segunda-feira, 13 de abril de 2009

COISAS QUE ME PASSAM PELA CABEÇA


Na casa do meu pai, debaixo da minha cama, existe uma caixa cheia de cartas de há muitos anos. Crescemos juntos no nosso bairro de província. Eramos inseparáveis. A mãe dele tinha uma doença crónica e teve de regressar ao Porto, onde tinha toda a família. O ano lectivo ainda ia a meio e ele ficou na minha casa. Tinhamos treze anos. Quando chegaram as férias grandes, a minha mãe fez-lhe as malas e ele foi para junto dos pais. Fiquei com uma tristeza enorme. Durante anos trocamos correspondência, como se escrevessemos um diário. Ele vinha passar fins-de-semana. Quando passei a viver sózinha ainda o faziamos, mas depois ele casou-se e eu casei-me. E foi como um crucifixo. Ainda esperei a ressurreição, mas nunca aconteceu! Ele visitava os meus pais sempre que podia. A minha mãe dizia-lhe que eu tinha saudades e ele respondia que também tinha mas tinha de preservar o casamento, que a mulher dele morria de ciúmes, nem podia ouvir o meu nome. Eu sabia que ele tinha uma filha, onde vivia, onde trabalhava, mas não devia telefonar-lhe para não causar problemas! Desde que a minha mãe faleceu que não sei nada dele! Nunca lhe conheci a mulher nem a filha. Já não sei onde pára, qual a cor dos seus cabelos, se está gordo ou tem rugas! É como se tivesse perdido um irmão! Tenho saudades, muitas!

Uma colega minha, nunca vai a jantares ou almoços sociais sem o marido. Um dia perguntei-lhe porque razão não ia a um jantar e ela respondeu-me que não ia porque o marido não podia ir. Então perguntei-lhe se ela não podia ir sem ele, se não fazia nada sem ele! Ao que ela me respondeu que não queria abrir um precedente, que morto por isso andava ele! Se ela fosse, ele teria oportunidade para começar a ir sózinho quando ela não pudesse e isso ela não admitia, pois as colegas dele eram todas umas vacas. - Sem comentários!

Esta Sexta, quando cheguei, fui a um jantar de amigos. Um deles estava sempre a atender o telefone. Era a mulher dele a telefonar de meia em meia hora para saber onde estava, com quem, a fazer o quê. Ele cada vez mais irritado! Eu disse-lhe: "Não te zangues com ela, todas as mulheres são assim, controladoras, ciumentas, inseguras e chatas. E quando não o são, os homens suspeitam!" - Há que confortar!

Já perdi muita coisa na vida. O que nunca perdi foi a minha dignidade e a minha liberdade. E, jámais cortei a liberdade de quem quer que fosse. Já me roí de ciúmes, rebolei, chorei e quase trepei paredes - no meu silêncio.
Não entendo e custa-me a aceitar estas atitudes! Estas pessoas não sabem que a oportunidade está no café do bairro, no virar da esquina, no local de trabalho, na hora do almoço, no elevador do prédio, na loja das compras, numa casa de putas ou num site da internet?

Isto faz-me lembrar uma amiga que apanhou o marido a masturbar-se no banho e ficou chocada! perdeu o apetite e reagiu como se tivesse sido traída! Quando desabafou comigo perguntei-lhe se nunca se masturbava. Olhou para mim e sem responder à minha pergunta disse: "Ele tem mulher, não precisa disso. Já percebi que eu não o satisfaço, qualquer dia anda por aí à procura de outra!"- Santo Deus! Não vale a pena! O que não existe tem de ser criado!

De qualquer maneira, para não parecer mal, devo dizer que também há muitos homens que pensam e agem como as mulheres (ou estas mulheres), embora nunca o admitam.
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Tears For Affairs - Camera Obscura

3 comentários:

comboio turbulento disse...

adorei este texto, mesmo:)

maoqueeaaf disse...

não sei se consegues imaginar a quantidade de calos que acabaste de calcar a muuuuuita gente!! :D
excelente!

espinhos e outras flores disse...

Obrigada aos dois.

Beijokas