quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

PENSAMENTOS DISPERSOS


Ás vezes, no calor do sofá, ao serão, penso em todas as coisas que tenho para dizer. Aconchego-me. O calor reprime-me os gestos e queima-me o pensamento. Aquieta-te. Nínguém tem necessidade de conhecer a tua não-existência.
A vida, dizem, é necessário perde-la para termos consciência que a possuíamos.
Os oportunistas não precisam de ter uma vida, colam-se à vida dos outros e vivem.
Desconfio que tenho em mim um grande espaço ocupado por inteiro e por coisa nenhuma!

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God Knows - El Perro Del Mar

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

DESABAFOS




Abençoado 2010! Quem começa bem não tem razões para se preocupar. Ainda decorre o Janeiro e eu já tenho razões para cantar glórias! Assim, sim! Olé! Como dirão nostros hermanos.


Quando cheguei de férias, meti a chave na porta e logo deparei com um amontoado de coisas brancas no chão da entrada do primeiro compartimento. Mas que raio será isto? Vou ver e era estuque. Então reparei que a madeira (aquela madeira à volta da porta, colada à parede, que não sei como se chama) estava a deslocar-se e havia uma fresta de alto abaixo. Antes mesmo de arrumar os sacos (e se eu estava cansada depois de mais de cinco horas de viagem!) fui falar com o administrador a fim de saber se tinha havido obras no prédio que tivessem abalado a estrura do mesmo. Esteve aqui a observar mas não me soube esclarecer. A fenda tem vindo a aumentar e não pára de caír o estuque. Não bastando, começaram a surgir gotas de água que escorrem pela parede. Chamei cá um técnico e quis saber se seria algum cano rebentado. Disse-me que era humidade concentrada que provocava esse efeito na madeira e na parede. Ok. Antes asim!
Dois dias depois o despertador do quarto começou a roncar e nada o calava. Mexi em todos os botões, mas nada! A solução, para enfim poder dormir, foi comprar outro.
Alguns dias a seguir, depois de saír da casa de banho o puto diz-me: "Mãe vai ver o que se passa com o chuveiro, pois acho que está estragado." Estava! Tinha-se partido uma peça. Comprei-o no verão, mas enfim, coisa de pequena importância, vá-se lá saber onde guardei o recibo! Lá fui comprar outro.
Decorridos mais uns dias, entrei no carro para ir trabalhar, dei à chave e nada! Volto a dar à chave e nada! E assim vezes sem conta. A bateria pifou e teve de ser sustituída. Pronto, antes isso que o motor.
Este sábado, o puto levantou-se, foi tomar o seu banho e, de repente começou a gritar: "Ò mãe, a água está fria e não aquece." Calma, deve ser das pilhas, já as vou trocar". Mas nada, nunca mais deu sinal de vida! Chamei o técnico e pedi-lhe que também me arranjasse a máquina da roupa, pois em Dezembro deixou de centrifugar. Sim senhor, o homem fez o trabalho dele, paguei-lhe e foi-se embora. Acontece que o esquentador já não está a funcionar novamente!
Há pouco, cheguei a casa cansada e fui fazer o jantar. O grelhador é um dos meus melhores amigos. Estava a carne a grelhar enquanto fazia o arroz e ouvi um estoiro. Deu-se um apagão. Lá fui ligar o quadro e tentar perceber o que se tinha passado. O grelhador não voltou a acender! Pifou! Foda-se! Será possível?!- Pensei? Era! Mas pronto, não foi nada de grave! Pior seria se ligasse o quadro e nada se acendesse.
Ah! Já me esquecia, a semana passada, depois de um estado de guerra, o puto declarou ofialmente que me odeia. Está bem! Bem sei que os ódios da adolescência são tão quentes como o amor de estudante: não duram mais que uma hora.
Isto é uma constante! Muitas vezes refiro que sou mais azarada que o Pato Donald e nem me acreditam, mas o certo é que quem me conhece bem sabe que se um vaso caír duma janela será em cima da minha cabeça.
Há minutos o puto chamou-me e perguntou: "Mãe, acreditas em bruxaria? Tens de pensar sériamente nisso." Não pude deixar de me rir. "Acredito é que tu podes ser melhor e fazer com que os dias se tornem melhores. Isso sim." - Respondi.
Acredito no azar. O azar tem sorte comigo, encontrou-me há muitos anos e está sempre a jogar. Porém o azar também tem azar comigo, é que já estou tão habituada, que não consigo reagir de outra forma senão encolher os ombros. Que se lixe, não sei desesperar-me.
Tenho saudades de um amigo meu de Coímbra que costumava dizer que era um gajo cheio de sorte. Quando lhe perguntavam porquê ele respondia que a sorte o acompanhava porque o azar andava demasiado ocupado comigo, que como ele andava sempre comigo e o azar me escolhia, ele andava protegido. Há coisas que nunca mudam! Sempre me lembro da minha vida ser uma sucessão de factos inexplicáveis! Por outro lado, sinto-me uma sortuda, porque também estou sempre rodeada de pessoas que me amam, que me querem bem, que se preocupam comigo, que me amparam e protegem. Ás vezes nem sei explicar ou compreender como tudo se equilibra!
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Never tear us apart - INXS


domingo, 24 de janeiro de 2010

PORQUE SONHAS?


Aguardo a Primavera que parece distante. Caminhar descalça sobre o chão aquecido pelo sol matinal. Pisar a realidade coberta de raízes que despontam.

Diz-me, porque sonhas?
Que prazer te dá essa irracionalidade de carregar impossibilidades no pensamento?
Pensarás que o labirinto dos sonhos te permitirá controlar o tempo? Que poderás ser outra nesse espaço escondido?

Que nada te aprisione. Vive a real felicidade. Aquela que podes tocar com as mãos, os olhos e o olfacto e que se transcende dentro de ti antes de partir. Nada aprisiones. O que chega a nós também partirá.
Que te restaures ciclicamente, pois é assim que tudo se cumpre.
Cria a tua própia vida à medida do que és capaz de viver. E só depois flutua na cegueira dos sonhos. Porque, às vezes, é preciso fechar os olhos para se ter mais luz e fazer encenação para se obter mais vida.

Nos sonhos cabes inteira dentro de ti. Será por isso, só por isso, que sonhas.

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On The Other Side - The Strokes

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O BEIJO


Há homens que não beijam. Ou porque não o sabem fazer ou talvez porque pensam que estender os lábios fechados, encostá-los a outros lábios, em forma de bico e esmagá-los duramente, seja beijar.

Há homens que não beijam decentemente. E quando digo decentemente quero dizer daquela forma indecente e lambuzada em que as línguas se buscam a salivar de desejo, os lábios se contorcem e mordem e os bigodes ficam todos molhados. Um beijo decente encerra em si mesmo uma elevada carga de indecência.

O beijo é a primeira e a mais primária forma de manifestação de afecto. Todo o relacionamento amoroso se inicia por um toque de mãos ou de lábios, quase sempre ferveroso . O beijo é a mais deliciosa forma de dizer amo-te, quero-te, desejo-te, adoro-te, estou apaixonada/o. De que forma o dirá quem não beija? Apenas por palavras? Uma boca pode dizer muita coisa, mas uma boca fechada ao beijar é como uma porta fechada, ou como um livro que encerra em si muitas palavras escritas, mas que só fazem sentido quando o abrimos e retiramos dele o prazer das palavras vividas.

Há homens que nunca beijam, embora encostem os lábios. Mas porque raio é que estes homens não o fazem? O beijo é uma manifestação espontânea. Não se ensina a beijar.

Há muitos anos tive um namorado que não beijava. Estendia os lábios seca e raramente. Aquilo incomodava-me. Durou muito pouco, apenas o tempo suficiente para perceber que seria sempre assim e que assim, não era nada. Nenhuma luz se acendia dentro de mim, pelo contrário, se alguma existia, apagava-se. Disse-lhe que não podiamos continuar, pois não sentia paixão alguma no nosso relacionamento. O rapaz desesperou-se. Durante muito tempo insistiu em me telefonar pois dizia-se apaixonado. Ora essa?! Desculpe se quiser, mas o beijo fala comigo e neste caso não me dizia nada.

há uns dois anos atrás tive um namorado que também era assim. Era tão bonitinho! Era tão bom rapazinho! Não fosse o beijo, ou a falta dele, eu até poderia ter-me apaixonado. Mas porra! Comecei a pensar que se calha tinha mau hálito, daí que comprei um elixir e comecei a andar sempre de pastilha elástica com sabores a frutas. Questionei todos os meus amigos e amigas se notavam em mim algum cheiro, encostava-lhes a boca, lançava-lhes um bafo e pedia-lhes para serem sinceros pois era de suma importância saber a verdade. Nada! Eu andava traumatizada! Não resultou. Não poderia resultar. Nunca resultaria.

O beijo é o mais importante elo de ligação. Daí a importância do primeiro beijo, o guardarmos na memória o seu sabor e o seu calor.

Afinal que sabedoria exige um beijo? Nenhuma. Um beijo não se pensa, dá-se porque se deseja e sente-se simplesmente com a mesma intensidade do desejo.

Há dias, em conversa com um grupo de amigos e conhecidos, um fulano comentou que detesta beijos de boca aberta. "Interessante - pensei - deixa-me cá explorar o assunto." Perguntei-lhe porque razão. Disse que lhe faz inpressão a boca toda molhada, toda aquela humidade. Então perguntei-lhe se as outras humidades também lhe faziam impressão. Respondeu-me que não! Pronto, está explicado. Só não está é entendido, cá pela parte que me toca.
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The high road - Broken Bells

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

ESTOU FODIDA E MAL PAGA


Em frente ás minhas janelas tenho uma igreja qualquer, muito estranha, frequentada por pessoas estranhas. Ali se fazem piqueniques, bailaricos, cânticos, dança, step, ginástica ritmica, festas de carnaval, fim de ano, casamento, missa, skate, bola, reuniões e velórios. Por mim tudo bem. Como eu só fumo na janela da cozinha, até me divirto a apreciar aquela diversidade de acontecimentos, tão inédita, na casa do Senhor. O pior é quando há velórios. Houve um que eu podia observar o morto da minha janela. Como aquilo está cheio de janelas que não têm estores, cada vez que eu ia fumar um cigarro lá estava o bacano! Não é por nada, mas tenho um medo dos mortos que me pelo. Nada me mete mais medo! O pior foi à noite. Eu acendia um cigarrito e olhava para as janelas. Não via nada, mas sabia que ele estava ali. Começava a arrepiar-me, a olhar para trás, a ouvir estalidos estranhos!... Ainda por cima, era fim-de-semana e eu estava sozinha. Bem sei que parece mentira, mas não dormi nada essa noite e tive de deixar as luzes ligadas pela casa. Pois é! Há pouco lá vou eu fumar o meu cigarrito e o que vejo!? Um filha-da-mãe dum caixão rodeado de gente! Estou fodida esta noite, pensei. Claro, sem dúvida! Ainda por cima estou sózinha! Mas esta malta morre sempre ao fim-de-semana? Arre!! Não terão mais nada para fazer numa sexta-feira á noite?!
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Spirit Lake - CocoRosie


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

EXPERIÊNCIAS QUE A VIDA ME DÁ


Há tempos postei aqui uma história que tem rodado de e-mail em e-email, sobre um velhote que visitava a esposa todos os dias no centro da terceira idade, sendo que esta sofria de Alzheimer e já nem sequer o conhecia. tanto quanto me lembro, ele fazia-o porque, embora ela já não o conhecesse, ele conhecia-a muito bem.
Ora, ontem vivi uma experiência muito semelhante. Pela manhã, desloquei-me a um lar de terceira idade para uma peritagem do foro psicológioco. Enquanto o perito não chegava, fui conversando com o esposo da examinanda, um senhor de 80 anos, de boné e aspecto campónio. Era instruído, simpático e muito falador. Falou-me do seu emprego, da política, das dificuldades que atravessa para suportar as despesas do lar, do seu primeiro dia de escola, da sua infância na Beira Alta e dos ensinamentos da sua mãe de quem era admirador devoto. Contou-me dos bailaricos no Clube Recreativo e de como as velhotas o disputam para a dança. Depois contou-me como conheceu a esposa, como se apaixonou e o que fez para a conseguir namorar. "Ela era linda. Parecia uma boneca. Era tão perfeita (as mãos dele acompanham as palavras desenhando uma guitarra)! Tinha um corpo que até era pecado olhar para ele! E depois de a conhecer percebi que por dentro era ainda mais bonita. Soube logo que me ia casar com ela, antes de ela sequer pensar em mim." - Disse-me. "A minha mulher foi uma companheira maravilhosa." - Disse-o de uma forma tão intensa que até lhe rolaram duas lágrimas daqueles olhitos enrugados. "Separou-se de mim há quatro anos, quando a Alzheimer começou a atacar com força. Sinto muito a falta da companhia dela, é por isso que venho cá todos os dias. O meu filho paga-me a gasolina, porque sabe que tenho de vir."
Fiquei verdadeiramente comovida. O perito não compareceu, mas as quase duas horas que desfrutei na companhia daquele Senhor não têm preço.

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Under a Silent Sea - Loney, Dear

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

THE CINEMATICS - LOVE AND TERROR

Este acompanha-me há mais de um mês e não consigo arrumá-lo!

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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

TINDERSTICKS - FALLING DOWN A MOUNTAIN



O que aí vem para me aquecer o coração! Já cá canta e é tão delicioso como sempre.
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Peanuts - Tindersticks

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

PALAVRAS QUE O VENTO ME TRAZ



"... Estás bonita, bebe um copo comigo, agora reparo que estás bonita,merda, não era isto que queria dizer-te, mas estás bonita, está dito...Foi bonita aquela manhã em que adormeci no teu corpo,... cheiras bem...durante muito tempo andei com o teu cheiro no corpo,... Muitas noites...tinha um desejo louco de beijar-te, mas..., os dias breves do nosso encontro,esgotaram-se em ternura e solidão...
... mulheres como tu assustam. Não pedem nada e querem tudo... tenho na pele o teu perfume, quero-te na cama comigo,... Quero dizer-te meu amor..."

- Maria Aurora Carvalho Homem -

.Slow down Jo - Monsters Of Folk

sábado, 9 de janeiro de 2010

PALAVRAS, LEVA-AS O VENTO



"Nem sei se ao menos ouves o vento..."


Foram-se as palavras, arrastadas por um temporal que, em qualquer tempo do passado "mais-que-perfeito" ter-nos-á devastado, sem darmos conta. As palavras foram-se, como se vão as modas e muitas lembranças. Foi um abandono, talvez misericordioso. Antes, sem ti, o tempo era tempo excedente, vivia-o como trabalho extraordionário não remunerado. Tu eras o lugar onde eu queria ficar, o mais apetecido, e ocupavas quase todo o sentido das palavras. Ter palavras sem sentido nenhum, é como não ter palavras. Antes as palavras multiplicavam-se dentro de mim, guerreavam, atropelavam-se incessantemente. Vinham em setes perfeitos e eram rebentação nos meus dedos. Depois pacificaram, fizeram-se lagoa. Agora apercebi-me que se foram para parte incerta, que voltarão sine die, se voltarem desta sinistra contumácia. Antes, tu eras o maestro e todas as palavras compostas funcionavam em mim como uma orquestra. Hoje sinto uma grande privação. E nem Amor te digo, e nem Saudade, nem uma única palavra que reste, nesta montanha de escombros que fazem do meu peito um túmulo abandonado!


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Dance me to the end of love - Leonard Choen

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

AMBIGUIDADES


Nunca tão bem soube como hoje sei, que não sei o que quero.


É tão mais fácil saber o que se quer, quando o coração nos fala, ainda que nos diga o que não queremos saber!


Como poderemos tomar decisões quando não sabemos o que queremos? O que poderá resultar das mesmas? E da falta delas?


Entre a espada e a parede. Se recuo embaterei de costas no cimento. Nem mais um passo a dar, apenas a estática das coisas que não acontecem e a dinâmica do pensamento que me trará imagens irreais do que poderia ter acontecido. Mas nunca saberei mais do sei agora. Se avanço poderei dançar no fio da espada, equilibrio e desiquilibrio num abrir de braços, a medo, a gosto, vai não vai no pulsar das emoções, sob o risco de me cortar.
Mas o que me atrapalha não é a enorme sombra que se estende da parede atrás de mim e se reflecte na lámina à minha frente. Nem é a lámina que brilha sedutora e ameaçadoramente. O que me atrapalha é esta falta de atrapalhamento. Quando sei o que quero não hesito: decido, se tiver de decidir, ainda que com o peito a explodir de medo ou de emoção. O pior é esta inércia, esta falta de tormenta, este bater silencioso dentro do peito.


Vou deixar para amanhã o que podia fazer hoje, não é melhor a política, mas não encontro o tranpolim que me poderia fazer dar o salto. E se amanhã for tarde? E se um dia, uma hora, um minuto apenas, decidir por mim?


Reconheço que não ando muito bem das ideias. Voltei cheia delas e de entusiasmo e mal cheguei, num abrir e fechar de olhos, perderam-se!

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She Rode Me Down - Tindersticks

CADA DIA TE É DADO UMA SÓ VEZ

Foto: Nordeste Transmontano
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Não creias, Lídia, que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo.
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SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

COISAS A MODOS QUE... NEM SEI!

Foto: Nordeste transmontano
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Tenho um amigo que se quer divorciar. Conheço-o bem. Parece-se comigo. Temos afinidades grandes. Somos leões, com quase todas as caracteristicas que um leão pode ter. Se eu ligo aos signos? Sim. Desde há uns tempos para cá, comecei a tomar atenção a determinadas coisas que antes não ligava nenhuma (andava demasiado ocupada com a vida para perceber). A titulo de exemplo:

- Tenho depressões sazonais que duram cerca de 2 a 3 dias mensais. Lembro-me de, há anos, dizer a este amigo que não sabia porquê, mas quase todos os meses tinha 2 a 3 dias em que abria as torneiras e chorava desalmadamente. Percebi que sofro de depressão pré-menstrual. A partir daí arranjei formas de a combater.

- O desejo sexual, a euforia, a maluqueira e a boa disposição ( embora quase sempre presentes), cresciam de um momento para o outro, a dada altura do mês. Percebi que era na lua cheia. Hoje não preciso que ninguém me diga que estamos na lua cheia, eu sei-o pelos sintomas.

- As pessoas possuem caracteristicas praticamente imutáveis. Os sisudos são sérios e exigem dos outros mais do que os outros lhes podem dar. Os divertidos acham graça a coisas insignificantes, são tolos e maleáveis desde que felizes e apaixonados. Os ambiciosos são mais materialistas e menos escrupulosos. Os sonhadores são depressivos e ora felizes ora tristes. Etc. Ter a percepção das caracteristicas dos outros, permite-nos lidar com eles por forma a adaptarmo-nos. É preciso perceber os sinais que nos são transmitidos na relação com os outros e determinar as características imutáveis.

Os signos dão-nos algumas, mas nem sempre correctas, dessas caracteristicas. Conheço várias pessoas do mesmo signo totalmente diferentes. Ainda assim, comecei por me interessar pelo assunto tendo em conta a minha própria personalidade.
Sou excêntrica, faço coisas que nem às paredes confesso, porém, sou discreta (morderei pela calada? Digamos que sou madura, aprendi a viver as minhas excentricidades sem que estas interfiram com a minha vida corrente ou com a vida dos outros). Sou vaidosa (também de forma discreta, gosto de estar sempre bem ainda que para mim mesma, cuido-me ao pormenor, mesmo que não se note). Sou divertida e bem humorada. Há em mim uma luz natural (que só percebi tardiamente) porque faço amizades com facilidade, porque há sempre alguém que me rodeia, que me telefona, que me namorisca, que me procura, que se senta ao meu lado (trata-se de auto-confiança e chama-se cativar). Tenho um dom natural para as artes. Comecei a desenhar com 4 anos. Aos 16 anos escrevi um romance. Enveredei por uma profissão que exige "arte e engenho", adoro teatro, pintura, cinema, música e fotografia. Sou generosa. Dar é multiplicar. Os povos antigos davam para colher. A dádiva só pode trazer fartura. É o meu lema. Sou apaixonada. A paixão é o meu leme. Quando amo, faço-o desmedida e desinteressadamente. O amor é o bem supremo que me conduz. Mesmo sem amor, nunca estou só. Um leão nunca está só. Está sempre rodeado por alguém que lhe dê amor. Percebi isso depois de me divorciar. Há sempre alguém, ainda que não haja "ninguém". Porque um leão é solitário mas não sabe sê-lo. Sou fiel, orgulhosa e determinada,

E heis que me descobri leoa, com todas as características, desde há quatro anos. E tenho descoberto nos outros leões, identicas caracteristicas.

Por outro lado, nunca tinha conhecido ninguém do signo peixes, até um dia. Apaixonei-me por um peixito. Vá-se lá saber porquê! Nessa altura não pensava muito em signos. Aos meus olhos ele era deslumbrante! Apaixonado, romântico (suspiro), surpreendente, muito sério, sonhador, de confiança, elegante em todos os aspectos, maluco, divertido, apreciador das artes, da noite, dos petiscos e copos, simples, generoso, orgulhoso e por aí fora. Mas nunca soube por onde ele andava: se estaria na Terra ou em Marte! Nunca soube o que ele queria: se me queria ou se me desprezava! Nunca soube onde encontrá-lo: se estava dentro do corpo ou se voava! Nunca pude contar com ele: hoje era assim, mas amanhã dependia do humor. Era um solitário deprimido e parece-me que não queria ser de outra forma. E eu amava-o com um certo deslumbramento que nunca entendi. Quanto mais distante o sentia mais o queria. Aquela personalidade atraía-me. Acho que nunca o encontrei realmente, que nunca o conheci, que nunca o tive comigo. Então acabei a pensar nestas coisas dos signos. Nada é absoluto ou linear, mas que há características próprias de cada signo, estou convicta que há.

Desviei-me completamente do discurso inicial. Não era nada disto que pretendia escrever, mas, enfim, não vale a pena tentar segurar as palavras e o pensamento.
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Take it in - Hot Chip

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O INVERSO


Foto: Nordeste transmontano

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Dói-me a cabeça há vários dias e não há meio de me passar. Azedei!

O cão cheira aqui e cheira ali e nada! Ralho com ele, desapaciento-me, apetece-me dar-lhe uma cacetada! Ela sai de dentro do carro a acenar-me com o cigarrinho na mão e vem ao meu encontro com as dentolas enormes todas à mostra. O cabelo pintado de loiro berrante, as sobrancelhas grossas e pretas o batom vermelho, as peles, falsas ou verdadeiras, à volta do pescoço e a descerem-lhe até às virilhas. Não mudou nada! "Pirosa" - Penso de imediato. O cão enrosca-se nas suas pernas e tenta trepar por elas. "Ainda anda a dormir?" - Pergunta-me. "Não. Dói-me tanto a cabeça que mal consigo abrir os olhos"- Respondo. E nunca mais aquela boca se fecha, parece uma matraca! O cão não mija nem caga e apetece-me entregar-lho, pois fazem um belo par.

A casa está tão desarrumada! Entro e logo me apetece sair, mas não sei para onde. O mar chama por mim. Tenho saudades do mar. Está ali ao lado, mas não encontro a estrada!

O trabalho aguarda-me, amontoado em pastas sobre a secretária. Abro uma e ponho-a de lado. Abro outra e apetece-me mandá-la janela fora.

Prometi que iamos beber um copo quando chegasse. Até cheguei a dizer que tinha saudades! Eu disse isso?! Então é porque seria verdade. Mas quando agarro no telefone os dedos recusam-se a marcar a chamada! Se calhar não eram saudades. Se calhar, é receio de caír no mesmo erro. Ou se calhar é uma outra merda qualquer.

O telefone dá uma apitadela. "Olá Kerida". Olá Kerida?! Foda-se! Não respondo. Não me apetece. Hoje sou uma besta quadrada a abarrotar de hipocrisia.


Dói-me tanto a cabeça! É como se me doesse a vida!
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The Chronicles of Life and Death - Good Charlootte

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O REGRESSO

Foto: Nordeste transmontano
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Mais um ano!

Saí de casa com 17 graus, cheguei ao Norte com 3. Pelo caminho vivi sensações únicas. Percorri mais de 80 Km rodeada de neve. Tudo branquinho à minha volta! Um frio de rachar e eu bem quentinha dentro do carro, a deslizar sobre o gelo, devagarinho, e a sorrir como uma miúda que vai ao circo pelo Natal. A neve tem qualquer coisa de deslumbrante que mexe com as emoções! Talvez por ser branca, porque o branco é associado à pureza, à clarividência, ou simplesmente porque sim.

Chuva e frio, muito frio - as mãos doíam, os pés pareciam cepos e o nariz respingava, quando passeava pelas ruas da cidade onde cresci. Há anos que não vestia tanta roupa!

A casa estava quente e divertida. os cozinhados da mana sabiam a iguarias (que pecado!) e os vinhos (ai os vinhos!) divinalmente escolhidos pelo cunhado - especialista que venero - sempre divididos em 2 por 1 (dois terços da garrafa para mim, um terço para ele) e os licores caseiros feitos pela mana (xi!), os queijos regionais - mormente o de pedra (queijo de ovelha tão duro que só já vai à martelada), os salpicões... ha!... comi veado, pombo e codorniz - cunhado caçador - e cogumelos de espécies várias.

Amor, muito amor. Ali habita o amor. Aquele amor que nasce lá no fundo, no vale, e sobe a serra até tocar as núvens.

Saí de lá com 4 graus e cheguei com 15. Hoje de madrugada estavam 12 graus e eu julgava que era Primavera! Ainda não vesti um casaco, nem liguei o aquecimento e digo a toda a gente que está calor. Ficam a olhar para mim e perguntam-me se estou doente.


Enfim, de regresso á vidinha do costume!

Hoje julguei começar a trabalhar, mas deparei com um precalço. Levei o meu filho à escola e quando regressava a casa para levar o cão à rua cruzei-me com a namorada dele e tive um mau pressentimento. Fui ao pão, passeei o cão e saí desarvorada, novamente na direcção da escola. Dei com ele passeio acima, de mochila às costas, telemóvel na orelha, sorriso largo! E eu, devagarinho, a segui-lo, os nervos em frangalhos, dedo a fundo na buzina, pé no travão, quatro piscas e um berro: "Onde vais meu menino?" - O rapazinho dá um salto com o susto, perde o pio, engasga-se, fica branco como a cal e não sabe se há-de render-se ou fugir. Faço-lhe sinal com o dedo imperativamente e mando-o entrar no carro. Fui entregá-lo na sala de aula, sem fogo de artifício ou bandeira asteada. Toda eu era autoridade silenciosa. E fui pide, abanquei no portão da escola quase todo o dia. Os clientes telefonavam e eu ia marcando datas, sem agenda, de memória apenas. Não fiz nada, quase não comi nem bebi, mas ele não me fez de parva! Não me fez de parva!? Acreditarei mesmo nisso!? Xui. Bem sei, bem sei. Não importa e nem quero saber. O que eu bem sei, é o que em tempos fiz quando tinha a idade dele, mas os meus pais não iam à escola, só sabiam do horário que eu lhes inventava e não tinham carro para me perseguir. E ainda assim, não fiz mais, porque tinha um medo deles que me pelava. Mas o meu filho não tem medo e aí é que está o grande problema!


Há cerca de um mês e meio inscrevi-me no facebook. Hoje reparei que já tenho uma catrafada de amigos que não conheço de lado nenhum e com quem nunca estabeleci qualquer contacto, que a minha foto já faz parte de um calendário de 2010 (não, não estou nua nem coisa parecida), e ainda não percebi para que serve isso - o facebook! Há cada modernice mais parva!


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All That Numbs you - Anywhen