Foto: Trás-os-Montes - Rio Tua
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Quero acreditar que tudo faz sentido, até aquilo que não tem sentido nenhum. Há coisas que morreram em mim, como se nunca tivessem sido. E quando me vêm à memória, não me reconheço, sinto-me uma estranha que um dia acampou dentro de mim e partiu sem deixar rasto. Ainda assim, penso que tudo deveria fazer um sentido qualquer, para a vida não se assemelhar a um jogo, a um baralhar de cartas, a um lançar de dados - às vezes a favor outras contra.
Por vezes sou obrigada a concluir que quando encontro o que procuro não encontro nada. Terei de perceber que não adianta procurar. O encontro serve apenas para reafirmar aquilo que já sei por dever de inteligência: não se procura o absurdo. Porém, resta-me uma dúvida: o que é o absurdo? Encontro e vejo, quase de imedito, a imagem a desaparecer num espelho que se embacia, e os pormenores passam a contornos abstractos que só de longe, de muito longe se observam. Possivelmente não procuro nada, apenas não quero desagarrar o desafio que prendi entre os dedos
Às vezes transgrido. Só para por à prova o princípio que nada acontece por acaso. E, por acaso, acontecem-me coisas. Embriago-me, avivo-me, reanimo-me, restituio-me. É só para ver se tudo faz sentido. E depois o constrangimento da percepção do sentido nenhum. Penso que a minha alma ficaria maior se tivesse um blog cor-de-rosa ou falasse de Deus. Sou pequena e acho que nem tudo vale a pena. Paciência! Ele dirá que isto não é filosofia, somente orgulho. E eu direi que sim, um insuportável orgulho que me leva a dizer-lhe que não. Gosto de romãs e não como romãs. Tantos caroços cansam-me. E gosto de o ver comer romãs. Há uma sensualidade inesgotável no modo como ele come romãs. Sou impelida a transgredir por via das romãs. Só para, depois, me poder interrogar se há alguma coisa que faça sentido.
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Oh No - Andrew Bird