terça-feira, 26 de maio de 2009

O TEMPO HOJE

Foto: "Repouso"
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O tempo tudo amaina, tudo consome, tudo reveste. O tempo encarrega-se de substituir os temporais. Porque a vida, sem temporais, é um profundo aborrecimento. Passo a passo, o tempo nos leva, o tempo nos traz, os sinais que quase sempre costumamos contornar ou ignorar.
Há alturas em que damos por nós servidos de uma quietude - provisória, semelhante a um vulcão adormecido - em que o coração presta contas à razão. Lá se vai o tempo em que amamos sem pedagogia! O melhor é poupar-mo-nos ao embaraço de (tentar) perceber todos os crónicos problemas sentimentais que nos arrastam tanto tempo para, afinal, chegarmos novamente: ao ponto/tempo de partida! Ainda bem que todo o Homem é tolerante consigo mesmo.
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Your desert`s not a desert at all - Pela

sexta-feira, 22 de maio de 2009

NÃO QUERO AMAR AUSÊNCIAS...


Foto: "A natureza não conhece prisões"
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"Não quero amar ausências... sou inteiro nos apegos... não te assustes se, de repente, sentires o meu coração vazio de ti."
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Como se as emoções fossem despejadas à força de tanta ausência e já não tivessem provisão ou cobertura para subsistirem... Porque tudo tem um preço, símbólico ou não. Mas o amor não se compadece com simbolismos, precisa de um lar para habitar. O amor precisa do amor. É por falta de amor que o amor muda tantas vezes de casa.
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Scoudrel Days - Aha

quarta-feira, 20 de maio de 2009

BESAME MUCHO


"Cuida dos teus amores, porque embora eles sejam para sempre, eles não vão estar sempre contigo."
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Por vezes, é tarde. O dia ainda não escureceu. A vida ainda não acabou. Há muito tempo para desfrutar. Há muita coisa por fazer. Porém, já é tarde. A oportunidade foi-se. Irrecuperávelmente. E só damos conta que é tarde tardiamente. As razões são várias, mas essencialmente porque descuramos aquilo que é mais importante: cuidar dos nossos amores. Pensamos sempre que são para sempre, mas nem sempre o são. E mesmo aqueles que o são, um dia, já eram.

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Morning Song - Zero 7

O PODER DA SEDUÇÃO


- Ela é uma mulher com bom aspecto, tem uma grande conversa, fala muito bem, sabe enrolar... e enrolou-me. - Suspirou, os ombros descaídos, as mãos entrelaçadas uma na outra, ar grave. - Emprestei-lhe € 10.000,00 há três meses. Agora desapareceu. Desconheço o paradeiro dela!
- Hummm!... Que chatice!!! Mas diga-me, os € 10.000,00 valeram a pena?
- Não lhe escapa nada! - Comentou entre dentes, a olhar para o chão como um garoto apanhado a comer o doce antes do jantar.
- Escapa-me muita coisa, acredite.
- Tenho mesmo de responder?
- Só responde se quiser, não é obrigado.
- Está bem... valeram. Valeram... - Respondeu com aqueles olhitos a brilharem.
- Então, dadas as circunstâncias, o melhor é começar, desde já, a considerar-se ressarsido.
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Quando se testa primeiro a textura do material e só depois as qualidades do mesmo, podem acontecer situações destas.
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No Place To Fall - The little Willies

segunda-feira, 18 de maio de 2009

PENSAMENTOS DISPERSOS


Sou uma pessoa de hábitos estranhos! Dizem.

Mas o hábito mais estranho que tenho, talvez seja o de sonhar! Sonho muito, a qualquer hora, em qualquer lugar. Não se trata daquela coisa: Eu tenho um sonho - quero ser empresária, ou quero tirar um curso, casar, ter um filho... não. Sonho! Invento situações, factos, conversas, coisas, e vivo-as na minha imaginação. Sonho sempre antes de adormecer! São os meus filmes, sempre inacabados!

Conheci um fulano que me disse sonhar muito. Perguntei-lhe o que queria dizer e disse-me exatamente isto que eu disse.
Há tempos perguntei a um amigo: "Os homens também sonham?" E ele respondeu-me que sim. Não me lembro se chegou a esclarecer-me quanto ao assunto pois eu já tinha bebido demais. Possivelmente nem lhe teria perguntado, não fosse isso.

A minha questão é: As pessoas sonham? Assim, desta forma... quase ridícula, senão mesmo, ridícula?! Porque isso me inquieta, no sentido de me intrigar: Não seja uma psicose ou qualquer anomalia, pus a questão ao meu filho, dado que já tem 15 anos... "Sim" - Respondeu-me. - "Sonho muito:"
"Mas, diz-me... sonhas como? Inventas coisas, factos, situações, diálogos, locais, histórias que tu próprio vives?..." - Questionei. - "Claro. Estou sempre a inventar situações nos meus sonhos." - Respondeu-me.
Ainda assim... não sosseguei. Ele é meu filho, pode ser uma questão genética!... E se os outros não sonham assim? E se isto for um hábito estranho?! Continuo sem resposta.

Claro que o que sonho nunca me acontece! Mas isso não me preocupa. O que me preocupa é acontecer-me o que estou longe de sonhar! O acaso, o imprevísivel, o inesperado! O inesperado... aquilo sobre o qual não temos controlo! As emoções... apaixonadas, vivas, reais!


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Wich Will - Nick Drake

domingo, 17 de maio de 2009

NUMA FASE ARTÍSTICA


Não tenho tido inspiração alguma para escrever. Na verdade tenho andado mais entretida com a fotografia do que com a escrita.
Tenho por hábito colocar sempre uma imagem em cada post, pois a partir de agora as imagens que colocar são criadas por mim a partir de fotografias que eu própria tiro, isto é, enquanto tiver paciência para a criação.

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Beyond Here Lies Nothin - Bob Dylan

quarta-feira, 13 de maio de 2009

PERDI A PACIÊNCIA


O português que se orgulha de o ser compra o que é caro, esfarrapa o dinheiro em coisas que bem podiam ser adiadas e depois telefona a dizer que não pode pagar a factura porque está teso.
- Então?... Estava à espera que me depositasse... e nada!...
- Ai, pois é, mas não tenho dinheiro, isto anda mal...
- Não me diga que o homem não cumpriu o acordo! Então ele não pagou conforme acordamos?
- Ah, pagou, sim, ele já pagou, mas sabe... troquei umas mobílias, aproveitei e pintei a casa... havia de ver, ficou de meter inveja!... Mas isto vai mal... Assim que puder já lhe pago algum por conta... da conta que lhe devo.

FODA-SE! Devo ser a gaja mais estúpida neste planeta! Há três anos que ando a trabalhar com esta pessoa, sem receber, sempre com muita pena das condições económicas da mesma. Consigo que receba uma bela quantia e gasta tudo antes de prestar contas comigo!
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SÓ NÃO APRENDE QUEM É BURRO!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

SOB ESCUTA

Morrissey - Years Of Refusal (2009)

Cats On Fire - Our Temperence Moviment (2009)

Burning Hearts - Aboa Sleeping (2009)



I Monster - A Dense Swarm Of Ancient Stars (2009)

domingo, 10 de maio de 2009

SEM OUTRO ASSUNTO DE MOMENTO


A sexta-feira foi um dia surpreendentemente bonito. Daqueles dias que, não ficam para sempre na memória, mas ajudam a mantêr o pensamento com cores claras e muita luz. Há tempos inscrevi-me num pequeno curso que iria decorrer em Coímbra e fiquei muito desanimada quando, na quinta-feira, me disseram que não tive vaga. Mas na manhã de sexta tive um resultado brilhante num trabalho onde esperava o pior. Mais do que mérito, foi um verdadeiro golpe de sorte. Mas a sorte sabe muito bem e todos nós merecemos ser, de vez em quando, contemplados por ela, para, enfim, a vida não caír em descrédito. À tarde aconteceu uma pequena e deliciosa brincadeira do destino. Ao final do dia andava eu então, nas nuvéns, a assobiar, qual cigarra feliz e despreocupada, por qualquer razão meto a mão na bolsa de uma mala que não usava há mais de um mês e encontro-me com € 50,00 que por lá andavam esquecidos. Porreiro pá! Não sendo uma fortuna, é um sinal evidente que o saldo do dia estava milionário.
Ora, depois de um dia assim e ainda por cima com o fim-de-semana à porta, os sinos tocam dentro da cabeça. E tocam, e tocam... "Do you love me?" - Agora, no meio disto tudo, veio-me ao pensamento aquela do Nick Cave... ora vamos lá ouvi-la, deixa-me cá procurá-la... pronto, já está.
Pasmaceirento, no entanto, foi todo o fim-de-semana cuja chuva estragou os meus planos de estrear um biquini acabado de comprar. Nem tudo pode correr de feição!
Na verdade, estou para aqui a matar o tempo, a escrever o que me vem à cabeça, porquanto, estou sem sono. Dois dias a dormir até às 12H00, está bom de ver que a noite vai ser longa até estrelar! Mas bem, vou-me esticar porque bem cedo vai cantar o galo.

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Songs From The Wood - Jetro Tull




quinta-feira, 7 de maio de 2009

O SENTIDO DAS PALAVRAS


Esta manhã, quando fui levar o puto à escola, comecei a entreter o tempo com conversa.
- Ontem o teu amigo M. estava bastante divertido. - Disse-lhe. Porque ontem havia estado a observá-lo ao computador, enquanto falava com alguns amigos e amigas em alta voz.
- Sim, estava divertido porque estava "mamado" - Respondeu a rir.
- Disseste marado? - Perguntei.
- Não. Disse "mamado". - Respondeu.
- "Ma-ma-do"? - Soletrei engasgada - Como assim? Mas ele é tão novinho! Que queres dizer com isso?
- Mãe! Ele já tem 17 anos e a mãe dele deixou.
- A mãe dele deixou?! A mãe dele sabe dessas coisas?! - Eu, cada vez mais confusa!
- Sim, a mãe dele é uma bacana. Foram jantar fora e ela deixou, lá no restaurante. Era por isso que ele estava "mamado", todo contente, a rir que nem um maluco e a dizer parvoíces. - Confirmou o puto.
- Porra!!! Explica-me lá isso melhor! Acho que não estou a perceber nada! - Pedi-lhe completamente baralhada.
- "Mamado" não percebes? Bêbedo. A mãe deixou-o beber e como ele não está habituado estava todo maluco. - Explicou-me finalmente.
- Haaa!!!... - Exclamei surpreendida. - Porra! No meu tempo queria dizer outra coisa... que também deixava um gajo bastante divertido, todo contente, a rir que nem um maluco e a dizer parvoíces!


A evolução das palavras pode gerar más interpretações e situações embaraçosas. Aprendi que quando ouvir conversas de putos eles não estão a dizer o que eu estou a ouvir. Tenho de arranjar um dicionário novo!!!

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True romance - Golden Silvers

quarta-feira, 6 de maio de 2009

NÃO ME IMPORTO


Nos últimos dias tenho andado a pensar e a tentar perceber porque é que a vida, num determinado momento, se torna uma desordem. E não significa, sequer, que se ande em correria ou desalento. Trata-se de uma indiferênça colossal.
Não, não é apatia. Apatia é um estado mórbido, letárgico, nostálgico e depressivo que corresponde a um profundo "tanto faz" e os ombros vão ficando descaídos de tantas vezes se encolherem.
É mesmo indiferênça. Um enorme "não me importo", o pescoço ao alto, o sol a escorrer pela cara e a recolher-se num sorriso. E é também uma ausência.
Não, não é propriamente uma ausência de sentimentos. Os sentimentos manifestam-se graciosamente, com elegância, quase a escorregarem para um estado de contentamento dietético - nem doces nem salgados- a meio pau.
É uma ausência de preocupações, de inquietações, contrariedades e exuberâncias.
É precisamente este estado que provoca a desordem a vários níveis: não fazemos hoje porque podemos fazer amanhã.
Ando a tentar perceber, mas até nem me importo muito com assunto!
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Marble House - The Knife

terça-feira, 5 de maio de 2009

A BELEZA DAS PALAVRAS ESCRITAS


"...
- Por quê que você me convidou?

Lembro dos seios, saltando do decote na minha sala e da vontade que tive de pegá-los, e os ouvidos zumbem ainda mais. Andréa debruça-se na mesa e os seios ficam na minha frente. Neste momento, com aquela mão na minha e aqueles seios ali na minha frente, tudo some ao meu redor e eu mesmo esqueço quem sou. Estou feliz. Andréa puxa o braço e os meus dedos encostam na blusa.

- Não vai dizer, não?

Milhões de besouros cavoucam nos ouvidos e a garganta parece um formigueiro. Mas nem sinto. A mão de Andréa está colada na minha e os seios tocam nos meus dedos. Sinto que não adianta mentir e engulo em seco, desesperado. Se mentir, Andréa saberá e nunca mais verei aqueles seios. Fecho os olhos e pigarreio com força, e peço a Deus que me ajude.

- Foram os seus seios.
...
Andréa dá-me duas rosas e sai do carro sem dizer nada. Abre o portão e não se volta, e também entra sem acenar. Mas não é necessário. Agora, nada mais é necessário. Ser ou não ser, não é mais a questão. A questão é poder ser. E, agora, eu sei que posso."


- Cunha de Leiradella em "A SOLIDÃO DA VERDADE" -
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Our Days In The Sun - Cats On Fire