quinta-feira, 29 de setembro de 2011

CARTAS ANÓNIMAS



Ouço o tilintar do gelo no copo. Os teus cabelos estão ao alcance da minha mão. Apetece-me afagar os teus cabelos, sabes... com uma violência amorosa incontrolável, daquelas que não magoam... poderias parar de balançar o copo? É que o movimento estonteante do líquido está a subir-me à cabeça, e só já vejo os teus cabelos cruzarem-se com os meus olhos! Falas como quem canta, contas histórias que me fazem estremecer de ciúmes e o meu corpo fica hirto, qual pedra de gelo no teu copo! Não vá eu descartar-me, enfraquecer, perder o jogo. Solto sorrisos parvos, lembro-me das coisas mais estúpidas, como a missa nos meus domingos de infância, invento amores da adolescência, digo-te que estou apanhado pela mulher da lavandaria. E o que eu queria, era arremessar o meu corpo contra o teu, com uma suavidade de posse escaldante. Desculpa. Dizia eu?... que o sabor dos teus lábios me parece uma noite entre o inferno e o céu.. Mas o raio do teu copo, a balançar, debruçado sobre as minhas pernas, assemelha-se a concerto de Bach e quebra-me voz!  Sim, claro, tens razão em tudo o que dizes, que eu, mergulhado no teu cheiro, perco a razão, ensurdeço, acabo mudo. E agora, que te vejo através da pedra de gelo a tilintar nos meus miolos... diz... não, não é isso... dava tudo para para te tomar nos meus braços. Então... tomamos um café amanhã?

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