terça-feira, 31 de agosto de 2010

COISAS PESSOAIS







Ontem à noite, antes de me deitar, fiquei a olhar para o meu filho e a perguntar-me como foi possível eu ter feito uma coisa tão bonita! O raio do miudo é mesmo lindo! Digo isto, apesar de ele me odiar dia sim dia não!

No dia do meu aniversário, a ex-namorada do meu filho enviou-me uma mensagem encantadora. Ainda não tive coragem de a apagar. Ternurenta, carinhosa e linda. Disse-me reconhecer aquilo que lhe tentei transmitir, que tudo se supera, tudo passa, que vale a pena acreditar na vida e no amor. Disse-me que hoje está feliz. Gostava de a abraçar, mas como não posso, deixo-lhe aqui um beijo do tamanho da nossa distância.
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lake of fire - Nirvana

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A CONTAR HISTÓRIAS


Ele colocou-he o braço em cima dos ombros e disse-lhe ao ouvido:
- Sabes que um coração se pode regenerar num abrir e fechar de olhos?
- A sério? - Interrogou ela bastante céptica.
- Sim. - Afirmou com toda a convicção. - O coração é mais forte que o corpo, é o músculo mais resistente e regenerador que temos. Consegue bater imensas vezes por minuto quando está exaltado e repousar tranquilamente quando está seguro. Põe aqui a mão. - Pediu segurando a mão dela e colocando-a sobre o seu peito. - Sentes? - Perguntou.
- Sim. Está exaltado. - Ela exclamou.
- Porque precisa de tranquilidade, precisa de se sentir seguro. - Explicou ele. - Quanto tempo pensas que vai necessitar o teu coração para se regenerar?- Perguntou de seguida.
- Não posso responder. Bem gostaria, mas, na verdade, não sei. É coisa que nunca sabemos! - Disse ela.
- Sabes que pode levar o breve tempo que os meus lábios possam levar a encontrar os teus? Uns segundos apenas! Estão tão próximos! Há coisas fantásticas, mas que é preciso experimentá-las para serem comprovadas...
- Não sei!... - Ela desviou o olhar. - Assim, tão simples!
- Assim! Tão simples! - Afirmou ele.
- E se não for assim? - Perguntou ela com o habitual cepticismo.
- Podemos experimentar. Em nome da ciência. - Argumentou ele. - Sem experimentação não há certezas. E podemos debater as conclusões teóricas depois da prática. O debate é sempre aconselhável após a experiência. Não concordas?
- E se não pudermos concluir, se subsistirem dúvidas? - Questionou ela.
- Podemos repetir. Infindavelmente. Tempo é o que não nos vai faltar. - Arrematou. - Sou um gajo empenhado e não gosto de desistir enquanto não obtiver resultados. Aliás, tu conheces-me há anos, sabes bem...
Ela afastou-o, sentou-se de frente para ele e olhou-o nos olhos.
- Estás a querer ser o meu objecto experimental ou a pedir-me que eu seja o teu objecto experimental? - Interrogou-o muito sériamente.
Ele olhou-a nos olhos, como nunca o tinha feito, e respondeu:
- Não. Estou a pedir-te que sejas a minha verdade.
Ela baixou os olhos e quis saber:
- Mesmo sabendo que serias a minha alternativa? Mesmo assim?
- Mesmo assim.- Repondeu ele com firmeza, sem baixar os olhos. - Sonho... há demasiado tempo...

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Sunshine of your love - Cream

COISAS DE GAJAS


A minha amiga veio jantar comigo. Estava tão triste como poucas vezes a vi! Nem o vinho tinto do Dão, Casa de Santar, colheita especial de 2004 a pôs a sorrir! Mostrou-me a mão esquerda. No dedo trazia colocada a aliança do casamento e o anel de curso, que há tempos havia guardado numa caixa de bijutarias. Voltou ao lar e ao trabalho. Mais triste que um dia de inverno, menos inspirada que um pássaro numa gaiola! "Vou retomar a minha vida." Disse-me ela. "E os sonhos?" Perguntei eu. "Enterrei-os!" Respondeu. Batemos os copos. Um brinde no velório! Hoje não houve gargalhadas, nem desvarios. Essas coisas só as paixões e os sonhos nos permitem fazê-las.
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Doomed - Violens

THE WALKMEN - LISBON / OUTROS...

The Walkmen - Lisbon (2010)

Real Estate - Real Estate (2009)

MGMT - Congratulations (2010)


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domingo, 29 de agosto de 2010

ARCADE FIRE - THE SUBURBS / OUTROS...


Arcade Fire - The Suburbs (2010)


Tame Impala - Innerspeaker (2010)

 
Caribou - Swim (2010)

Sufjan Stevens - All Delighted people - EP (2010)

EELS - End Times (2010)

Wild Beasts - Two Dancers (2009)

FANTÁSTICO


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O REVERSO


A vida é bem mais leve quando já não temos absolutamente nada a perder! É um incontestável recomeço.
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terça-feira, 17 de agosto de 2010

ATÉ UM DIA DESTES...


A BELEZA DAS COISAS SIMPLES

Foto: A minha bela figueira.
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Esta manhã, bem cedo, fui com um saco colher figos à minha figueira. A vida colocou esta figueira ali, no caminho, por onde passa muita gente, por onde passo. Aqueles que vão ao mercado comprar figos passam por ela e não a vêem. Eu gosto de colher os frutos naturais, simples, sem tratamentos e limpezas. Gosto de esticar a mão e de os arrancar docemente, desse leito onde estão destinados a cair ou a morrer. Gosto de sentir que tenho uma figueira que não é de ninguém, que silenciosamente fala comigo, me faz companhia e me alimenta. Eu gosto de acreditar que sou importante para a minha figueira, que ela espera por mim pela manhã para me dar os bons dias. Gosto de acreditar que são as raízes que me ligam à minha figueira. Hoje a minha figueira está particularmente bonita e está um dia maravilhoso.
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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CONVERSAS DE GAJAS



- Sabes o que gajo me disse? - Falou ela agarrada ao whisky e ao cigarro. - "Eu sou um operário." Disse-me gajo. E eu respondi-lhe: "Está bem. Mas és o operário da minha vida."

- Essa é forte! Até conseguiste arrasar comigo! Já estou lamechas outra vez!- Observei.

- Mas não com ele. Manteve-se impávido! Nem uma expressão! É de pedra! Sofre de um complexo de inferioridade que lhe fecha todos os poros. - Disse ela. - Os homens têm medo de mulheres independentes, de mulheres autónomas, ficam atrofiados!

- Os homens têm medo de mulheres autênticas, de mulheres que sabem o que querem. - Completei.

- Este gajo é um materialista revoltado com a vida. Penso que entende que não tem nada para me oferecer. E então despreza-me, espesinha-me! Eu não deveria ser amada? Eu preciso de alguma coisa mais do que o que tenho? Onde é que anda o amor e uma cabana? Eu só quero o amor. Tudo o resto que tenho basta-me. - Afirmou com a mais pura nostalgia.

- Eu emprestava-vos a viola... - Disse a brincar. - O amor deveria bastar-nos. Mas isso somos nós a sonhar. Olha para mim, o clássico exemplo de uma julieta a mandar mensagens ao seu romeu! Até onde nos pode levar a poesia?

- A vida é dor! Ainda bem que estamos vivas!

Depois de mais uns copos, a meio da noite, ela já completamente de quatro, a rir que nem uma doida:

- Vou bebêda para casa! Porra! Mas não me importo. Se aparecer amanhã de manhã no tribunal, já tenho defesa. Digo ao careca do juíz, que o detesto por ser um cretino, o que é verdade. E pergunto-lhe: "Ó Sô Dotor, V. Exª nunca se embebedou? Experimente. Abre-lhe o espírito, alegra-lhe a alma, liberta-lhe as frustrações e o meretíssimo deve ter muitas, porque é homem. É uma adrenalina absoluta!" Amiga. Se sobreviver a esta noite e se sobreviver a esta paixão, ainda nos vamos rir muito mais. Fica com o meu telemóvel, vá impede-me de voltar a ligar áquele idiota. Fica com ele, não me deixes humilhar-me mais.

- Ok. Dá cá as chaves do carro, é também a única forma de te impedir de o ires procurar. E já agora, deixa cá também a garrafa que me faz falta.

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DESEJO



Foram os meus olhos, os meus olhos...
Esta noite...
sempre os meus olhos...
espalhados pelo teu corpo,
a queimar a essência da razão.
Foram os meus olhos, de noite
a rasgar a tua pele suada
e o desejo insuperável...
Bem podiam ter sido outros olhos,
mas foram ainda os meus olhos,
parasitas com luz
a propagar-se no teu quarto escuro.
Aí, onde te sonho,
onde o meu corpo perde a identidade.
Aí, onde ferro todo o meu desejo.
Atravessei a manhã como quem atravessa o universo
e ainda não me cheguei!
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domingo, 15 de agosto de 2010

A MINHA VIDA DE...?

Foto: "Um último olhar, a perder-se... na melancolia, de não te encontrar!
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Não me posso zangar com a vida! Não consigo! Nos últimos tempos tem-me acontecido muita coisa inesperada que fez com que a minha vida se alterasse. Para melhor. Libertei-me de imensa tralha. Mandei-a fora, já não me faz falta. Já não me sinto presa ao cais. Estou livre! Tenho nas mãos apenas o peso dos dedos! Nunca me senti tão livre! Alguns sonhos não se concretizaram mas fizeram com que outros se concretizassem. Algumas coisas que quis e ainda quero não aconteceram, não me chegaram ás mãos, mas nem tudo pode acontecer. Não espero da vida mais do que aquilo que possa alcançar. Não tenho sido uma grande lutadora, mas penso que não o tenho sido porque, no fundo de mim mesma, terei entendido que não valia a pena lutar por aquelas coisas em concreto. Apostei um sonho. Nunca tinha apostado um sonho! Não fiz muito por ele, mas fiz muito mais do que alguma vez pensei ser capaz de fazer. Assumi-o e, dentro das minhas capacidades e limitações, tentei agarrá-lo. Estou satisfeita por isso. É que tenho a mania de virar as costas e até de me esconder. Penso que passei a ser capaz de me libertar de muitos dos meus fantasmas. Estou pronta para "morder a vida". Deixar de lado os receios parvos de levar com um não, uma gargalhada, em suma, uma rejeição. Afinal, "a rejeição é um caminho para o lado melhor da vida, é a falta do engano, é a verdade no seu expoente máximo, logo, uma bela maneira de não perder tempo nem criar ilusões, onde elas, as ilusões, não habitam!". Estou a usar palavras de pessoas amigas que muito estimo e que me têm ajudado a ter uma perspectiva diferente da vida. Hoje encontrei-me com um amigo que não via há rigorosamente doze anos. Há uns dias atrás encontrei-me com uma amiga desses tempos e ela cruzou a informação com este. Estava em casa e, de repente tocou o telefone. Já não me passava pela cabeça poder voltar a encontrar-me com estes amigos. A vida afastou-nos e, afinal, vivemos tão perto! Estas coisas fascinam-me. Mostram-me que não posso viver fechada, na sombra, principalmente num momento em que me libertei de uma carga enorme e preciso de sentir que a vida acontece. Em que preciso que a vida aconteça.

Largo o cais. Estou pronta para partir. A bagagem não me pesa e embarcarei no próximo navio. Navegar é preciso.

Ainda tenho um sonho. Mas é hora de partir (de férias - bem entendido- e depois, sabe-se lá para onde). Levá-lo-ia comigo se pudesse. Mas não posso. Porque ele não quer. Teria de o acorrentar e eu nunca tive correntes que prendessem. Somos livres. Sempre seremos livres.

Tenho de ficar por aqui, porque a minha amiga acabou de levar uma rejeição e ela lida muito mal com isso e está a caminho. Preparo-me para mais uma descarga na garrafeira e uma noite de vadiagem filosófica.
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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

HÁ DIAS ASSIM


Vivo os dias como peças de um puzle sempre em crescimento, mas nunca cumprido.
Esta manhã encontrei-me com uma pessoa que me disse: "Estive a um passo do suicidio, no último segundo hesitei..." Agarrei-lhe nas mãos... Neste momento penso que esta pessoa algum dia terá sido amada por alguém.
Fui a Setubal com uma amiga.
No regresso ela disse-me:
- Porra! Deviamos ter parado lá atrás, na Sex Shop. Estive lá há dias e digo-te uma coisa, têm lá umas coisas... era tão bonito! Parecia real! A sério! A cor, a textura... fiquei apaixonada, pedi à mulher para mo deixar segurar... tive-o nas minhas mãos, era tão suave, tão apetitoso!...
- O que é que o teu marido anda a fazer?- Perguntei-lhe.
- A dormir. Básicamente dorme. - Respondeu ela.
- AH!... - Exclamei.
Depois do almoço fui à praia. Ligou-me um amigo. Não o atendi. Não estava com capacidade para falar com ele. Mandou-me uma mensagem: "Não sei porque não me atendes o telefone. Tenho saudades tuas." Eu sei porque não lhe atendo o telefone. E, ás vezes, também tenho saudades minhas!
Esta tarde, na praia - tantas praias que existem por aqui e é tão grande a minha praia! - olhei para o lado e vi um rapaz com quem andei envolvida no final do ano passado. Estava especado a olhar para mim e eu fingi que não o vi. A minha amiga (esta amiga já não é a mesma que foi comigo a Setubal) disse que eu estava esquisita, mas eu apenas estava um pouco perturbada. A pensar na minha maneira de ser, na maneira como atiro as coisas para detrás das costas, na minha radicalidade! Ele decepcionou-me e eu neguei-lhe uma segunda oportunidade! Ele brincava com a filha na água e eu, escondida atrás dos óculos escuros observava-o. Enquanto o observava escondida atrás dos meus óculos escuros e ele me observava descaradamente, senti-me só!
Ontem à noite, esta minha amiga veio jantar comigo e insistiu em telefonar ao homem por quem está apaixonada. Não desiste! Antes de ir ter com ele, pintei-lhe os olhos, arranjei-lhe o cabelo, pus-lhe um colar e uns brincos meus, tirei-lhe umas fotos artísticas e garanti-lhe que ele não lhe iria resistir. Ele não lhe resistiu!
- Convidou-me a passar um fim-de-semana com ele no Porto! - Disse-me hoje, ao fim da tarde, quando o vento nos arrastava os cabelos para sul.
- Vai. - Disse-lhe eu. - Não percas a oportunidade.
- Mas também me disse que eu não sou a mulher da vida dele. - Disse-me ela com o olhar perdido no mar.
- Não ligues. Ele não te deveria ter dito isso num momento desses! Pediste-o em casamento? Que imbecil! Mas não te preocupes. Não há homens nem mulheres da nossa vida, tudo isso é uma treta! O que há é homens e mulheres que, por qualquer razão, se encontram. Vai. Vive um dia de cada vez. - Disse-lhe eu.
Ela segurou a minha mão, apertou-a e, de repente, abraçou-me com lágrimas nos olhos.
Vim para casa, liguei ao meu filho que foi para Monte Gordo e disse-me que estava em Espanha, completamente radiante! Senti-me feliz por ele.
Preparei um jantar caprichado para mim mesma e enquanto o fazia, liguei áqueles amigos para quem não tenho estado presente.
Jantei sozinha, com a tranquila certeza que os dias são peças de um puzle, sempre a crescer, mas nunca cumprido!

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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

COISAS PARVAS


Acordei a a sentir-me uma gaja bronzeada. E também um uma gaja chata, aborrecida, uma gaja que fala sozinha, uma idiota. O que é ótimo, pois obrigou-me a concluir que estou viva.
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terça-feira, 10 de agosto de 2010

COISAS PARVAS


Hoje abusei da praia. Estou a arder. Sinto-me um carapau frito! E estou tão lamechas que até meto nojo!
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A Warmer Moment - Butterfly Explosion

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

CONVERSAS DE GAJAS




Ontem uma amiga veio jantar comigo. Ainda ando a rir! As conversas foram tão hilariantes que vou tentar reproduzi-las o mais fielmente possível com a ajuda de coisas que fui escrevinhando num bloco que tinha sobre a mesa.



I.
- Ontem quando o F me levou a casa, repentinamente, confessou-me que tem uma grande atracção por mim e espetou-me um beijo na boca. - Contou-me ela. - Fiquei lixada pá! Ele é meu amigo! Não estava à espera!
- O Verão tem destas coisas! - Disse eu. - Quem diria! E como é que reagiste?
Ela passou a língua pelos lábios, mordeu-os e respondeu: - Foi doce.
- Ah! Então gostaste!
- Eu não disse que gostei. Eu disse que foi doce.
- E o que queres dizer com isso?
- Quero dizer que não foi amargo.
- E?...
- ... E que eu gosto mais dos beijos agridoces, sabes, aqueles que não são doces nem amargos, são beijos despenteados, selvagens...



II.
A meio do jantar tocou o telefone dela.
- Vem comer uma piza comigo. - Pediu ele.
- Não posso. Já estou a jantar aqui com a minha amiga. - Respondeu ela.
A partir daí a inquietação foi evidente.
- Tenho de lutar contra esta paixão que me anda a arruinar a vida. - Disse-me ela. - Quando eu o quero comigo ele nunca está, quando me afasto vem a correr atrás de mim! Diz-me sinceramente, achas que ele sente alguma coisa por mim?
- Talvez sinta. Ou talvez não. Esquece esse fulano. Esquece tudo o que te faz infeliz. Deita tudo para trás das costas. Que martírio! És masoquista? - Disse-lhe.
- Não consigo porra! Só queria saber se ele gosta de mim. Ás vezes sinto que sim, ás vezes sinto que não! E isso mata-me! - Exclamou. - O que é que tu achas? Diz-me lá.
- Levas a vida a perguntar-me isso! O que eu acho é que quando se gosta demonstra-se que se gosta, diz-se que se gosta e age-se em conformidade. - Disse eu. - Porque o amor é institivo, não é racional. E tudo o que é institivo foge um pouco ao nosso controlo. O amor não se controla, ou é ou não é. Se ele gosta de ti quer estar contigo, precisa de estar contigo, procura-te. Ele procura-te? - Perguntei.
- Convidou-me para ir comer uma piza... com ele e com a filha. Quando está sózinho foge de mim. Filho da mãe! Tens razão! Ele não gosta de mim!
- Eu não disse isso. Acho que o melhor é tirares isso a limpo com ele. - Aconselhei. Aconselho sempre tudo aquilo que eu não faço!
Daí a pouco ela saiu toda empolgada e disse-me que ia a casa dele.
"Hoje tem de acontecer alguma coisa."- Disse-me ela com os olhos a brilhar - se calhar por causa do vinho.



III.
O meu telefone tocou: - Amiga, posso voltar para aí? - Pediu ela a chorar. - Estou na merda!
Voltamos para a mesa da cozinha.
- Quando cheguei à porta dele liguei-lhe a dizer que estava ali e o sacana pediu-me que me fosse embora porque tinha muito que fazer. Eu disse-lhe que não o conseguia entender que precisava que ele definisse a nossa relação e o sacana disse-me que estava sem tempo para conversar e desligou-me o telefone.
Ela estava desalentada.
Que desolação! Porque é que o ser humano tem esta necessidade de comprovar aquilo que é óbvio? Porque é que tem de xafurdar na merda para se poder erguer?
- O que é que os homens querem? Sabes-me dizer? - Perguntou-me.
Dei um trago no vinho. Retardei a resposta, como se resposta houvesse. Disse, então, por fim: - Não sei. Nunca soube o que é que os homens querem! E penso que eles também não o sabem!



IV.
- Tenho tudo de pantanas! A minha casa está de pantanas! A minha profissão está de pantanas! A minha conta bancária está de pantanas! O meu corpo está de pantanas! O meu coração está de pantanas!... - Disse ela. - Tudo por causa de um homem! Somos biliões de pessoas e cada um de nós é único. Como é que em bilões de pessoas vamos encontrar a nossa alma gémea? - Perguntou agarrada à garrafa do vinho.
- Não há almas gémeas. - Afirmei eu.
Ela olhou-me com o rosto constrangido e triste:
- Não há! Não me lixes! Por favor, a esta hora da noite não me tires o sonho! Toma lá a garrafa. Acho que não estás a beber o suficiente!



V.
- Filha da puta do vinho! - Exclamou ela a encher o copo mais uma vez.
- Acho que não devias beber mais, já bebeste bastante. - Disse-lhe eu.
- Cala-te! A bebida exalta-nos a alma, liberta-nos. E eu, hoje, preciso de me libertar. Tudo por causa de um individuo que está de mal com a vida! De um individo que é triste e rancoroso. Uma pessoa triste e rancorosa é um veneno, é tóxica. Tenho de concluir que eu estou tóxico-dependente. E nem sequer tomo drogas!



VI.
- Do que é que os homens têm medo? - Questionou ela. - O cabrão tem medo da vida! Tem medo de ser feliz! Tu acreditas nisto? Um dia diz que gosta muito de mim. Outro dia diz que não gosta de mim o suficiente! Um dia diz que me vai fazer muito feliz. Outro dia diz que não precisa de ninguém que é mais feliz sózinho! tu acreditas nisto? Do que é que os homens têm medo?
- Quando as pessoas se habituam à solidão, percebem que estando sós podem ser menos tristes. A solidão magoa-nos, mas as pessoas podem magoar-nos muito mais. Por isso, uma pessoa solitária, habituada à sua solidão tem muito mais dificuldade em arriscar, o medo da decepção pode se maior que o desejo de arriscar.- disse eu.
- Tens razão! A solidão nunca nos decepciona. Somos só nós e nós! Dói concluir isto! - Disse ela enquanto voltava a encher o copo de vinho. - Ele vive como um cão abandonado! O sacana saboreia o sofrimento, porque o sofrimento não o trai, esse é certo, é fiel, não tem incógnitas, já não o pode surpreender. Os verdadeiros solitários têm medo de viver, têm medo de dar um passo em falso. A solidão é saborosa porque é certa. Não nos lhes dá surpresas! Filhos da mãe!- Concluiu.
- Mas a solidão é um vazio. A solidão é uma dor miudinha que nos vai atrofiando. Eu adoro a solidão. Quando posso estar sozinha, completamente, sem horários, sem responsabilidades, sem compromissos, como hoje, sinto um prazer imenso. E nunca quero perder essa capacidade e essa possibilidade de estar comigo mesma ou de estar com uma amiga. Mas não quero a solidão como rotina. Quero partilhar. Para mim a solidão não é uma opção. - Disse eu.
- Mas tu dizes que não há almas gémeas! - Frisou ela.
- Entendo que não há almas gémeas, mas acredito que há almas. - Expliquei.
- Que queres dizer com isso?
- Que há almas que se cruzam, que se entendem e que se podem encontrar de vez enquando.



VII.
- Eu não te entendo! - Disse-me ela. - Vives em excesso de velocidade por dentro e por fora não queres passar da segunda? Se fosse eu, a esta hora, já ia estrada fora, em quinta.
- Eu sei que se fosses tu já tinhas metido a quinta. Mas tu és louca! Se calhar eu sou uma sacana que tem medo de arriscar, uma sacana que tem medo de viver! Mas um dia destes faço-me à estrada e meto a quinta. E seja o que deus quiser ou o que não quiser. Afinal só tenho um coração e só tenho uma vida. E agora conseguiste deprimir-me! Arre!
- Temos de ser filhos da puta para equilibrar as coisas! - Disse ela.
- Como assim? - Perguntei-lhe.
- Temos de morder a vida.

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Já passava das três horas da matina quando ela se foi embora. De entremeio quase choramos e até partimos o estomago de tanto rir! Só as paixões é que nos permitem momentos únicos como estes!

FUI FELIZ AQUI


Ontem passeei pelas praias de Torres Vedras onde fui levar o meu filho. Era para ter ficado lá uns dias, mas apeteceu-me voltar a casa. No regresso, vinha a pensar quanto tempo ali vivi, como fui feliz e como agora olho para os locais com total indiferença! A mesma indiferença com que olho para o passado! Antigamente eu pensava que se o meu casamento terminasse, voltar ao sitios onde fui feliz, teria de ser, forçosamente, um acto doloroso. O estranho é que assim não é!
Quando o meu ex-marido me deixou, parecia que o céu me tinha caído na cabeça, que o mundo tinha ruido. Mas depressa percebi como era muito mais feliz sozinha, como os dias eram muito mais leves e suportáveis do que antes. É por isso que costumo dizer que há males que vêm por bem. Esqueço-me completamente que ele existe e os lugares morreram! É estranho, mas é assim! Na verdade, quando ele me deixou, o nosso amor já era um amor doente há muito tempo, só que eu não tinha coragem de o deixar. Mas o certo é que não temos de carregar um amor para o resto da vida como se ele fosse um deficiente a nosso cargo. O amor não pode ser a dor. O amor só pode ser, necessáriamente, o alívio, a cura para as nossas dores.
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Hoje estou feliz.

domingo, 8 de agosto de 2010

SHOOT ME DOWN


Estou em erupção! Sinto-me uma bomba relógio!
Endoideço!...
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Sex on fire - Kings of Leon

sábado, 7 de agosto de 2010


"O tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
Eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava.
Era a tua, a tua voz que dizia as palavras da vida.
Era o teu rosto. Era a tua pele.
Antes de te conhecer, existias nas árvores e nos montes
e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
Muito longe de mim, dentro de mim,
eras tu a claridade.
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José Luís Peixoto, in "A criança em ruínas"
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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

PENSAMENTOS DISPERSOS


Dói-me a cabeça! Como se, de noite, os meus fantasmas se tivessem sentado sobre ela empilhados uns sobre os outros. Ou uma nuvem de tabaco se tivesse acumulado no pensamento e se condensasse sobre as fontes. Dói-me mesmo a cabeça! Acordei com ela a pulsar na almofada, incapaz de ver nitidamente o que quer que fosse. Julgo ser merecida. É bem feita! Deveria ter-me deitado a horas decentes, quando o maço do tabaco ainda ia a pouco mais de meio e me levantei do sofá com os olhos estrambalhados de sono. Ao invés, entrei pelo armário adentro em conversas duvidosas com o meu eu mais obscuro e sombrio. E quando já não via nada senão uma nuvem de fumo e um maço vazio sobre a mesa, eu e todas aquelas em que me havia desdobrado, dançavamos ao centro a xupar cigarrilhas negras de sabor amargo- era o que havia. É bem feita!
Creio que hoje vou ficar esticada no sofá o dia inteiro, com um penso sulfaminado no cérebro. Sei porque me dói a cabeça. O que eu não sei é porque é que, às vezes, me dói o pensamento!
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

PENSO EM TI


Ás vezes o silencio não é um abandono.
Ás vezes o silencio é um medo do escuro.
Nele escondemo-nos dos nossos fantasmas, das nossas inseguranças.

Ás vezes só queremos dizer:
Quero (-) te (.) dizer muitas coisas que tenho guardadas no peito sobressaltado.
A chama(r) por ti (.) brilha(s) sempre no meu coração.
O meu silêncio escreve o teu nome, desenha o teu rosto
e reclama-te.
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terça-feira, 3 de agosto de 2010

CONVERSAS DA TRETA


De repente ele perguntou-me:
- Achas que é crime fazer amor com uma mulher a imaginar que é com outra?
- Que raio de pergunta! - Digo eu. - E que raio de coisa!
- Vá, responde-me, com sinceridade. - Pediu. - Achas normal?
- Sei lá! Cada um é que sabe da sua normalidade. Crime não é. Pode ser que seja uma alternativa. - Respondi.
- Pois! Estou fodido! Está-se a tornar uma alternativa doentia! Quanto mais penso na outra, quanto mais desejo a outra, melhor se torna o sexo com esta! E o pior é que, quanto melhor se torna o sexo com esta, mais aumenta o meu desejo pela outra e mais aumenta o desejo desta por mim! Estou fodido! Não sei o que hei-de fazer! Que faço, diz-me?
- Sei lá! Faz amor com a outra.
- Não posso. Porque a outra não sabe deste desejo. E se soubesse dava-me umas bofetadas, de certeza! Eu ficaria deprimido, possivelmente perderia o meu desejo por essa outra e estragava o meu delírio com esta!
- Foda-se!- Digo eu. - A normalidade é uma coisa estranha!
- Eu já sabia que não ias achar normal. Devia estar caladinho!
- Não te estou a criticar. Apenas penso que, se não tens um compromisso, deves arriscar. A mentira só deve ser uma alternativa quando a verdade for uma impossibilidade confirmada.
- Passa-me aí a garrafa. - Pediu ele. - Deixa-me levar o que sobra. Vou acabar de me embebedar sozinho, no lugar mais deserto que encontrar. Vai lá ver os teus filmes, eu vou fazer os meus.
Homens!!!
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Never gonna give you up - Black Keys

CONVERSAS DA TRETA


Ao telefone:
- Que fazes amiga?
- Estou a relaxar. Bebo um copo e ouço uma musiquinha.
- Vou já pra'í. Também preciso de relaxar.
À mesa da minha cozinha:
- Acho que estou bebêdo! O alcoól embebeda, porra! - Disse ele.
- Não é o alcoól que nos embebeda. - Disse eu.
- Não! Então? - Perguntou ele.
- São as nossas paixões. Se não fossem elas, não teríamos bebido. - Respondi.

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These Days - Black Keys

domingo, 1 de agosto de 2010

A CONTAR HISTÓRIAS



Ela disse-lhe:
- O vento beijava-nos a pele enquanto corria para o rio. E tu? Quis perguntar-te - apetecia-te beijarmo-nos? Não? - Deixa lá! Eu sonhava. Eu colecciono sonhos. Faço-o para me proteger do inverno.

Ele disse-lhe:
- Está vento por aí? Aqui,
"Céu muito nublado,
vento fraco moderado de sudoeste,
soprando forte nas terras altas,
aguaceiros
em especial nas regiões do Norte e Centro
e que serão de neve nos
pontos mais altos da Serra da Estrela
e no teu coração."
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- Jorge de Sousa Braga -