segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ENQUANTO O COMBÓIO NÃO VEM

Foto: Trás-os-Montes - Rio Tua
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Quero acreditar que tudo faz sentido, até aquilo que não tem sentido nenhum. Há coisas que morreram em mim, como se nunca tivessem sido. E quando me vêm à memória, não me reconheço, sinto-me uma estranha que um dia acampou dentro de mim e partiu sem deixar rasto. Ainda assim, penso que tudo deveria fazer um sentido qualquer, para a vida não se assemelhar a um jogo, a um baralhar de cartas, a um lançar de dados - às vezes a favor outras contra.
Por vezes sou obrigada a concluir que quando encontro o que procuro não encontro nada. Terei de perceber que não adianta procurar. O encontro serve apenas para reafirmar aquilo que já sei por dever de inteligência: não se procura o absurdo. Porém, resta-me uma dúvida: o que é o absurdo? Encontro e vejo, quase de imedito, a imagem a desaparecer num espelho que se embacia, e os pormenores passam a contornos abstractos que só de longe, de muito longe se observam. Possivelmente não procuro nada, apenas não quero desagarrar o desafio que prendi entre os dedos
Às vezes transgrido. Só para por à prova o princípio que nada acontece por acaso. E, por acaso, acontecem-me coisas. Embriago-me, avivo-me, reanimo-me, restituio-me. É só para ver se tudo faz sentido. E depois o constrangimento da percepção do sentido nenhum. Penso que a minha alma ficaria maior se tivesse um blog cor-de-rosa ou falasse de Deus. Sou pequena e acho que nem tudo vale a pena. Paciência! Ele dirá que isto não é filosofia, somente orgulho. E eu direi que sim, um insuportável orgulho que me leva a dizer-lhe que não. Gosto de romãs e não como romãs. Tantos caroços cansam-me. E gosto de o ver comer romãs. Há uma sensualidade inesgotável no modo como ele come romãs. Sou impelida a transgredir por via das romãs. Só para, depois, me poder interrogar se há alguma coisa que faça sentido.
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Oh No - Andrew Bird

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PARA ONDE VAIS?


Para onde correm as lágrimas? Que procuram elas quando correm? Que profundidade atingem? Que sentido procuram? Que história nos contam? Para que servem?
Medir a intensidade das lágrimas levar-nos-á à intensidade de coisa alguma? Lá fora chove de olhos abertos. Cá dentro escuto, de ouvidos embriegados, um silencio escuro. Respiro lentamente um falso sono de esquecimentos. Vêm- me à memória uns braços, abraços e o calor de um peito. Que peito? Que importa isso agora? Um peito forte como uma parede e macio como uma almofada, onde o meu rosto repousa. Sinto a falta. Não é de ninguém. Sinto uma falta, inexplicável, de calor! Estou viva, sólida e em bom estado. E não sei como utilizar esses predicados! Não me lembro como foi que esta solidão se apossou de mim!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

QUE É DE MIM?



Quem me conhece, conhece bem a minha paixão pelo "Asterix"- que está a fazer bodas de prata e o medo que partilho com os Gauleses: que o céu me caia na cabeça. Também, quem bem me conhece, sabe da minha admiração pelo "Peninha", a afinidade que tenho com o pato "Donald", a condescendência para com o "Pateta", a camaradagem com o "Recruta Zero", o parentesco com o "Zé Carioca", a amizade com a "Lulu", os esquemas com os "Irmãos Metralha", a sociedade com o "Mancha Negra", o companheirismo com o "Mikey", a amizade com a "Mafalda" e o idealismo pelo "Super-Man".
A música e a BD acompanhara-me toda a vida.
Alguém se lembra da "Vampirela"? Para quem nunca ouviu falar, era uma BD erótica, bastante interessante, que coleccionei há anos. Gostava sobretudo de copiar, a olho, as imagens. Porque desenhar foi a minha primeira paixão. Era eu bem pequenina e sentava-me a desenhar tudo o que via. Mal sabia escrever! Depois comecei a usar técnicas e fazia disso o maior Hobbie. Comecei também a escrever poemas ridiculos, contos e um romance. Até que dei por mim na faculadade, depois no registo civil, depois na maternidade.
Ainda hoje, muitas vezes, deito-me com estes livros à cabeceira, graças às maravilhoasas colecções que salvaguardei e que, felizmente, o meu filho aprendeu a utilizar sem estragar. Nisso sai à mãe. Os livros são sagrados!
Quando fui à terra, há pouco tempo, acariciei a minha colecção de revistas "Música & Som", a revista portuguesa dos anos 80, que eu assinava e pagava antecipadamente para que nenhum nº falhasse. Faltam algumas, é certo, mas ainda estão lá bastantes.
Também tenho uma considerável coleçcão de livros infantis e uma enorme colecção de cassetes de vídeo infantis, das quais nunca me consegui libertar pelas infindáveis vezes que as vi com o meu filho, já sem saber se era ele ou eu quem mais delirava com aquilo!
Hoje colecciono lágrimas e desgostos pelo ou com o meu filho. Bem sei que a adolescência é uma coisa complicada, o que eu não sabia é que ser mãe de um adolescente poderia ser uma quase tragédia. Ando triste, desgostosa, arrasada e sem saber o que fazer da minha vida! Tenho de parar de chorar, penso. Mas não sei como! Hoje pedi ajuda a um grande amigo meu. Não é nenhum psicólogo, mas é o pai do meu filho. E ele veio. Andou muitos quilómetros para o efeito, mas, como sempre e felizmente, quando envio um SOS ele aparece. Foi uma reunião dificil, mas necessária.
Ando para lá de triste. Hoje estou especialmente infeliz. É o arrastar de uma convivência onde sinto uma quase incapacidade de lidar com a situação! E eu que me julgava uma quase super-mãe ou uma quase super-mulher!!!!...............................................

CANSAÇO


Só eu saberei o que já fui. E nem eu saberei o que serei.
A terra alegra-se quando o sol a espreita.
Veste-se de flores garridas e perfumarias.
Parece doida!
Até inventa borboletas!
Há um cansaço que espreita a minha existência.
Como poderemos caçar borboletas sem aprender a voar?
Eu sabia que era amor porque eu me comovia.


"[...] sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus...como você me doía! - ( Caio Fernando Abreu )"


E depois fiquei exausta.
E distante do que fui.
Antes eu sabia qualquer coisa, hoje não sei nada!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

PALAVRAS PARA QUÊ?

Encontrei por aqui esta foto espantosa.
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For your lover give some time - Richard Hawley

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

DESVARIOS

Foto: "Lua cheia"
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A semana passada, tirei esta foto, da janela da minha cozinha . Bem se vê que a minha máquina é uma murraça. Mas a lua estava lá em cima, redonda e enorme, a apelar para qualquer coisa. Tenho uma janela que dá para a lua. E nem me dou conta que tenho uma máquina incapaz de captar a lua tal como eu a vejo. Da janela, eu via a lua e mesmo que a não visse ela estava lá. Eu podia não ter uma máquina para fotografar a lua. Podia até nem ver a lua e ela continuaria lá. Mas eu podia imaginar a lua tal como ela ali estava, cheia e esbelta, muito mais atraente do que na minha fotografia. Da mesma forma que também posso imaginar uma pessoa.
Da janela da minha cozinha eu olho e já não vejo a lua. Agora invento a lua em frente à minha janela. A lua é como o tempo e como as pessoas. Passam e não ficam! Às vezes voltam, e depois vão-se outra vez!
Abandonei a máquina sobre a mesa da cozinha. Parece que já não me faz falta. Houve um tempo em que se enchia de imagens e de sonhos, que depois apagava. Antes, tive uma máquina que se enchia disso tudo, mas permaneciam, não era possível apagar nada, nem mesmo as imagens desfocadas. Mas agora, podemos apagar tudo num instante!
Porém, se eu não tivesse tirado esta fotografia e não a tivesse gravado, poderia pensar que a lua era uma fantasia. Pois podia!
Já não vejo a lua. Não sei por onde anda. Morre o meu olhar na noite escura enquanto espreito pela janela. Tudo me parece um engano! Tudo! Hoje estou tão lúcida que chego a duvidar de mim própria! E a minha máquina fotográfica parece uma ladra de memórias. E o meu pensamento está tão vazio de imagens que parece uma maré baixa. Respiro angústias que prefiro não confundir com saudades.
Fecho a janela. Vou-me embora. Não tenho os olhos verdadeiramente abertos para ver a lua. Esta lucidez está voltada para dentro. E eu nunca tive fé. Nunca conheci nenhum deus. E tenho medo que o céu me caia na cabeça.
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Soldier On -Richard Hawley


terça-feira, 13 de outubro de 2009

INCERTEZAS

Tenho um atrevimento constante a roer-me o espirito. E uma cobardia permanente a constranger-me a vontade. Sou tão descarada que até o àvontade se envergonha. E tão retraída quanto um pêlo encravado. Isto não vem a propósito e até é estupido, mas tenho de dizê-lo: não me façam ouvir Antony and the Johnsons, não suporto, a voz provoca-me alergia, irritação e até mal estar - ouvi ao longe! Talvez um dia, quem sabe eu aprenda a gostar, tal como aprenda a confrontar este receio exacerbado de arriscar levar uma estalada, um não, uma gargalhada, um gozo, um silêncio, em suma: uma rejeição.
Lembro-me de uma noite, há muitos anos, um amigo desafiou-me a convidar um fulano para sair. Nunca o faria, embora andasse a sonhar com isso. E como quem não arrisca não petisca, eu não queria arriscar, arriscando-me a nunca o petiscar. Mas tal foi a convicção do meu amigo que eu agarrei no telefone e vai daí, convidei o rapazito para sair. Prontamente disse-me que não estava interessado. Desde então, vivo com esse trauma a infectar-me a alma. Se antes já era complicado tomar a iniciativa, a partir daí tornou-se um problema. Ora, não é que não saiba lidar com as rejeições, infelizmente já tive de enfrentar muitas e, devo dizê-lo, não faço dramas. Recupero á velocidade da queda, nem sempre, mas pelo menos tento, sigo em frente, nunca desisto de ser feliz.

A questão é mesmo esta: como enfrentar o desejo de avançar e o medo da reacção alheia? E se o alheio se comportar da mesma forma? Seremos como duas linhas paralelas, sem ponto de encontro! Seremos! Penso que jámais saberei como ultrapassar os meus receios. E também penso no que poderia acontecer... ou não acontecer!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

SEMPRE DIA

Foto: Trás-os -Montes - "Ponte Romana"
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"... soltou-lhe um último olhar. Mandou-lhe um beijo a voar por entre dois dedos esticados, e partiu."
Agora espera - com o coração a fazer tic-tac a um ritmo mais acelerado que o do relógio - o toque do telefone.
É assim quando a paixão começa.
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A frase entre aspas foi plagiada daqui
http://comboioturbulento.blogspot.com/
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Like Treasure - Editors

domingo, 11 de outubro de 2009

PENSAMENTO

Foto: "Contemplação"


O amor é um doce que azeda com o tempo.

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Jihad - Slayer

terça-feira, 6 de outubro de 2009

COM VIVER

Foto: Baía do Seixal


Ela precisava de sentir saudades. Daquelas saudades que enrolam o peito como se fosse papel onde não cabe escrita alguma. Ela precisava de sentir daquelas saudades que nos enchem de um grande silencio onde tudo grita. Só para não se sentir um livro a fechar-se devagar. Para não sentir o cheiro do pó a acomodar-se à sua história.
Tudo é tão previsível que até o inesperado morre no momento seguinte. Tudo o que é novo é acidental e imediatamente suspenso.
Nem sempre a lucidez é vazia de sentimentos. O que lhe falta é cor.
Ela tem um lado diferente, só que está voltado para uma parede branca.

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Just An Ilusion - Imagination