração dividido e que isso me fazia sentir uma filha da mãe! Que os sonhos me perseguem todos os dias e eu não sei como persegui-los, por isso me agarrei a ele.
Um dia destes, talvez me sente a tomar um café com ele e lhe diga por quem os sinos dobram, se tiver coragem.
É sexta-feira. Convidaram-me para saír e eu respondi: - Hoje não. Preciso de me reencontrar com a minha solidão.
Hoje preciso de estar comigo mesma, para tentar compreender a vida e aceitar tudo isto, e tentar aceitar, sem me sentir uma filha da mãe, que os sinos foram dobrando, ainda dobram... por quem?

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

CONVERSAS DE GAJAS


Ontem, à conversa com a minha ex-sogra, enquanto tomavamos um café:
- Esta noite o N. não dormiu em casa. Acho que já está a recuperar do desgosto, já deve ter outra. Não pára! - Disse ela.
- Deixe-o lá. Parar é morrer. Tem de se aproveitar enquanto se pode. Não vá a coisa gastar-se com a idade! - Disse eu.
- Nunca se gasta! As energias é que já não são as mesmas.
- Mas com a idade perde-se o apetite sexual, dizem. Diga-me uma coisa, depois da meia idade, principalmente da menopausa, a mulher perde o apetite sexual, ou este diminui bastante?- Perguntei-lhe.
- Qual quê! Até se renova. O que faz perder o apetite é a falta de companheirismo ou de interesse pelo outro, não a idade. Digo-te que até se pode melhorar. Então, depois da reforma, com o descanso e o tempo livre, parecemos jovens! Só temos que adaptar as coisas às nossas capacidades fisicas, que já não são as mesmas e esquecer o kamassutra. - Respondeu.
- Mas perde-se aquela coisa espantosa da atracção fisica, a química, digo eu.
- Acho que não. Olha, a semana passada estive com uma amiga, que é da minha idade (69) e esteve-me a contar que um casal amigo dela a convidou para almoçar, onde também estava um viuvo amigo deles, mais ou menos da idade dela. Era, portanto um almoço de casamenteiros. Então disse-me que não gostou nada do homem, muito engravatadinho e engraxado. Porém, quando ele se ofereceu para ajudar a carregar a lenha e acender a lareira, e tirou o casaco, a camisola e arregaçou as mangas da camisa, sentiu um calor subir por ela acima que até lhe cortou a respiração! Por isso, estás a ver, amadurecemos, mas não morremos. - Conclui com um ar muito safado.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

PELO SONHO É QUE VAMOS


Esta tarde tive à minha frente um garoto de vinte anos que já tem dois filhos, um com quatro e outro com dois anos (!), a chorar como uma criança com as amarguras da vida. Está na hora de acabar com o fatalismo, quatro dias chegam - disse para comigo. Afinal, saberei eu o que quero? Talvez saiba ou talvez não. Em boa verdade só quero ser feliz. E para além dessa verdade uma outra verdade. Só tenho de deixar a vida acontecer da forma que tiver de acontecer. Termino a tarde tranquilamente com um pouco de poesia que aqui deixo.


Já és minha.
Repousa com teu sonho em meu sonho.
Amor, dor, trabalho, devem dormir agora.
Gira a noite sobre suas invisíveis rodas
e junto a mim és pura como âmbar dormido...
Nenhuma mais, amor, dormira com meus sonhos...
Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.
Nenhuma viajará pela sombra comigo, só tu.
sempre viva. sempre sol... sempre lua...
Já tuas mãos abriram os punhos delicados
e deixaram cair suaves sinais sem rumo...
teus olhos se fecharam como
duas asas cinzas, enquanto eu sigo a água
que levas e me leva.
A noite... o mundo... o vento enovelam seu destino,
e já não sou sem ti
senão apenas teu sonho...

-Pablo Neruda-

...
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

- Cecília Meireles -


O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!
Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?
O meu amor não tem
importância nenhuma.

- Cecília Meireles -

DESALENTOS


Esta manhã fui fazer uma peritagem, que consiste numa inspecção ao local, neste caso às habitações de cada um dos progenitores, a fim de se aferir das condições de habitabilidade, para efeitos de atribuição da guarda do filho menor. Os peritos seguiam num carro à minha frente e lá ia eu ao volante, com a cliente ao lado.
- Nunca pensei chegar a este ponto! - Disse ela.
- Casei-me com vinte anos e dei cabo da minha vida. Quando já estava recuperada voltei a casar-me aos trinta e oito e, então aí, é que me arruinei por completo!- Continuou, enquanto eu me mantinha em silêncio, a ouvir a música.
- Ainda hoje não entendo por que me casei! Foi uma loucura que fiz! - Concluiu entre suspiros.
- A paixão e amor tem dessas coisas! - Comentei com um encolher de ombros.
- Que paixão?! Nem paixão nem amor! Era uma grande amizade que tinhamos, decidimos casar e deu nisto!
- Mas como é que as pessoas se podem casar sem paixão ou sem amor!?- Perguntei-lhe eu.
- Tinha sido igual. - Respondeu ela. - Ia tudo dar no mesmo, acredite.
- É capaz de ter razão! Faça-me um favor, não diga mais nada até chegarmos lá, a menos que me queira contar anedotas. - Pedi-lhe. - Não me leve a mal, mas para cinzento já basta o dia.
Ela prometeu, mas não, não se calou e eu deixei de a ouvir, perdida entre a música e os pensamentos.
De facto, a que ponto as pessoas chegam! o desentendimento pode ser tão profundo que leva à completa devassa da vida de cada um! Que tristeza, andar a percorrer cada assoalhada para, no fundo, se aferir do bem estar e da felicidade de uma criança!
Porque é que os adultos teimam em não querer perceber que o bem estar e a felicidade é uma coisa interior. Na Guerra que alimentam um contra outro, preocupam-se com conforto, enquanto lhe esbulham a felicidade! Que pais!

DESALENTOS


- Detesto o Janeiro! É um mês frio, feio, triste e deprimente! - Disse ela.
- O Janeiro é um mês frio, as pessoas é que são feias, tristes e deprimentes. - Disse eu.
Esta manhã levantei-me feia, triste e deprimada, diriji-me á janela de cigarro na mão, estava frio e o céu nublado povoado de gaivotas que voavam de um lado para o outro. Lá fora tudo estava bonito, cá dentro é que não. Há precisamente 10 dias atrás era Janeiro, estava muito frio e eu estava feliz. Janeiro era, então, um mês frio e bonito.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

DESABAFOS


O meu ex-marido veio aqui mostrar-nos o carro novo. Sentei-me ao volante e comecei a mexer.
- Queres ver? - Disse ele. Carregou num botão. - Agora pede a estação de rádio que quiseres. Eu falei, o carro falou comigo e já estava! - Agora pede para ligar telefone e dá o nome da minha mãe. Daí a pouco lá estava eu a falar com a mãe dele, sem telefone. Uahu! Sim senhor!
- Foi preciso comprar um carro para conseguir ser ouvido! - Disse ele.

Claro que ele estava a mandar uma graçola. Mas eu aproveito para dizer que todos nós precisamos que nos escutem. Ás vezes escrevo aqui compulsivamente pela necessidade de ser escutada. Não que me falte quem me ouça e até, confesso que, não tenho atendido o telefone a algumas amigas, por não ter disposição para conversar. É a necessidade de falar escrevendo, no pressuposto de ser ouvida e apenas, apenas isso. Não é uma necessidade de dialogar, mas sim de desabafar. É uma necessidade que eu própria não entendo. De facto, estou carregada de porquês, para os quais não obtenho resposta! O que me deixa angustiada.

AMIZADE


- Para que serve o amor? Senão para nos tramar o coração? Diz-me para que preciso eu do amor? - Perguntei-lhe.
- Para nada. - Respondeu ele. - Ou melhor, para te tramar o coração.
- Não estarei melhor sem ele? - Continuei a questionar.
- Possívelmente estarás. Quando é que vamos beber um copo?- Perguntou ele.
- Não sei. Agora quero tranquilidade, encontrar paz para o espirito. Preciso de sossego. - Disse eu com uma voz enfadonha e completamente estúpida.
Do outro lado, o silêncio.
- Que digo eu? Olha para mim, pareço uma velha a falar!
- Completamente!
- Completamente?! É assim que falas comigo?
- Claro. Tu não precisas de tranquilidade, tu não queres paz de espirito, vai contra a tua natureza! Sabes isso.
- Sei?
- Sabes.

Os amigos são estas pessoas especiais que conseguem por-nos a rir à gargalhada quando nos apetece chorar.

AS INTUIÇÕES

Quem nos quer bem sempre aparece.
Tenho estado ao telefone com um amigo. Na quinta-feira ligou-me, para grande surpresa minha, depois de ter estado desaparecido mais de três meses. Perguntei-lhe porque razão me estava a ligar depois de tanto tempo, e respondeu-me: "Não sei, fi-lo por intuição". "Intuição de quê?" Quis eu saber. "Sei lá! Foi instintivo! Pressenti que estava na altura de me reaproximar de ti." Disse ele.
Afinal o que são as intuições? Tenho andado a fazer buscas, mas não chego a lado nenhum! Porque razão, de repente, me vejo envolta e confrontada por uma série de intuições que chegam daqui e dali?
O intuitivo não é uma percepção clara e imediata? O intuitivo pode ser um pressentimento que vai para além do imediato e do racional?
sensação não é intuição. Observo e adquiro a sensação de algo imediatamente e de forma irracional e a seguir analiso. Andei toda a semana com estranhas sensações, que me advinham por observação e delas não intuí mas concluí, bem ou mal. A intuição é um pressentimento irracional que nos chega de repente sem estar sujeito a qualquer prévia observação. É assim que defino a intuição. Mas aquilo a que quase sempre chamamos intuição mais não é do que sensação e, muitas vezes é um pressentimento gerado pelos nossos próprios desejos. Todavia, como se explicam determinadas intuições? Serão meras coíncidências? Não sei. Esqueci-me de almoçar e o trabalho espera-me! Tenho de ocupar a cabeça com merdas destas, para não me deixar caír na tristeza! Ia dizer para não ficar maluca, porém, estas merdas é que me hão-de endoidecer! Ontem, quando fui votar, ao fazer marcha atrás bati num poste, felizmente não se nota, só ficou um arranhão e esta manhã tentei desesperadamente abrir um carro que não era o meu e cuja semelhança era apenas a cor!

domingo, 23 de janeiro de 2011

INCONTORNÁVEL

Escuta como ranje o desassossego que perpassa por entre as palavras.
O pior que podia ter feito, num dia como o de hoje, era ter visto um filme tão lamechas quanto o "Sabrina". Um domingo frio e indiferente como este, reflecte bem a bruma do pensamento. Desnecessário, pois, o romance novelesco e a lágrima ao canto do olho. Daqui a pouco deito a cabeça sobre a almofada enxovalhada pelo tumulto das últimas noites e começarei a inventar o amor no rodapé de um sonho. É assim que, quase todas as noites, suspendo a vida. Como quem, por devoção, reza ao criador. Um itenerário nocturno pela ilusão! O escavar do túnel, cêntimetro a cêntimetro, noite após noite, para a fuga da realidade. Uma demência frequente, subterrânea, uma justificação plausível para a insónia. Como se não soubesse, definitivamente, que o túnel desemboca numa manhã vazia de ti.

A MINHA PRAIA




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Assim estava hoje a minha praia. Linda, não é? Quem pode ficar indiferente perante tanta beleza?

PENSAMENTOS DISPERSOS

Esta tirei-a no verão quando voltava do norte. É óptimo viajar atenta ás paisagens, sempre se captam coisas engraçadas.
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Sentia-me cansada e infeliz quando me deitei. Dormi profundamente cerca de 8h00. Quando acordei reuni comigo mesma durante umas horas, para reflectir, tentar perceber e aceitar os factos, para melhor lidar com eles, e tentar perceber os sentimentos, com vista a aceitá-los.
A realidade não é apenas o que está fora de mim, essencialmente a realidade é o que está dentro de mim. Por isso, eu vivo duas realidades. E cada um de nós tem as suas realidades. A realidade interior é a que toma as rédeas e me conduz na realidade exterior. A minha realidade interior é mais emotiva que a minha realidade exterior. A minha realidade interior é instável, tem oscilações derivadas do modo como percepciona as realidades daqueles com quem me relaciono, e reaje emocionalmente às interpretações que faz, que podem ser positivas ou negativas, não lhe sendo indiferente. Assim, a minha posição perante os outros e a própria vida depende, não só das minhas vibrações e da análise que lhe faço, mas também das vibrações dos outros e da respectiva análise.
E ainda que, por vezes não consiga compreender as verdades dos outros e o seu modo de agir, reflectindo sobre isso, posso compreender que as minhas verdades não são melhores ou mais certas que as dos outros e, deste modo, aceitar as verdades dos outros, ainda que as não compreenda. Isto ajuda-me a serenar e a pensar que lá fora, apesar do frio, o vento emite um som que parece música, o mar faz um barulho que parece fala e a praia continua tão bela como à um mês atrás. Vou passear, procurar a paz de que preciso para poder absorver com prazer as coisas belas que posso ver, ouvir e ler.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Ele pediu-me que fosse compreensiva. E eu disse-lhe que sim, que o seria.
Ele pediu para darmos tempo ao tempo que tudo se resolveria. E eu disse-lhe que sim, que dariamos tempo ao tempo para que as coisas se resolvam.
E depois isolei-me e então chorei, finalmente. Não sei como se resolvem as desilusões! Ainda que uma pessoa se faça de forte e que diga que já sabia que depois da ilusão viria a desilusão, não há uma formula matemática para evitar a tristeza e as aspirinas não tiram estas dores! Sinto uma grande tristeza dentro de mim!

TRÉGUAS PARA O AMOR


Evanescente, a dor,
de passagem, sempre de passagem.
Só o que é irredutível permanece.
As horas passam,
os dias passam,
os anos passam,
os momentos fulgurantes vão-se,
as rosas murcham,
os canteiros tratam-se,
as esperanças renovam-se,
as estações repetem-se
e a vida continua indecifrável.
Água vem, água vai,
a dor evanesce,
só o que é irredutível não se esvai,
só o que é profundo permanece.

Ainda que eu me despenhe
do cimo da minha poesia
e me estatele no desejo de ter tido outra vida
- houve um tempo em que o mundo
era um muro
com o teu nome escrito - saberás

Cegar é apenas um pretexto
para não te ver
e é quando cego que te vejo melhor.

Agora só quero que a vida me iluda,
não mais o amor
Tenho o pensamento a trabalhar como uma turbina e no coração um turbilhão de sentimentos. Gostava de perceber os homens, o que os move, como funcionam, porque hoje são uma coisa e no dia seguinte coisa diferente.
É mais fácil assim, quando não esperamos grande coisa dos outros, ficamos a bater mal, o coração parece um pêndulo, mas o cérebro começa imediatamente a fazer a limpeza do disco.
Também gostava de entender o meu coração, o porquê de certas coisas para as quais não tenho explicação e das quais não me consigo libertar. Há sentimentos que filtramos, instalam-se, ocupam o seu espaço e, ainda que os consigamos compactar, por de quarentena, não os conseguimos eleminar! Vivem lado a lado com a nossa vida, mas do lado de dentro! E emitem sensações permanentes, às vezes de tristeza, por vezes de falta e solidão e outras vezes estonteiam-nos, faze-nos levantar voo, viajar, até batermos com a cabeça na realidade e regressarmos ao rame rame habitual. E lá voltam para a quarentena!
Está um frio terrível e tenho de ir às compras. A vida continua, go on.
Neste momento não estou com clareza suficiente para perceber o que me aconteceu! Sei que ontem me deitei muito cedo mas dormi mal. Acordei diversas vezes durante a noite, vinha fumar um cigarro, deitava-me, levantava-me e vinha fumar um cigarro. De manhã peguei no sono e não consegui ir trabalhar, dormi. Durante o resto do dia, a minha cabeça não funcionava e não fui trabalhar! Quando falei com ele comecei a filosofar, a filosofar e penso que acabei tudo. Não tenho bem a certeza, mas penso que sim! Sei que ficou uma brecha, mas dificilmente haverá continuidade. Duas horas depois tinha aqui duas amigas a jantar comigo, bebemos uns copos e fomos a um bar. Porque hoje, a última coisa que queria era ficar sózinha. Agora estou sozinha. Já falei tanto sobre o assunto que quero pensar e não consigo. O que foi que aconteceu? Ele deixou de corresponder às minhas expectativas. Terei eu deixado de corresponder às dele? Possívelmente. A paixão finou. A paixão é coisa breve, dizem que dura, no máximo, seis meses. Deve ter atingido o período de durabilidade, digo eu que me sinto sem sono, mas demasido cansada para fazer a devida análise. Dizem que eu fui precipitada. Talvez tenha sido! Assumo que o meu orgulho excede todos os limites da razoabilidade, mas não fui eu que quis acabar a relação. Seria demasiado convencida e arrogante se assim o entendesse. Penso que ele quis que eu o fizesse para lhe facilitar a vida. Não sei! estou convicta que sim, por razões que ora não direi.
Sinto-me angustiada, mas nem uma lágrima, nem a filha da mãe de uma lágrima! Não vou dizer que ele foi uma paixão de me arrebatar - talvez não volte a ter paixões de me tirarem o sono e de me fazerem perder o juízo!- mas foi a pessoa que me fez mais feliz nos últimos anos, que me deu maior tranquilidade e os momentos mais maravilhosos. Bem sei que me senti sempre, inexplicavelmente, incompleta! Como se um lado do meu coração estivesse preenchido e o outro vazio, com uma fenda insuperável! Serei eu demasido orgulhosa, demasiado racional ou demasido sonhadora? E porquê esta questão? Quando quebram as expectativas corto o mal pela raíz quase imediatamente. Faço-o por orgulho e porque assim que me defendo de um maior sofrimento que advenha futuramente. Ajo racionalmente, porque analiso e concluo e tento não me deixar levar pelas emoções (o orgulho dificilmente mo permitiria - só uma grande paixão ou um grande amor me quebra o orgulho). E na hora de por o ponto final coloco-o. E assim é porque sonho, e o meu sonho não se basta com o prosaico, com o mediano, com o banal, com o monótono, com o mediocre. Isso é a realidade. E não sei como conciliar o sonho e a realidade! Sinto-me tão triste! Não sei se com a vida, se comigo mesma!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

DESABAFOS


Os homens não merecem um corno, quanto mais um par!
Chateei-me com o namorado.
Blá, blá, blá...
Conforme falo aqui, assim falo com toda a gente. Digo o que sinto, o que penso e tretas são tretas aqui e em todo o lado. E de tretas andamos nós cheios. E não quero tretas no coração!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

DESABAFOS

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Acontecem-me coisas estranhas e praticamente irreais! Por vezes até fico a bater mal! Mexem-me com os nervos!
Há um ano atrás, mais coisa menos coisa, comecei a receber mensagens anónimas e fotografias no telémovel, da janela onde fumo, dos pombos a que dou de comer, poemas, declarações de amor e o diabo a quatro. Depois comecei a ser perseguida para todo o lado por um vizinho do meu prédio. Quando ia com o cão a rua lá estava ele! Quando ia às compras lá estava ele, para me ajudar a carregar os sacos. Quando chegava do trabalho lá estava ele, para me abrir a porta e subir comigo no elevador! Quando começaram os telefonemas consegui identificar a voz, devido às subidas e descidas conjuntas nos elevadores. Ameacei o individuo, ao telefone, que faria queixa se as mensagens e os telefonemas continuassem. Certo é que, foram escasseando até que pararam. Mas ele, o vizinho, continuou a aparecer em todo o lado, e trocavamos breves diálogos, como sempre o faziamos, desde que vim morar para aqui há sete anos . Sempre fingi que não sabia que um e o outro eram a mesma pessoa e ele nunca se descaiu. Nos últimos tempos, como me tem visto acompanhada, a coisa melhorou.
Há minutos atrás fui com o cão à rua e apareceu-me o sujeito. Apróximou-se e perguntou-me se tenho andado bem, respondi que sim e perguntei-lhe como é que ele andava.
- Podia estar melhor. - Respondeu. - Aliás, nós poderiamos estar melhor.
- Acredito que sim, se nos saísse o euromilhões. - Disse-lhe eu.
- E o que faria se lhe saísse o euromilhões? O que faria com o dinheiro?- Questionou.
- Ia à Ilha de Páscoa. - Respondi.
- A sério? Porquê a Ilha de Páscoa? - Quis saber enquanto iamos andando e o meu cão na sua vida.
- Para ver todo aquele mistério bem de perto. - Disse-lhe eu.
- Não sei porquê! Não desvenda o mistério que tem á sua frente, tão perto, como quer desvendar o mistério lá tão longe?!- Disse num tom estranho.- Sabe qual é a distância maior para o ser humano?
- A do conhecimento do próprio ser humano?
- Boa resposta, interliga-se, mas não. É aquela que vai de nós, áquilo que temos mesmo à frente dos olhos e não queremos ver. - Disse ele.
A seguir perguntou-me:
- Tem algum problema com o seu filho? Ele já não passa os fins-de-semana consigo? Ele agora já quase não está consigo, não é verdade?
Fui acelerando o passo o mais que pude.
- Eu também já quase não passo aqui os fins-de-semana.- Disse eu.
- Ele é rebelde não é? Diga-me, a quem é que ele sai? Sai à mãe não é?
Apressei-me.
- Espere. - Pediu de repente com um ar meio transtornado. - Diga-me uma coisa, teve algum problema na semana imediatamente a seguir ao Natal? Naqueles dias logo a seguir?
- Não, nenhum! Ora essa, passei uns dias maravilhosos. Mas porque pergunta?
Enquanto isso ele puxou o elevador e entramos. Eu mal respirava! Ele tinha um ar tão esgaseado!
- Tive uma intuição muito grande naqueles dias, que me tirou o sono. Fiquei transtornado! - Disse ele.
De repente a porta a abrir-se, que alívio!
- A sério... - disse ele ainda. - Uma intuição muito forte que algo de muito mau lhe havia acontecido. Tenho andado muito perturbado com isso! Mas se diz que não... só espero que não vá acontecer ainda... tenho uma intuição muito má!
Meti a chave à porta, exclamei: "Por amor de Deus!" e entrei.
O homem é louco! Cada vez que vou à janela fumar um cigarro ele aparece lá embaixo a olhar cá para cima. Ainda agora saiu quando eu saí e entrou quando eu entrei, a única coisa que fez foi acompanhar-me na volta com o cão. Eu nunca vou a uma hora certa, como sabia ele que eu ia a sair? Há dias o meu namorado disse-me que o encontra à porta sempre que chega!
Este homem é professor de português numa escola secundária aqui perto, mas tem algum problema do foro psicológico! Digo eu, pois há um ano que é um verdadeiro fantasma na minha vida. Houve uma altura que me enviava mensagens em poesia muito bonitas, depois começou a evoluir para o erotismo, quando o ameacei enveredou pela fatalidade. Durante vários meses, este homem, fez da minha vida um inferno! Andava assustada. Mas depois percebi que era apenas um homem obsecado. Hoje deixou-me constrangida! Será agoiro?!

Eu não acredito! Fui agora mesmo- Interrompi o texto - fumar um cigarro à janela, e lá estava ele embaixo, na rua, a olhar para mim! Por Zeus! O homem tira-me do sério! Conseguiu arruinar-me a noite! Parece um Thriller!

SENTADA OU DE PÉ?


Recebi um email que diz o seguinte: "Dizem que tudo o que estamos à procura, também nos procura a nós e que, se ficarmos quietos nos encontrará. É algo que já espera por nós há muito tempo. E quando chegar, não te movas. Descansa. E verás o que acontece a seguir."
Deverei ficar quieta para o resto da minha vida? Será que, aquilo por que tenho esperado toda a minha vida, nunca me encontrou por ser irrequieta? Estou que sim! Se encontrarem por aí uma estátua parecida comigo, não estranhem, sou eu mesma. Sei agora que só tenho de ficar imóvel para que as coisas cheguem a mim. E eu que tenho trabalhado tanto! O amor também chegará a nós se ficarmos quietos? Ora, ficando um quieto e o outro quieto ficando, ambos à espera, como haverão de se encontrar? Sei agora porque o "homem ideal" jámais me chegará: ou porque mexe demais ou porque estará algures, longinquamente, num lugar desconhecido, à espera que eu o encontre!

Está tudo explicado! Não descobri o segredo, mas acabo de desvendar o mistério!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

COISAS AINDA MAIS PARVAS QUE TROCADILHOS PARVOS


Vagueio pelas palavras como quem vagueia por uma cidade deserta e silenciosa. Não sei bem o que escrever, como quem não sabe que rua seguir ou que estrada atravessar. A pontuação assemelha-se a sinais de trânsito desnecessários e dispensáveis. Sigo, lentamente e sem a pressão das horas ou a marcha dos ponteiros, inertes, algures, na igreja, catedral ou relógio de sala, abandondas. Posso atrasar-me nas silabas, inverter o sentido das frases, correr por entre as consoantes, ignorar o significado e a ordem das palavras. Digo que as ruas estão vazias e dentro de mim crescem dúvidas como ervas. Depois direi que o que digo é um descampado, qualquer coisa que não chega a ser senão uma pretensão miudinha de chegar ao ponto. Ao ponto redondinho, ao ponto mais perfeito, áquele ponto que encerra todas as coisas. Já atropelei inúmeras interrogações, esbarrei com algumas exclamações e deparo com muitas reticências. Comecei por vaguear e dou por mim entre aspas! Presa nas palavras que não sabem dizer o que dizer.

A VIDA É INJUSTA?


- Eu até tenho vergonha de contar algumas coisas! Sabe como é que foi o meu casamento? - Disse-me ela desolada. - Ele apareceu-me inesperadamente à porta do trabalho e disse-me que tinha de ir com ele a um sítio. Não me disse qual era o sítio, disse apenas que era um assunto importante a tratar. Levou-me à conservatória. Assinamos os papeis e pronto, estavamos casados! Depois regressamos ao trabalho! Nem uma flor, nem um almoço, nem um lanche! Mas que fiz eu da minha vida?!
- Eis um homem que sabe perfeitamente que os dias infelizes não são para festejar! - Comentei.
Ela olhou para mim, perplexa, e só uns segundos depois desatou a rir.

PENSAMENTOS DISPERSOS


- Este homem nunca me ofereceu uma flor! Nunca! - Disse-me ela desolada.
- Mas aposto que a levou a um jardim. - Disse-lhe eu.
- Também não! É de uma insensibilidade que não tem explicação!- Afirmou com a mão no peito.
- De facto... que calhau! - Observei.

As mulheres precisam de romantismo como um alimento para o amor. Para uma mulher, um amor sem romantismo, é um amor que sofre de uma invalidez permanente. Já os homens, vivem o lado mais prático da vida. Usam o romantismo no auge da paixão ou simplesmente como arma de conquista, depois é o tudo ou sopas - sem sal!
As mulheres não deixam de amar um homem porque este não é romantico. Porém, criam sonhos para as ajudar a suportar a frieza masculina. De facto, os homens são muito pouco sensíveis ás coisas do coração. Ora, se a natureza das mulheres é a eloquência e a paixão mas conseguem viver com a constante frieza masculina, não poderiam os homens viver com um pouco mais de ternura e de romantismo? Não deveria haver um equilíbrio de esforços? Não seriamos todos mais felizes? Ah! Mas que sei eu?.. Não me dêem flores que eu só preciso de prosa e de poesia!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

DIVAGAÇÕES

Olhando bem para esta imagem, tirada na minha terra, à tardinha, poderia pensar-se que é a lua e umas quantas estrelitas. Mas não! Caíam escassos e grossos pingos de chuva sobre mim e sobre a objetiva, e deu nisto! A realidade é o que eu quiser. Tenho a lua na minha fotografia, circundada de estrelitas e ninguém mas pode tirar. Afinal, por vezes, somos nós que fazemos a nosa realidade. Eu gosto da chuva, mas gosto mais da lua e, gosto das estrelas por companhia, mesmo daquelas que invento.
Estou exausta! Não gosto das segundas-feiras! Não sei se é apenas por assim se chamarem ou porque eu assim não gosto! Estou muito cansada! Não sei se é por ser segunda-feira, se é pelo facto de ter passado 6H30 fechada numa sala a tentarmos um acordo com um casal que nutre sublime e profundo ódio entre si. O ódio cansa qualquer ser humano! Odiar é uma trabalheira, e cuidar do ódio é um desgaste! Há quem se empenhe cuidadosamente em polir os seus ódios. Penso que é porque não sabem apreciar paisagens em dias de chuva, não conseguem ver a lua e, muito menos, vislumbrar a mais pequena estrela. Limpar um ódio é uma verdadeira obra prima e a tentativa, só por si, já tem merecimento. Cansei-me! Penso que, inutilmente. "Se pudesse, eu cortava-o aos bocadinhos e guisava-o numa frigideira.!" Disse-me ela, entre dentes. Por Zeus! Não seria melhor comê-lo inteiro, cru e à mão? Quiz perguntar-lhe. Mas é preciso ter compostura!
Não sei se me sinto cansada, se frustrada! Os ódios são verdadeiras paixões voltadas ao contrário, digo eu, que nunca tive nenhum ódio, mas já tive paixões de me fazerem virar a vida do avesso, como fazerem-me ver a lua onde apenas existe uma mancha. Mas isso sou eu, que sou capaz de ver um fantasma onde nem sequer existe uma sombra!
Há dias, uma amiga, cuja namorado a abandonou, disse-me "Preferia que ele tivesse morrido do que me tivesse deixado." Só quem ouve e sente a força do vento com que tais palavras são expelidas dos lábios magoados, compreende a sincera intensidade de um ódio. Senti um arrepio, um estranho abalo a percorrer-me o corpo, quando lhe pedi para não dizer isso e ela o repetiu com lágrimas nos olhos e um brilho diabólico! Há ódios tão grandes que chegam a transtornar a vida daqueles que os sentem. Tornam-se tão obsecados que levam anos para os superar e deixam um rasto de amargura do passado ao presente. Julgo que o presente dessas pessoas, seja ele qual for, nunca estará limpo. Porque odiar é, também, uma forma de vida. Passam do amor ao ódio com facilidade. Habituam-se! Digo eu, que sou virgem, mas só no que diz respeito aos ódios.

domingo, 16 de janeiro de 2011

COISAS PARVAS


Há horas que estou para aqui a analisar o meu mapa astral, as minhas caracteristicas pessoalíssimas, as previsões para este novo ano e claro, a compatibilidade amorosa.
Sou leão e o meu ascendente é sagitário. Ambos são signos de fogo, deve ser por isso que tenho a alma sempre a arder!...
Bem... tenho de ir buscar o puto a casa da avó. Acabou-se a boa-vida!

PENSAMENTOS DISPERSOS


Quero dizer-te que já fui triste, que já me senti como um prédio inacabado, de betão frio, alicerces à mostra, janelas escancaradas, um prédio abandonado, despojado de todas as coisas como um espectro, um prédio clandestino e isolado. Quero dizer-te que já fui triste como uma corrente fria, invernosa e congelante. Já fui triste como uma pétala seca, guardada e esquecida num livro antigo, numa velha estante.
Quero dizer-te que já me senti só. Muito só!
"Estou só! Sinto-me tão só! Como se o mundo inteiro à minha volta fosse um filme e eu sózinha na minha sala a olhar para o ecrâ da tv. Desculpa... Acendo um cigarro... uma lágrima no copo, tingida de vinho... Não se ouve a música!... é tarde... preciso do silêncio e de um terço dos teus sonhos. Leva-me contigo..." Escrevi eu a um amigo no dia 8 de Outubro de 2008. Quero dizer-te que a minha solidão já fez marcas e mágoas profundas, nos outros e em mim, que a minha tristeza já foi pecado.
Quero dizer-te que já fui triste e só e criei o sonho para me alimentar.
"Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. - Pablo Neruda.
Fui triste e só durante muito tempo, o sonho por companhia nos meus olhos infinitos onde esculpia ternuras.
Quero, então, dizer-te como diz Fernando Tucori:
"Não pense. Se você pensar demais, vai acabar encontrando um bilhão de motivos pra não amar.
Se você não pensar - porque o único motivo para amar não pensa - se você apenas disser "e se eu querê?"... Esta lá a flor - a mais linda flor do mundo - cravada na beira de um abismo aterrador. Você vai lá e colhe a flor e alguém te diz "e o abismo?" e você responde "que abismo?
A única coisa que eu sei dizer é que existe a possibilidade de você dar tudo que tem e ficar com mais do que já tinha..."
Eu já fui triste e só...
E para ser feliz só precisei de um bocadinho de terra, de sonho e de céu.

sábado, 15 de janeiro de 2011

TROCADILHOS PARVOS


O amor é uma prisão sem condicional. Vamos de prisão em prisão para que a pena se cumpra. Tenho pena quando não se cumpre o amor e mesmo assim cumprimos pena. O cúmulo das penas é sempre inferior ao somatório dos totais, quando há duas penas a cumprir devendo cumprir-se apenas uma. Há prisões de qualidade onde queremos permanecer. A pena tende a ser mais extensa no tempo e mais fácil de cumprir. Dizem que há penas perpétuas. Eu não sei. Cumpro as minhas penas, às vezes com pena das penas que não cumpri.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A VIDA É INJUSTA

Ainda o meu Norte.
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Ontem ligou-me um dos meus grandes amigos de longa data. Era amigo de infância do meu ex-marido e do meu cunhado, hoje não tem qualquer ligação com eles, mas a nossa amizade cresceu muito ao longo dos anos. Está casado e é dos poucos homens a quem sempre ouvi dizer que decidida e definitavamente era feliz e para sempre. Tinha um casamento muito harmonioso.
Há largos meses que não falavamos.
- Quero-te convidar para almoçar. - Disse-me ele.
- Passa-se alguma coisa? - Perguntei.
- Não, nada. Não se passa nada. - Respondeu.
- Ah! Por momentos fiquei a pensar... e então, diz-me lá, como é que estás?
- Vou indo...
- Vais indo!? Isso é resposta que me dês!
- Sabes, a felicidade não é eterna. A felicidade também se gasta.
- Eu logo vi que se passa alguma coisa! - Afirmei.
- Não. O problema é que não se passa rigorosamente nada! Nada de nada! Preciso de passar um pouco de tempo contigo para perceber que estou vivo.
- Então, vamos almoçar.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

COISAS PARVAS

O meu Norte
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Há pouco, comecei a receber mensagens de uma amiga. Não percebia nada do teor! Só percebia "tentou violar-me" e o caraças! O melhor é vires até cá contar-me a história, disse-lhe eu. Chorava que nem uma uma doida e o caraças. Anda. E veio. Então pusemo-nos a violar uma garrafa de whisky que estava ali, completamente virgem, na minha garrafeira, enquanto ela me contava como o futuro ex-marido lhe havia tentado saltar para cima mesmo em cima do sofá da sala da futura ex-casa. E deu numa conversa depressiva que me deixou parva como ora se pode confirmar.
Indo ela embora e ficando eu sozinha de garrafa na mão a pensar como a vida é uma encruzilhada de acontecimentos, sentimentos e soluços, dou por mim no facebook, cujo aproveitamento ou finalidade ainda não descobri, desde que o criei (pela 2ª vez) há duas semanas atrás (porque ele me disse que quem não tem facebook, nos dias de hoje, é como quem não sabe ler!), mas enganei-me, inocentemente, confesso por ser verdade, e deparo com uma conversa no chat, do puto, está claro! A gaja é boa. Tem uns olhos lindos mas não gosto do nariz. Gostava mais quando tinha o cabelo cor de laranja. E o caraças! Coisas que não posso mencionar aqui, porquanto, não me ficam nada bem.
Bem sei! Há muito que não digo nada de jeito! Há muito que perdi a inspiração! Tanta coisa que gostaria de escrever, de dizer! Que saudades das palavras intensas, a pupularem no peito e nos dedos! Mas a tranquilidade que habita em mim, é mais branca ainda do que todas as páginas brancas onde guardo histórias e que junto sobre a secretária.
Ando a fazer um trabalho sobre a degradação das relações conjugais, que me tem obrigado a reflectir, a ler e a fazer uma pesquisa intensa. E quanta coisa espectacular eu teria a escrever sobre o assunto, se tempo houvesse! Hoje levei a tarde a ler sobre a psicologia da paixão, os mecanismos emotivos e fisiológicos que lhe servem de suporte, o platonismo, a química que os alimenta e os elementos que levam à sua morte, à desilusão, à queda das estrelas. Comprometi-me a entregá-lo até sexta-feira, até lá estarei embriegada de textos absolutamente espantosos. Aproveito para aprender a lidar com os meus próprios sentimentos, as minhas relações e a enriquecer a ambos. Tenho tido vivências e conversas espantosas com os meus amigos, mas tem-me faltado a inspiração para escrever.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

HAI-KAI

A minha terra à tardinha
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Hoje
eu e o meu cão
fazemos serão.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

COISAS PARVAS

Esta também é minha.

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Detesto as segundas-feiras!

domingo, 9 de janeiro de 2011

TWIN SHADOW - FORGET

Twin Shadow - Forget (2010)
Este álbum é muito bom. Vai-me acompanhar por muito tempo.

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Junip - Fields (2010)
Mais um álbum delicioso. 
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Scarlet Youth - Goodbye Doesn't Mean I'm Gone (2010)



The Hundred In The Hands - The Hundred In The Hands (2010)


Woodland Choir - Serenity Rise (2010)



 

SALTER CANE E AZURE RAY DOIS ÁLBUNS DELICIOSOS

Salter Cane - Sorrow (2010)

Azure Ray - Drawing Down The Moon (2010)


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A CANTAROLAR

Esta é minha, tirada lá na minha terra.
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"Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!" - João Pereira Coutinho, jornalista.

Há muitos anos que não sentia a felicidade como hoje a sinto.
- Eras tu que andavas a cantarolar?- Perguntou-me a amiga e colega do escritório.
- Sim.- Respondi.- Faço-o inconscientemente! Desculpa se te perturba.
- Não.- Disse ela.- Eu gosto, até abro a porta do meu gabinete para te ouvir. Cantas mal, mas dá prazer ouvir-te, sentir essa alegria de viver!... Há muito que não sei o que isso é. Nem sei se alguma vez soube verdadeiramente! Vivo quase sempre tão angustiada!...
Eu não! Mesmo quando as coisas correm muito mal, encontro sempre algo que me alegre, que me ponha os olhos a brilhar. E até sei muito bem disfarçar sorrisos e tocar o burro para a frente quando o burro sou eu e a porrada me cai no lombo.
Mas ando mesmo feliz. Sempre disse que o amor me faz falta, não um amor qualquer, mas um amor que se entranhe e respire por todos os poros. Sempre disse que o amor torna a vida mais bonita e faz das pessoas mais pessoas. Um amor que nos faça acordar a sorrir e nos ponha a cantarolar até no local de trabalho.
Ontem apresentei o meu namorado ao meu filho. foi um momento estranho e engraçada. Desde que me separei, já tive alguns casos e alguns namorados, mas foi o primeiro do qual dei conhecimento ao meu filho.

Cerca da 1H00 da manhã estavamos nós na praia, só havia um bar aberto e meia duzia de pescadores, a noite estava escura mas bonita. Ele abriu a porta do carro, aumentou o som do aparelho e dançamos. Melhor dizendo, esteve a ensinar-me a dançar kizomba. Não aprendi, mas foi um fartote de riso. Divertimo-nos muito. Possivelmente os pescadores estariam a pensar que ou eramos loucos ou apaixonados, ou ambas as coisas!

O amor acresce vida à minha vida. Faz das minhas fragilidades força. Rejuvenesce-me. Reforça todas as minhas capacidades. Faz-me rir. Põe-me tola e infantil. O amor dá-me encanto e felicidade. Não é apenas o amor que me dá felicidade, mas o amor permite-me ver todas as outras coisas e todas as outras felicidades mais intensamente. O amor ajuda-me a valorizar os bens, as pessoas e os acontecimentos, a ver, a sentir e a viver, nas diferentes perpectivas, dos diferentes angulos, da superficie ao mais fundo dos canais.
Sinto gratidão por este amor inesperado, inexplicável e maravilhoso que me tem vindo a acontecer!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

EM FRENTE




Já estou em casa. Depois de dez dias maravilhosos e de uma longa viagem sempre dentro de um intenso nevoeiro. Só amanhã é que vou ver o meu filho. E ainda não sei quando vou ver o meu amor, pois vinha eu para baixo e ia ele para cima. Já tenho muitas saudades de ambos.
Tirei fotos maravilhosas. Digo eu, que sou suspeita! Estive a fazer um petisco com folar, queijo de ovelha, presunto, salpicão, milho doce e vinho verde (sozinha, enfim!... melhor do que mal acompanhada), enquanto via o filme "As Horas.". Gostei muito, do petisco e do filme. Ora, há cerca de dois meses, fui fazer um trabalho na baixa de Lisboa e, como sempre, aproveitei para entrar num alfarrabista. Por acaso, comprei o livro "As Horas" de Michael Cunningham, que não cheguei a ler e que tenho emprestado. Certo é que, depois de ter visto o filme, fiquei em pulgas para ler o livro. Mas são tantos os livros que tenho para ler! É que, tenho por hábito, desde miúda, comprar livros. Sucede que, actualmente, não disponho de muito tempo para dedicar à leitura. Este Natal ofereceram-me esses três aí acima. Por qual comecar?

Sinto uma profunda tranquilidade! No primeiro dia do ano acordei com um sorriso desenhado no rosto, um bem-estar maravilhoso e uma serenidade perfeita (e não tinha ressaca!!!)! Hoje fiz a viagem de rajada, só demorei cinco horas e dois minutos, com paragem em Aveiras para comer, passear o cão e fumar um cigarrito. sempre a sonhar e a sorrir. E ao contrário do que é habitual, estou com vontade de iniciar o trabalho!

Agora vou com o meu tobias à rua. Está um nevoeiro de cortar à dentada, mas tem de ser. Depois vou beber mais um copito, ver mais um filme, porque é a última noite de férias que tenho para desfrutar.
"É preciso encarar a vida de frente." Mas não para depois se poder por de lado. Mas sim para se poder viver com prazer..