domingo, 20 de dezembro de 2009

FESTAS FELIZES PARA TODA A GENTE


Este ano, o Natal cá em casa é assim, improvisado com a pouca inspiração festiva.
Vou para as terras geladas do Norte apanhar calor e aconchego familiar, não sei quando volto.
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A TODOS DESEJO UM FELIZ NATAL E O 2010 CHEIO DE ALEGRIA E MUITO AMOR
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BEIJINHOS
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Foi Deus - Amália Hoje

sábado, 19 de dezembro de 2009

PENSO, LOGO...


Tu querias devorar-me. Eu simplesmente amar-te.


Ás vezes amo realmente. Quando não penso no amor. Que o amor não é coisa que se pense. O amor é como um cavalo bravo, não há quem o segure. Se o seguramos, já deixou de o ser. Resta é a ilusão de um cavalo bravo que entregou as rédeas para se deixar abater. Porque o amor também se abate.

Ás vezes não penso e amo. Agora penso muito. Agora ando constemente a pensar.

Eu queria amá-lo, simplesmente. Porque ele era delicioso e cheio de encanto e porque o amor faz-me muita falta. Quando amo sou melhor pessoa, enriqueço o espírito e fico mais bonita.

Pensei em amá-lo. Quando eu pensei em amá-lo, havia um roedor a subir e a descer do estomago à boca e o meu corpo sentia um furmigueiro inquietador. Além de que, de tempos a tempos, ficava febril. Também pensei estar doente. Talvez fosse a gripe A. Mas havia aquele sorriso que não me largava!

Depois ele começou a domar o amor, a controlar tudo de forma devastadora. Foi quando eu comecei a pensar no risco, a fazer a leitura dos sinais mais óbvios, a antever o próximo capitulo, a perceber que o roedor iria rápidamente começar a descer, a chegar-me às visceras e a provocar-me um tumor malígno. Fiz a operação antes que viesse a necessitar da quimio-terapia.

Antigamente eu não era assim tão radical! Eu arriscava. Deixava-me levar pelas marés boas e enfrentava as más quando elas chegavam. Mas amadureci. Eu preciso do amor. Mas não preciso de um qualquer amor. Não preciso de um amor que me consuma. Eu preciso do amor que me reconheça como pessoa, me faça sentir melhor pessoa e mais bonita. Depois que venham as marés e cá estarei para segurar a barca.

Antigamente eu não pensava tanto. Hoje continuo a entender que o amor não se pensa, que o amor é como um cavalo bravo. Mas hoje penso na qualidade do cavalo, quanto mais puro, melhor.
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Abandono - Amália Hoje

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

VAMOS AO MORALISMO

Foto: Baía do seixal
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O que leva um homem com mais de 50 anos, rendimento de 80,00 € mensais, residência numa barraca, desempregado, sem antecedentes criminais, a traficar droga?

O que leva uma mulher de 49 anos, emprego estável, divorciada, obrigada fugir com os filhos menores, a viver em casa arrendada em estado de suprema degradação e a precisar da caridade alheia?

O que leva um homem de 77 anos a levantar-se às 7H00 da manhã, a rapar frio, talvez fome, acompanhado por um cão fiel cheio de feridas e maleitas, a arrumar carros e a suplicar umas moedinhas?

O que leva um jovem de 28 anos a procurar comida nos contentores do lixo, a esconder-se da família e dos amigos e a fingir que é um emigrante sem casa nem eira?

O que leva uma rapariga bonita a fugir de casa a prostituir-se, a partilhar seringas, a dormir em carros abandonados, a partilhar doenças como a sida, a tuberculose, a hepatite e a depressão?

O que leva uma pessoa só, boa aparência, sem ninguém a azucrinar-lhe os cornos, com casa própria, profissão estável, com o mínimo indispensável, a sofrer de depressão nervosa?

O que leva um gajo de 40 anos, boa apresentação, rendimento suficiente, carro topo de gama, a procurar mamadas em horário pós-laboral?

O que leva uma pessoa brilhante, de carácter admirávelmente superior, a emborcar copos de vinho, cerveja, arguardente e tudo o que destile alcoól?

O que leva um jovem de tenra idade, corpo ainda por formatar, personalidade em formação, a contraír virus, spyware maligno, terminator family e a arruinar todo o sistema em que se forma?

O que leva pessoas com excesso de dinheiro a rebaixar os outros, a explorar, a humilhar, a esbanjar e a cagar literalmente para tudo e todos, possivelmente até para si próprias?

O que leva uma mãe saudável, marido compreensivo e filhos dentro dos padrões, a pôr uma corda no pescoço com um bilhete de boas... festas, entradas, continuações e por aí fora...?

Etc, Etc e tal!?...

Preocupamo-nos com o ambiente!? Eu preocupo-me. Há mais 12 anos que reciclo tudo o que é possível reciclar, que poupo energia e água, que defendo as espécies e o planeta, etc. Mas há muitos mais anos que defendo a Espécie Humana, que me preocupo em salvaguardar direitos e liberdades, subsistência e autonomia, responsabilidade e respeito individual, amor e solidariedade. Porque esta espécie também merece a maior das preocupações. Se não salvarmos esta espécie conjuntamente com todas as outras, de nada adiantará lutarmos pela sobrevivência do planeta. Porque ele faz sentido enquanto nós, seres responsáveis e inteligentes, lhe dermos um sentido.

Começou a chover! Porra! Tinha roupa seca no estendal, estou preocupada em salvá-la, vou a correr...

O que é que nos preocupa realmente?

"Vidas sãs, mentes sãs"?- Procure-se no google e veja-se o que se encontra!!!
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Graduation day - Chris Isaak

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

COISAS FOLEIRAS



Sinto, às vezes, que andas por aqui,
que passeias sobre a minha pele.
Que desces o umbigo, em círculos lentos.
E que o vulcão desperta do entorpecimento.
Depois atravessas o vale como um estrangeiro curioso.
Amanhece, amanhece em mim um dia claro e translúcido.
É então que sobes as montanhas
e te sentas no cume a fazer-me cócegas.
Estou tão desperta e inquieta que já não sei do tempo.
E o tempo também já não sabe de mim.
Segues, a palmilhar o peito, rumo ao pescoço.
Mordendo ao d'leve como quem tem fome.
E eu já caída, atordoada,
Quase a suplicar para que tardes,
retardes, permaneças.
E tu, lânguido e maroto,
de sorriso em punho, sussurras-me ao ouvido,
bafo ou brisa que me contorce e multiplica.
Já não sei das origens, nem do norte,
nem vejo estrada ou caminho.
Decides, então, escalar-me as palpebras,
fechar-me os olhos e pedir-me que adormeça.
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Everybody's Got To Learn Sometimes - Beck

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

TERNURAS



É neste momento único, individual e intransmissivel, trazido pelo anoitecer, que te pergunto se já fizeste o prezépio e a árvore de Natal? Porque hoje toca um sino dentro de mim - à força de tantas badaladas que me chegam da igreja cá do sítio. Que eu própria já não sei se é cântico se é pio - mas profetizo, intímamente, qualquer coisa de sagrada!
Podiamos ir ao monte apanhar musgo verde, aproveitavamos as pratas dos maços de tabaco para fingir as àguas do rio, trazias azevinho aí do campo e eu punha as ovelhas, os pastorinhos e demais personagens. A título de permuta tu punhas o espaço, eu colocava as luzes, tu punhas a ceia de Natal e eu levava o vinho, o bolo rei, as filhóses, as rabanadas e o enigma com que haveria de te presentear.
E tudo isto num gesto tão simples como dares-me a mão, a palavra e o céu.
Não?
Deixa lá.
Eu sonhava.
De uma forma tão ampla e divinal que me parecia o horizonte, inteiro, debaixo dos nossos pés!


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Struggle For Pleasure -Wim Mertens


domingo, 6 de dezembro de 2009

MÁSCARAS


Quando olhamos, é preciso ver as pessoas e os figurantes. É preciso ver as pessoas e as pessoas que elas representam. É preciso ver os rostos e as máscaras. Ás vezes é preciso ver os detalhes para vermos que é preferível não arriscar a arrancar as máscaras. Vá! Qualquer um de nós sabe que há quem fique bem melhor com ar de palhaço. Antes de palhaço que de cretino!

Hoje sentei-me numa esplana a ver os enfeites de Natal e os figurantes que passavam. Chovia e ninguém mais se sentou na esplanada. As pessoas olhavam para mim, os figurantes quase paravam, a modos que a perguntar-me se não tinha frio, se não temia uma gripe. Vá lá, sigam com as vossas vidas! Não se preocupem, uso uma máscara impermeável e os meus cosméticos são à prova de água.
Fiquei ali algum tempo, com uma das minhas mais sofisticadas máscaras, a pensar no tempo dos bailes de finalistas e das festas de garagem. Nesse tempo dançava-se slow de forma tão espremida um comtra o outro, que não era possivel usar máscara que não saltasse do rosto. Os rapazes tremelicavam das pernas com o cangurizinho aos saltos, a querer sair da bolsa, e nós fingiamos que não davamos por isso. Bebiamos cerveja e fumavamos cigarros que faziam sonhar. Eram outras máscaras nesse tempo! Tapavam-nos o rosto, mas não o coração.
Não sei quanto tempo fiquei por ali. Virei-me para o lado e perguntei-me: "Estou farta deste cenário e se fossemos teatrar para outro lado?" Respondi que sim. Agarrei em mim e lá fomos pela marginal a transparecer uma realidade qualquer. Um vizinho cruzou-se comigo, tirou a máscara, cumprimentou-me e voltou a colocá-la. Segui a pensar no tempo em que as pessoas tiravam o chapéu.

Isto fez-me lembrar, quando há tempos, estacionei o carro, dirigia-me ao escritório, quando me cruzei-me com uma pessoa que vestia um fato inteiro, usava um capacete e uma máscara, e andava com uma máquina que cortava ervas daninhas nos passeios. Parou para me deixar passar e ali ficou parado e silencioso, atrás da sua máscara, até eu desaparecer na esquina. Ao final do dia, quando cheguei ao carro, tinha um bilhete preso no limpa vidros que dizia mais ou menos isto: " Sou o Homem da máscara, o cortador de ervas, fiquei encantado na senhora, não consigo tirá-la do pensamento, se não achar muito atrevimento, gostava de a conhecer. Se estiver interessada ligue-me por favor". E deixou-me o nº de telefone. É claro que eu nunca liguei. Cerca de mês depois, estava eu num bar da praia, era noite e havia um homem (quase um rapazito), sempre a olhar para mim. Até que se apresentou: "Sou o Homem da máscara. Deixei-lhe um bilhete no carro... Hoje não tenho máscara." Disse ele!!!
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You Do Something to Me - Paul Weller

sábado, 5 de dezembro de 2009

SOU UMA IDIOTA CONVICTA



Foto: Berlenga
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Sou uma idiota!
Acredito no amor clássico e intemporal!
Acredito que "cada ser é uma ilha" inviolável! E que tenho braços - que sempre terei braços - para remar da minha ilha a outra ilha e voltar, as vezes necessárias, para me encontrar com o amor. Que posso beber da água doce, comer frutos, colher flores, apanhar sol e chuva, enrolar-me na areia, banhar-me no mar, dançar ao luar, comer, usufruir e limpar os detritos, manter o ambiente, conservar a natureza e a beleza original.
E acredito que não sou a única ilha a acreditar!
Sou uma idiota!
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Remar, Remar - Xutos e Pontapés

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

ESTA NOITE ESTOU SÓ E TRISTE

Foto: Viagem nocturna de cacilheiro ao longo do Tejo
(O Cristo Rei a namoriscar a Ponte 25 de Abril)
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Estou triste. Confesso de lágrimas nos olhos.
Há muito que não sentia o coração pulsar como fizeste que pulsasse. Há muito que não sentia alguém tão próximo e aconchegante. Que não recebia tantos beijos e palavras doces. Que uns braços não me apertavam com tanta firmeza.
Tu fazias dos meus dias um cântico de natal e as nuvens haviam partido. E eu ria, ria! E tua rias comigo.
Ninguém, além de ti, descreveu paisagens que eu pudesse tocar e sentir. Nunca ninguém, além de ti, me falou da força do amor de forma tão perfeita e intensa!
Estou triste e de lágrimas nos olhos.
Há muito que não dançava da forma como dançavamos sob o cheiro da baunilha e da canela, ao som do jaz. E a lua tão redonda a bater-nos na janela, enquanto os teus gatos ciumentos miavam atrás da porta!
Eu sonhei, mas estou triste.
Sabes, eu já tive uma vida antes de ti. Eu tenho uma vida. Eu terei uma vida depois de ti. Não deverias sabê-lo?
Sabes, ter uma vida significa ter vontade própria e capacidade de decisão. Significa ter responsabilidades, direitos e deveres, autonomia e liberdade. Não pode haver partilha e liberdade quando a vontade de um se assume de forma autoritária, quando um agarra as rédeas do destino do outro.
Deste-me as asas, mas cortaste-me o voo.
Estou triste.
No dia em que nos conhecemos perguntaste-me se eu estava só por opção. Disse-te que não estava só por opção, mas por obrigação. Perguntaste porquê e eu repondi que gostaria de ter uma companhia, mas que cada homem que acabo por conhecer é mais imbecil que o anterior.
Por obrigação, regresso à minha solidão.

Adeus.

ESTA INSUSTENTÁVEL NOITE

Foto: Mosteiro dos Jerónimos
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Vou dizer-te que não esperes por mim esta noite. Que não esperes por mim noite alguma. Estou fria. Não sinto que me possas aquecer. Vou entregar-me à castidade como uma solitária devota. Não perguntes porquê, não me obrigues a mentir. E pior será se me obrigares à verdade. É melhor assim. Irás ficar surpreendido, ferido no orgulho macho e sem saber o que fazer com o champanhe que guardas no frigorífico. Depois irás emborcá-lo para afogar o despeito e acabarás sentado no balcão de um bar a beber aguardente velha e a engatar a gaja que estiver mais à mão. É fácil e até tens jeito para a coisa. Dirás que és um homem livre, devoluto e de coração partido. Que eu era uma galdéria e que me mandaste à fava. Não levarás mais que uma hora a inventar todas as coisas terríveis que te fiz e quando já estiveres abaixo de desgracadinho e o coração dela condoído, irás mostrar-lhe como estás carente. Tudo se resolve, verás.


Eu vou dizer-te que não esperes por mim esta noite. Vou enrroscar-me no sofá, perto do aquecedor, embrulhada numa manta como uma velha que já não tem vida. Vou desligar o telefone, ligar a tv e embriegar-me até todos os filmes terminarem. Estou fria. De ti não vem calor que me quebre o gelo. Poderia dizer-te que lamento o nevão que caiu nos nossos braços, mas não quero mentir-te e tu, certamente, não quererás saber a verdade. É bem melhor assim.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

PENSAMENTOS DISPERSOS

Foto: Castelo de Bragança
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Os homens dão demasiada importância ao seu pénis! Esquecem-se, ou talvez nem o saibam, que o mais importante são os acessórios. "Acessórios" compreende muita coisa e a maior parte dela não é propriamente visível ou palpável. E é por se esquecerem, ou talvez por não o saberem, que tantas vezes fazem um mau uso do seu pénis.


Os homens dizem que as mulheres são estranhas e traiçoeiras, que nunca falam sobre o que lhes vai na alma, o que querem ou o que pensam. E talvez tenham razão. Mas quando um homem pede a uma mulher para se abrir e falar, normalmente está a pedir-lhe que abra as pernas e que diga baboseiras.


Os homens são seres com dupla personalidade! Uma cujo centro nevrálgico se situa na cabeça de cima e a outra na cabeça de baixo. E há sempre uma que domina a outra. Acredito que seja por isso que os homens têm orgamos com tanta facilidade. Centram-se tanto no seu pénis que não pensam em mais nada.
Lembrei-me disto, com um certo humor, por causa de umas conversas que tenho tido com um amigo, o qual me disse que nunca tinha pensado sobre o assunto. Claro que não!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

ESTOU EM PULGAS!


Estou em pulgas!
Lembro-me do tempo em que me sentava à beira-rio, a lançar pedras rasteiras que, a saltitar, cortavam a superfície da água. Era uma forma de matar pulgas. Agora tento sufocá-las com o fumo do tabaco.
Agarrei uma folha em branco e sento-me sobre ela. Quero começar a escrever as coisas que sempre escrevi, mas de uma outra forma. O que eu quero é enganar o destino, trocar-lhe as voltas.
Hoje estou mais viva e é por isso que temo mais a morte. A morte dos sentidos, porque hoje há dentro de mim coisas que fazem sentido. E estas pulgas que me inquietam, que me mordem traiçoeiramente!
Quando era criança a Terra era redonda e a água ia sempre desaguar nos rios e mares. Agora a terra é bicuda e a água desagua muitas vezes no meu peito.
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We Could bee Loking For The Samething - Silver Jews

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

DA FICÇÃO À REALIDADE


Os textos abaixo foram mera ficção, um deixar a imaginação discorrer e um jogar com as palavras.
Vamos então à realidade, à indiscutível maravilhosa besta que é esta realidade onde me embrenho e da qual fujo quando posso.
A minha vida é um pão sem sal. Ás vezes parece uma batata doce ou um petisco apimentado. Mas é um pão sem sal. Digo que não tenho tempo, mas sobra-me em demasia. Digo que não tenho estimulo, mas o que me falta é paixão. Digo que não tenho amor, mas o que me falta é disponibilidade e crença.
A minha vida é um pequeno pão sem sal. Só não criou bolor ainda, porque a dança e o humor lhe mantêm o vigor.
Tu és o sal. Ai porra! Que difícil é dizer-te que és o tempero que encontrei, assim, de repente, de um momento para o outro! Sabes-me bem. Sabes tão bem que até receio pensar que a minha vida poderia deixar de ser um pão sem sal. Que até poderia deixar de ser um pão. Que poderia ser um pastel de belém ou um toucinho do céu!
Mas não acredito. Não acredito em nada. Sobe-me a tensão arterial. Perco o apetite e o sono. Sofro de ansiedade e vou a correr comprar mais um maço de tabaco, porque um pode não chegar. E pronto. Heis que afinal o excesso de tempero pode-me fazer mal! Fico doente!
Ha!... e deixa-me dizer-te: detesto frases ambiguas e é melhor que te remetas ao silencio, que não me mandes mensagens, não me chames amore, porque me arruinas, pões-me os nervos em frangalhos, não sei o que pensar e tenho medo de sentir alguma coisa. Tenho medo de ter medo. Tenho medo.
Hoje sinto-me como no primeiro dia que fui à escola. Tudo correu bem, mas vou precisar de uma mão que me leve a casa e outra que me indique a carteira onde me devo sentar no dia seguinte. Além disso, ainda agora começou e já tenho medo de chumbar!
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Slave to Love - Roxy Music

domingo, 29 de novembro de 2009

SEJA LÁ O QUE FOR, NÃO É


Ela olhou-o intensamente. Esticou o braço na diagonal, meteu os dedos entre os cabelos dele, puxou-o suavemente pela nuca, e foi de encontro aos seus lábios. Beijou-o como se a vida se esgotasse ali. Sentiu vontade de lhe dizer: amo-te. Uma vontade tão grande que a palavra ressoou como um tambor dentro de si. Mas não disse nada. Os lábios dele escorregaram-lhe, humedecidos e quentes, pescoço abaixo, ombro, braço e peito. Dentro dela, um imenso prazer e a palavra disparada a fazer ricochete nas paredes fechadas do seu cérebro. Puxou-lhe o rosto e aproximou-o do seu. Fixou-lhe os olhos e abriu os lábios. Mas não disse nada, rigorosamente nada! Soltou-o e virou a cara para o outro lado.
Não era amor e ela bem o sabia. Era oportunidade contínua e repetitiva. Não era amor e ela sabia-o porque jurara a si própria que nem sequer se apaixonaria. E quando ele lhe perguntou o que tinha sido aquilo, ela respondeu: "NADA". Não fora nada. Não é nada, que ela bem o sabe. É mais indolor assim.

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The Leavers Dance - The Veils

sábado, 28 de novembro de 2009

QUIÇÁ



Ela levantou-se tarde. Fez alongamentos na expectativa de alongar o dia. Andou a correr de um lado para o outro, os minutos e horas a correrem à sua frente a uma velocidade frenética, na esperança de lhe acompanharem o ritmo. Tanta coisa para fazer e um dia apenas, doze horas, sim, que o resto já se havia consumido entre o sono e o intervalo de o tanta coisa para fazer! Subiu e desceu, apressadamente, pelo dia afora, como quem conduz por uma estrada deserta para chegar a uma cidade habitada. E tanta coisa inútil, tanto minuto desperdiçado, tanta inanimidade no movimento dos gestos! Chegou ao fim da tarde cansada e cheia de sono. Já tinha feito uma variedade de coisas. E não havia feito nada que fosse alguma coisa! Escurecera sem dar por isso. Não há paixão tão profunda como uma noita profundamente escura. Mas nem sequer era noite ainda. Tomou um banho quente.


O dia passou, agora é a hora de reinventar o tempo, refazer o corpo cansado num corpo jovem e perfumado. Estiraça-se no sofá de copo virtuoso na mão, a música a tocar, à espera da chegada do amante. Enquanto isso, deixa-se embalar por um desejo vertiginoso, à beira da indecência. O sangue a ferver-lhe no vinho, um grau mais elevado a cada minuto que passa. O coração já não ferve, mas o corpo atinge temperaturas elevadas. É mais indolor assim. Facilita a comédia, onde já não cabe o drama.


O amante é um rapaz bonito como um poema. Tem um corpo com todas as características de um postal de aniversário com os dizeres: "um momento feliz e que se repita muitos e longos anos". É saudavelmente divertido. Não apresenta sinais de fome e tem um discurso calmo de quem sabe aguardar pela refeição. Não há sentimentalismos e ambos se conhecem como se sempre tivessem vivido nus. Não há indecisões quando os corpos se encontram. É como um regressar ao sítio onde se nasceu - não é uma obrigação, mas uma necessidade quase transcendental. A noite balança agora, inteira, na extremidade dos seus corpos. Não há paixão mais profunda que uma noite profundamente ondulante. Ou talvez...

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Canção do Mar - Dulce Pontes

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ENQUANTO SONHO


De noite, enquanto sonho, o meu pai vem visitar-me. Conversa comigo, ri comigo, partilhamos coisas e momentos. É assim todas as noites.
Quando a minha mãe faleceu aconteceu o mesmo. Durante mais de um ano, ela vinha todas noites conversar comigo. Infiltrava-se nos meus sonhos. Ás vezes dava-me a mão e afagava-me o sono. E quando eu acordava, ainda sentia o calor na minha mão. Aquilo era estranho para mim, mas habituei-me. Era a maneira que eu encontrava de continuar a (con)viver com ela. Depois começou a vir só de vez em quando.
Agora tudo se repete, mas com o meu pai. Mal adormeço ele chega de mansinho, sem bater à porta, sem fazer barulho e entra dentro dos meus sonhos. Hoje trazia uma camisa branca e estava sempre a sorrir e eu disse-lhe que estava bonito. Há coisas que nunca disse ao meu pai. Creio que ele vem para eu ter oportunidade de lhas dizer (embora ele as saiba)
Acho que as coisas boas nunca as deveriamos calar. Não sei porque vivemos tão fechados! E é tão pesada a caixa onde as guardamos!
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I Talk to the wind - King Crimson

terça-feira, 24 de novembro de 2009

INCOERÊNCIAS


O silencio é a pior das falas.
Tratas-me mal no teu silencio. Dizes-me que sou insuportável, que a minha presença te incomoda, que não te faço falta, que a tua vida é bem melhor sem mim.
O teu silencio diz-me coisas dolororas. E nem sequer me posso defender!
Bem melhor seria que gritasses comigo. Que me mandasses às urtigas, dar um passeio à Muralha da China, uma visita ao Muro das Lamentações ou uma viajem espacial sem regresso.
Cortas-me a fala. Congelas-me as palavras. Tenho a garganta tapada com cubos de gelo que me sufocam. Rezo Avé-Marias e Actos-de-Contricção para ser capaz de suportar o inverno que se avizinha.
És um malvado. Criador de silencios assassinos. A minha voz já morreu abafada pelo teu silencio. Resta-me a palavra escrita e um orgulho à beira da miséria.
Ainda assim, talvez reconheça que é melhor assim. Sei lá! Há um espaço enorme á minha volta! Poucas vezes vi um espaço tão grande, poucas! E às vezes, apetece-me corrrer para cá e para lá, de um lado para o outro, só para ter a noção da imensidão vazia que me cerca. E depois, caio exausta e desato a rir tolamente. Já imagisnaste o que é sentir toda esta liberdade? Nem sei como te explicar o que sinto! Uma explosão de cubos de gelo a saír-me pela garganta. E a sensação de deslizar com patins sob o chão enorme onde caiem, amplo e escorregadio, sem necessidade de quaisquer palavras... apenas um silencio imenso onde posso inventar a música e a dança! Parece-te uma contradição?
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Pale Horses - Moby

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

THE XX - XX / OUTROS...

Ainda os sons calmos e outonais. Muito bons!

The xx - xx (2009)








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Low Rising - The Swell season

Ola Podrida - Belly of The Lion (2009)
The Swell Season - Strict Joy (2009)
Munford & Sons - Sigh No More (2009)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

THE WOMAN IN RED



Hoje decidi pôr a nostalgia de lado, dar um xuto no desalento e comecei a dançar.

Comprei romãs porque decidi começar a comer romãs - de que tanto gosto - apesar dos caroços e da trabalheira que dão.

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Octopus - Syd Barrett and The Soft Machine (descobri esta há dias)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

HÁ DIAS ASSIM


Foto: Entardecer no Seixal



Andei a empatar o tempo, a produzir-me, a enfeitar-me, a bezuntar-me com cremes cheirosos a ajeitar o decote, a disfarçar as olheiras e a empandeirar o cabelo volumoso. Não me apetecia o trabalho. Estava um pouco ressacada de um fim-de semana de noitadas. Cheguei tarde e a más horas. A senhora começou a mostrar-me as nódoas negras na coxa, no braço esquerdo e os arranhões no pulso, provocados pelas unhas e ponta-pés da filha menor que se havia atirado a ela no meio de uma gritaria familiar. As lágrimas vieram-me aos olhos, comovida e triste. O pensamento começou a vadiar pelo meu dia a-dia.
Ao fim da tarde, cheguei a casa e antes que chovesse, agarrei no cão e fomos dar um passeio. Fez-se noite. Quando regressei o meu filho já cá estava e comentou que eu estava muito simpática. De facto, este delicioso animal tem o dom de me pôr bem-disposta. Ainda assim respondi: "Sim, até tu fazeres alguma que estrague tudo." A seguir abri o correio e quando vi a factura do meu telemóvel sentei-me, à beira de um ataque de nervos. Gritei o nome dele que veio com aquela cara, cuja descrição não me ocorre. Não se pense que o rapazinho é um desgraçadito, porque ele tem o dele. Foi uma discussão muito feia! Bastante feia! Ainda não me recompus e o pior é que ele amanhã faz anos... e a única coisa que me apetece é meter-me no carro e desaparecer.
Que se passa com os nossos filhos? Que mundo é este? Onde é que vivemos? Veio-me à memória o "Guardador de Vacas e de sonhos", "A Cidade e as Serras", vá-se lá saber porquê!


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O meu amor existe - Jorge Palma

HÁ TARDES ASSIM!

Foto: Maré vazia ao anoitecer no Seixal


14H40 entro no café. Sento-me descontraidamente. A conversa estava animada. Dou por mim a falar do campo, do frio das serras, das aldeias com casinhas de pedra, do cheiro pestilento do estrume que tanto me incomodava quando era muida, dos burros carregados de lenha e de moscas esvoacentas à volta do focinho. Não, não cresci no campo, mas conheci-o muito bem porque estive sempre muito perto dele. Havia fragas gigantescas que se assemelhavam aos montros que me atormentavam de noite. À noite, nas estradas desertas, as serras e os montes eram grandes paredes escuras com janelas para um céu enorme carregado de estrelas. Sei disso porque me lembro muito bem de andar de mota com o meu pai. Saíamos de manhã, a caminho das festas das aldeias e regressavamos sob a noite escura. Aquela mota devia conhecer bem os caminhos, pois levava-nos, quase sempre aos sss, devido ao excesso de tintol de que o meu pai tanto gostava, por ali fora, até á porta de casa. Eu agarrava-me frenéticamente ao peito do meu pai, mas penso que o que mais me assustava eram as serras e os montes sombrios sob aquele céu imenso. Estava eu no café, a falar de uma casa pequena, no meio de nada, com um alpendre, uma cadeira de baloiço, o cheiro a terra molhada, o horizonte vazio de prédios, cinzento, amarelo, azul, consoante o tempo, as estações. Umas alfaces regadas, talvez uns tomates. Galinhas e outros animais comestíveis não, porque afeiçoar-me-ia e não teria coragem para os matar. Talvez me tornasse vegetariana, praticasse yoga ou meditação. Faria caminhadas, falaria com as plantas. Haveria de ter cães e gatos e faria piqueniques de manta estendida no chão. Eram 17H05 quando, de repente, comecei a sentir um calor estranho, falta de ar, uma fobia qualquer que me fez levantar e quase correr para a porta. Expliquei que tinha de sair dalí imediatamente. Faltava-me o ar e também um cigarro. Na verdade, creio que já não sei estar tanto tempo fechada num café. Perdi o hábito. E todo aquele sonho que estava a transbordar nas palavras fez-me sentir quão fechada é a minha realidade citadina, quão apertado o meu horizonte, quão pequeno o céu sob o qual vivo agora.

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Branches - Midlake

domingo, 15 de novembro de 2009

RECUERDOS

Foto: Seixal
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"O abandono não passa pela ausência, mas sim pela não presença, qualquer que seja o estado de distância..."
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- Xeltox - 11/12/2007

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Bien Avant - Benjamin Biolay (esta é dedicada a ti Xeltox, não entendo muito bem a letra, mas a melodia é ótima e sei o quanto aprecias)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

I KNOW

Foto: Baía do Seixal - "Levo-te comigo"



Quando o coração não sabe o que sentir, bate aleatóriamente, esquerda, direita, esquerda, esquerda, direita, direita, direita, esquerda... e a um ritmo atabalhoadamente monótono. Falta-lhe a cobiça, a cor do pecado, a intriga, a cor do ciúme, o mistério, a cor do desejo... falta-lhe, sobretudo, o ritmo.
Quero apaixonar-me. Decididamente, o meu coração reclama uma paixão. Ele quer desfrutar da hora do encontro, daquele momento em que sai do peito pelos olhos, entra novamente pela boca, aos empurrões de palavras gagas e se engasga na garganta, quando os lábios se prendem noutros lábios e o sufoco lhe redobra o trabalho, a um ritmo onde o bater é um a-ver-se-te-avias.
Quando se perde algo vagarosamente - uma espécie de quimio-terapia que nos leva o cabelo e tudo o mais, mas depois nos devolve uma peruca lindíssima, uma esperança brilhante e momentos de ilusão - é como caír no precipício em queda livre: puro prazer, uma queda deslumbrada, a brisa a bater no corpo e lá em baixo o mundo inteiro, pequeno e banal! Depois o impacto, os pés a baterem no chão e a dor a conjugar-se com a realidade!
É esta sensação de estar tão longe, tão distante, o tempo arrefecido, quase frio, que me faz pensar que é urgente o aquecimento. É urgente tratar do coração. É urgente encontrar o ritmo certo. Pois não sei até quando bate um coração dentro do meu peito.



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Ne me Quitte pas - Jacques Brel



domingo, 8 de novembro de 2009

LANZEIRA

O dia parece-me um retalho. Um quadrado pequeno, cortado de uma peça que tinha um destino qualquer. hoje o dia parece-me um pedaço de algo por acontecer.
Anoitece. Há uma ventania espavorida a arranhar as janelas. Eu que as queria manter abertas para espalhar reticências, penso agora, que o melhor será fechá-las. E ponto final, fez-se noite. De repente!
Não cabem conclusões num dia tão pequeno e nem encontro espaço para a fundamentação. Estou cansada de não fazer nada! Apetece-me um whisky, uma massagem e conversa fiada.
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Psyco Killers - Talking Heads

sábado, 7 de novembro de 2009

ED HARCOURT E OUTROS...

Para aquecer a alma nas noites frias de inverno, de preferência com a lareira acesa e uma boa leitura a acompanhar. Desaconselham-se a quem sofre de nostalgia, melancolia, desalento e outras maleitas do género.

Ed Harcourt - "The Beautiful Lie" (2006)


Peter Doherty - "Grace/Wastelands" (2009)


Volcano Choir - "Unmap" (2009)


Richard Hawley - "Trueloves Gutter" (2009)


Piano Magic - "Ovations" (2009)


Múm - "Sing Along to Songs You Don´t Know" (2009)


Air - "Love 2" (2009)
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Iluminated - Múm






sexta-feira, 6 de novembro de 2009

AVERSÕES


Há gajos que deveriam ser multados a cada vez que dizem merda. Mas como há gajos que seriam multados a cada vez que abrem a boca, o melhor é dizer que há gajos que deveriam estar caladinhos.
É que há gajos que dizem merda com a convicção de estarem a dizer outra coisa. São gajos que não têm a noção de merda ou não têm a merda de noção alguma.
E quando dizem merda estão sempre com um sorriso parvo, com aquele sorriso de estrela que está sempre pronta para a fotografia. Não chego a saber se me incomoda mais a merda que dizem se o seu sorriso de merda.
Sou tão mázinha!
Que Deus me perdoe! E me livre do mal...
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Rooks - Shearwater

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

TERCEIRO DIA


Eu gosto de mimos. Uma dose díária, ainda que pequenina, faz bem à saude física e mental. Eu gosto de ser mimada.



UFA!...
E pronto! Tudo terminou e correu muito bem. Mas, de que andarei eu a falar? Desabafos, meros desabafos.
Gosto do que faço. E aquilo que faço, gosto de o fazer bem. É nesse sentido que trabalho. Normalmente sou ótimista e segura mas, por vezes, acontecem coisas imprevisíveis que põem tudo isso em causa. É então que sou posta à prova. Caio amendrontada ou enfrento a situação por forma a dar-lhe a volta?
Caio amedrontada, claro. Afinal onde anda o super-homem? Alguém o viu? Pois não e eu também não. É por isso que me levanto. Poderia virar as costas, é sempre a solução mais fácil. Mas não gosto de deixar coisas por resolver e só o medo me pode impedir de as resolver. Porém, a maioria das vezes, o medo provém da nossa imaginação, porque imaginamos que se vai passar isto e aquilo, antecipamos o futuro. Mas o futuro nunca é o que imaginamos, pois não? Se fosse, ele dava-me mimos.


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Road to Nowhere - Nouvelle Vague

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A CAMINHO DO SEGUNDO


Anteontem a lua estava assim, quase plena, em pleno dia!


Estou cansada de dizer às pessoas que sofrer por antecipação é completamente inútil. Repito sempre, também para mim mesma, que tudo se resolve. Como de facto assim é. Mas claro, o pensamento comanda, toma as rédeas, assume a forma daquilo que mais tememos e nem sempre o conseguimos controlar. Hoje provei, mais uma vez, que o medo é um esqueleto no armário e que o melhor é abrirmos a porta e fazermos-lhe o funeral.

PRIMEIRO DIA

Foto: Baía do Seixal


Um dia dormimos mal porque sabemos que no dia seguinte o "homem do saco" vai chegar. E acordamos com ansiedade e angustia. Sabemos que chegou a hora de enfrentar os nossos medos. Já não há como fugir. Se fugirmos ele há-de alcançar-nos, se ficarmos ele meter-nos-á no saco escuro. De qualquer maneira, "o medo é como uma floresta fechada, quanto mais profunda, mais escura e aterrorizadora". Este medo de enfrentar o "homem do saco" pode ser mais escuro do que o próprio saco! É necessário fazer o que é necessário fazer, independentemente do que venha a acontecer. Tão simples quanto isto! Não há magia que possa mudar as coisas. E enterrar a acabeça na areia tira-nos o ar de que precisamos para viver. Respiro fundo. Estou pronta.




Todos nós precisamos de:


"Serenidade, para aceitar as coisas que não podemos modificar,
Coragem para modificar aquelas que podemos e a
Sabedoria para distinguir uma das outras”

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ENQUANTO O COMBÓIO NÃO VEM

Foto: Trás-os-Montes - Rio Tua
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Quero acreditar que tudo faz sentido, até aquilo que não tem sentido nenhum. Há coisas que morreram em mim, como se nunca tivessem sido. E quando me vêm à memória, não me reconheço, sinto-me uma estranha que um dia acampou dentro de mim e partiu sem deixar rasto. Ainda assim, penso que tudo deveria fazer um sentido qualquer, para a vida não se assemelhar a um jogo, a um baralhar de cartas, a um lançar de dados - às vezes a favor outras contra.
Por vezes sou obrigada a concluir que quando encontro o que procuro não encontro nada. Terei de perceber que não adianta procurar. O encontro serve apenas para reafirmar aquilo que já sei por dever de inteligência: não se procura o absurdo. Porém, resta-me uma dúvida: o que é o absurdo? Encontro e vejo, quase de imedito, a imagem a desaparecer num espelho que se embacia, e os pormenores passam a contornos abstractos que só de longe, de muito longe se observam. Possivelmente não procuro nada, apenas não quero desagarrar o desafio que prendi entre os dedos
Às vezes transgrido. Só para por à prova o princípio que nada acontece por acaso. E, por acaso, acontecem-me coisas. Embriago-me, avivo-me, reanimo-me, restituio-me. É só para ver se tudo faz sentido. E depois o constrangimento da percepção do sentido nenhum. Penso que a minha alma ficaria maior se tivesse um blog cor-de-rosa ou falasse de Deus. Sou pequena e acho que nem tudo vale a pena. Paciência! Ele dirá que isto não é filosofia, somente orgulho. E eu direi que sim, um insuportável orgulho que me leva a dizer-lhe que não. Gosto de romãs e não como romãs. Tantos caroços cansam-me. E gosto de o ver comer romãs. Há uma sensualidade inesgotável no modo como ele come romãs. Sou impelida a transgredir por via das romãs. Só para, depois, me poder interrogar se há alguma coisa que faça sentido.
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Oh No - Andrew Bird

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PARA ONDE VAIS?


Para onde correm as lágrimas? Que procuram elas quando correm? Que profundidade atingem? Que sentido procuram? Que história nos contam? Para que servem?
Medir a intensidade das lágrimas levar-nos-á à intensidade de coisa alguma? Lá fora chove de olhos abertos. Cá dentro escuto, de ouvidos embriegados, um silencio escuro. Respiro lentamente um falso sono de esquecimentos. Vêm- me à memória uns braços, abraços e o calor de um peito. Que peito? Que importa isso agora? Um peito forte como uma parede e macio como uma almofada, onde o meu rosto repousa. Sinto a falta. Não é de ninguém. Sinto uma falta, inexplicável, de calor! Estou viva, sólida e em bom estado. E não sei como utilizar esses predicados! Não me lembro como foi que esta solidão se apossou de mim!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

QUE É DE MIM?



Quem me conhece, conhece bem a minha paixão pelo "Asterix"- que está a fazer bodas de prata e o medo que partilho com os Gauleses: que o céu me caia na cabeça. Também, quem bem me conhece, sabe da minha admiração pelo "Peninha", a afinidade que tenho com o pato "Donald", a condescendência para com o "Pateta", a camaradagem com o "Recruta Zero", o parentesco com o "Zé Carioca", a amizade com a "Lulu", os esquemas com os "Irmãos Metralha", a sociedade com o "Mancha Negra", o companheirismo com o "Mikey", a amizade com a "Mafalda" e o idealismo pelo "Super-Man".
A música e a BD acompanhara-me toda a vida.
Alguém se lembra da "Vampirela"? Para quem nunca ouviu falar, era uma BD erótica, bastante interessante, que coleccionei há anos. Gostava sobretudo de copiar, a olho, as imagens. Porque desenhar foi a minha primeira paixão. Era eu bem pequenina e sentava-me a desenhar tudo o que via. Mal sabia escrever! Depois comecei a usar técnicas e fazia disso o maior Hobbie. Comecei também a escrever poemas ridiculos, contos e um romance. Até que dei por mim na faculadade, depois no registo civil, depois na maternidade.
Ainda hoje, muitas vezes, deito-me com estes livros à cabeceira, graças às maravilhoasas colecções que salvaguardei e que, felizmente, o meu filho aprendeu a utilizar sem estragar. Nisso sai à mãe. Os livros são sagrados!
Quando fui à terra, há pouco tempo, acariciei a minha colecção de revistas "Música & Som", a revista portuguesa dos anos 80, que eu assinava e pagava antecipadamente para que nenhum nº falhasse. Faltam algumas, é certo, mas ainda estão lá bastantes.
Também tenho uma considerável coleçcão de livros infantis e uma enorme colecção de cassetes de vídeo infantis, das quais nunca me consegui libertar pelas infindáveis vezes que as vi com o meu filho, já sem saber se era ele ou eu quem mais delirava com aquilo!
Hoje colecciono lágrimas e desgostos pelo ou com o meu filho. Bem sei que a adolescência é uma coisa complicada, o que eu não sabia é que ser mãe de um adolescente poderia ser uma quase tragédia. Ando triste, desgostosa, arrasada e sem saber o que fazer da minha vida! Tenho de parar de chorar, penso. Mas não sei como! Hoje pedi ajuda a um grande amigo meu. Não é nenhum psicólogo, mas é o pai do meu filho. E ele veio. Andou muitos quilómetros para o efeito, mas, como sempre e felizmente, quando envio um SOS ele aparece. Foi uma reunião dificil, mas necessária.
Ando para lá de triste. Hoje estou especialmente infeliz. É o arrastar de uma convivência onde sinto uma quase incapacidade de lidar com a situação! E eu que me julgava uma quase super-mãe ou uma quase super-mulher!!!!...............................................

CANSAÇO


Só eu saberei o que já fui. E nem eu saberei o que serei.
A terra alegra-se quando o sol a espreita.
Veste-se de flores garridas e perfumarias.
Parece doida!
Até inventa borboletas!
Há um cansaço que espreita a minha existência.
Como poderemos caçar borboletas sem aprender a voar?
Eu sabia que era amor porque eu me comovia.


"[...] sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus...como você me doía! - ( Caio Fernando Abreu )"


E depois fiquei exausta.
E distante do que fui.
Antes eu sabia qualquer coisa, hoje não sei nada!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

PALAVRAS PARA QUÊ?

Encontrei por aqui esta foto espantosa.
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For your lover give some time - Richard Hawley

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

DESVARIOS

Foto: "Lua cheia"
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A semana passada, tirei esta foto, da janela da minha cozinha . Bem se vê que a minha máquina é uma murraça. Mas a lua estava lá em cima, redonda e enorme, a apelar para qualquer coisa. Tenho uma janela que dá para a lua. E nem me dou conta que tenho uma máquina incapaz de captar a lua tal como eu a vejo. Da janela, eu via a lua e mesmo que a não visse ela estava lá. Eu podia não ter uma máquina para fotografar a lua. Podia até nem ver a lua e ela continuaria lá. Mas eu podia imaginar a lua tal como ela ali estava, cheia e esbelta, muito mais atraente do que na minha fotografia. Da mesma forma que também posso imaginar uma pessoa.
Da janela da minha cozinha eu olho e já não vejo a lua. Agora invento a lua em frente à minha janela. A lua é como o tempo e como as pessoas. Passam e não ficam! Às vezes voltam, e depois vão-se outra vez!
Abandonei a máquina sobre a mesa da cozinha. Parece que já não me faz falta. Houve um tempo em que se enchia de imagens e de sonhos, que depois apagava. Antes, tive uma máquina que se enchia disso tudo, mas permaneciam, não era possível apagar nada, nem mesmo as imagens desfocadas. Mas agora, podemos apagar tudo num instante!
Porém, se eu não tivesse tirado esta fotografia e não a tivesse gravado, poderia pensar que a lua era uma fantasia. Pois podia!
Já não vejo a lua. Não sei por onde anda. Morre o meu olhar na noite escura enquanto espreito pela janela. Tudo me parece um engano! Tudo! Hoje estou tão lúcida que chego a duvidar de mim própria! E a minha máquina fotográfica parece uma ladra de memórias. E o meu pensamento está tão vazio de imagens que parece uma maré baixa. Respiro angústias que prefiro não confundir com saudades.
Fecho a janela. Vou-me embora. Não tenho os olhos verdadeiramente abertos para ver a lua. Esta lucidez está voltada para dentro. E eu nunca tive fé. Nunca conheci nenhum deus. E tenho medo que o céu me caia na cabeça.
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Soldier On -Richard Hawley


terça-feira, 13 de outubro de 2009

INCERTEZAS

Tenho um atrevimento constante a roer-me o espirito. E uma cobardia permanente a constranger-me a vontade. Sou tão descarada que até o àvontade se envergonha. E tão retraída quanto um pêlo encravado. Isto não vem a propósito e até é estupido, mas tenho de dizê-lo: não me façam ouvir Antony and the Johnsons, não suporto, a voz provoca-me alergia, irritação e até mal estar - ouvi ao longe! Talvez um dia, quem sabe eu aprenda a gostar, tal como aprenda a confrontar este receio exacerbado de arriscar levar uma estalada, um não, uma gargalhada, um gozo, um silêncio, em suma: uma rejeição.
Lembro-me de uma noite, há muitos anos, um amigo desafiou-me a convidar um fulano para sair. Nunca o faria, embora andasse a sonhar com isso. E como quem não arrisca não petisca, eu não queria arriscar, arriscando-me a nunca o petiscar. Mas tal foi a convicção do meu amigo que eu agarrei no telefone e vai daí, convidei o rapazito para sair. Prontamente disse-me que não estava interessado. Desde então, vivo com esse trauma a infectar-me a alma. Se antes já era complicado tomar a iniciativa, a partir daí tornou-se um problema. Ora, não é que não saiba lidar com as rejeições, infelizmente já tive de enfrentar muitas e, devo dizê-lo, não faço dramas. Recupero á velocidade da queda, nem sempre, mas pelo menos tento, sigo em frente, nunca desisto de ser feliz.

A questão é mesmo esta: como enfrentar o desejo de avançar e o medo da reacção alheia? E se o alheio se comportar da mesma forma? Seremos como duas linhas paralelas, sem ponto de encontro! Seremos! Penso que jámais saberei como ultrapassar os meus receios. E também penso no que poderia acontecer... ou não acontecer!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

SEMPRE DIA

Foto: Trás-os -Montes - "Ponte Romana"
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"... soltou-lhe um último olhar. Mandou-lhe um beijo a voar por entre dois dedos esticados, e partiu."
Agora espera - com o coração a fazer tic-tac a um ritmo mais acelerado que o do relógio - o toque do telefone.
É assim quando a paixão começa.
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A frase entre aspas foi plagiada daqui
http://comboioturbulento.blogspot.com/
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Like Treasure - Editors

domingo, 11 de outubro de 2009

PENSAMENTO

Foto: "Contemplação"


O amor é um doce que azeda com o tempo.

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Jihad - Slayer

terça-feira, 6 de outubro de 2009

COM VIVER

Foto: Baía do Seixal


Ela precisava de sentir saudades. Daquelas saudades que enrolam o peito como se fosse papel onde não cabe escrita alguma. Ela precisava de sentir daquelas saudades que nos enchem de um grande silencio onde tudo grita. Só para não se sentir um livro a fechar-se devagar. Para não sentir o cheiro do pó a acomodar-se à sua história.
Tudo é tão previsível que até o inesperado morre no momento seguinte. Tudo o que é novo é acidental e imediatamente suspenso.
Nem sempre a lucidez é vazia de sentimentos. O que lhe falta é cor.
Ela tem um lado diferente, só que está voltado para uma parede branca.

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Just An Ilusion - Imagination

terça-feira, 29 de setembro de 2009

CONFRONTOS


Não te iludas!
Há monstros nos caminhos, de vigilia, escondidos atrás das árvores. E mesmo que derrubes todas as árvores, eles escoder-se-ão por entre as núvens. E mesmo que faça um sol abrasador e apague todas as núvens eles caminharão contigo, infiltrados no teu cérebro.
Há sempre monstros, por isso não te iludas!
Tens é de iludir os monstros.

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Ho Me - Nirvana

sábado, 26 de setembro de 2009

RESSENTIMENTOS




Eram os teus olhos, os teu olhos...
sempre os teus olhos...
espalhados pelas curvas do meu corpo,
a queimar a essência da razão.
Foram os teus olhos,
de noite
a rasgar a pele suada
e o desejo insuperável...
Bem podiam ter sido outros olhos,
mas eram ainda os teus olhos
parasitas com luz a a propagar-se no escuro.
Não sonhei esta noite,
porque o meu corpo perdeu a identidade.
Atravessei a manhã como quem atravessa o universo
e ainda não cheguei!
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Silver Trembling Hands - The Flaming Lips

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Foto: "Daninhas"

Levanto-me bem cedo. Abro o chuveiro e só corre um fio, depois gota a gota! Que é isto? Vou de torneira em torneira e nada. Tenho de me despachar, talvez a água volte depois de tomar o pequeno almoço. Mas não voltou!

Procuro o carro e não o encontro. Não me lembro onde estacionei. Dou voltas à rua e nem sombra dele! Querem ver que o roubaram? Estou com pouco tempo e a começar a desesperar. Por fim alcanço-o completamente escondido entre outros dois que me impedem de sair. Apito. Apito e apito, até que lá aparecem dois imbecis.

Chego ao escritório já meia atarantada. Apercebo-me que não tenho internet e o telefone não dá sinal! Mas o que é que se passa? Desligo cabos, ligo cabos e nada acontece. O tempo urge. Estou a ficar atrasada e detesto atrasos! Do telemóvel ligo para as avarias a comunicar o (in)sucedido. Cai a chamada. Raios! Fiquei sem bateria! Não posso fazer mais nada. Tenho mesmo de ir.

Meto-me no carro. Há um movimento acrescido, as pessoas circulam pelo meio da estrada, alheias ao trânsito! Há carros por todo o lado, parece uma selva agora que as aulas começaram! Quando estou quase a chegar ao local de destino, vejo sinais e bófias por todo lado. Obras. O trânsito cortado! Raios! Estou atrasada. Sigo um outro percurso. Vou distraída a tentar perceber se este dia está mesmo a acontecer ou se estou a sonhar. Tenho de virar á direita, à direita... rodo o volante bruscamente, sem reduzir a velocidade e sem trocar de mudança. Perco o controlo do carro, galgo o passeio, faço umas habilidades quaisqueres e volto à estrada com o coração nos pedais. Devo estar a sonhar!

Chegada ao destino, vou para entrar no parque de estacionamento, estava fechado para obras! Tive de andar às voltas. Percebi então que estava acordada.

De volta ao escritório. Ligo para a Novis. Quero resolver a situação do telefone e da internet. Música. "Marque 1". "Marque 5". "Marque 3". Música. Atende-me uma pessoa com toda as formalidades, com cumprimentos e larguras: "No que posso ajudar?" Explico a situação. Pede-me a identificação e vai reencaminhar-me para outro assiste. Música. Tudo se repete. Música. À terceira pessoa eu digo: "Minha senhora estou a ficar cansada de dar os meus elementos, de explicar a situação, de levar com música e de me sentir uma idiota. Aviso que estou a ficar irritada. Além de que estou a ligar de um telemóvel e a chamada não é gratuita para esta rede..." Responde: "Lamento, mas vou passar ao assistente que trata desses assuntos, eu não posso fazer nada." Música. E gafanhotos a voarem à minha volta. Por fim: "Bom dia, em que posso ajudar?" O cavalheiro tinha uma voz sensual, mas não foi suficiente para me entreter. Repeti os dados e ele mandou-me aguardar! Perdi a paciência e desliguei o telefone para não maltratar o Senhor pois já não estava a conseguir conter-me.

Fumei um cigarro encostada à janela a ver como os gatos brincavam descontraídamente no quintal do rés-do-chão. Hoje o mundo parece-me voltado do avesso! Mas ali, no quintal, o mundo parece uma coisa pequenina e simples, onde tudo está em harmonia.