segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CARTAS ANÓNIMAS



Não preciso de olhar para trás. Bem sabemos que o passado é coisa que o pensamento nos estende à frente dos olhos, nos lugares mais impróprios e sem hora marcada. Já não vergo os joelhos nem tombo sobre o peito quando olho para dentro do passado. Já não preciso de acender a luz para ver as esquinas onde tantas vezes bati até sangrar. Abriu-se uma janela e depois uma porta. Agora posso entrar e sair, visitar as ruinas, em plena luz. Agora o teu rosto ficou claro e posso percorrer cada traço talhado na memória, sem sentir nos dedos a cicatriz da ausência. Que a ausência, o não ser nada, é por vezes a dor invízivel que nos deforma. Sobre o teu rosto estendo agora um poema branco, contracapa de um amor incompleto. No íntimo do poema, sei que serei sempre tua, mesmo quando já não souber quem somos. Agora posso respirar para lá do teu rosto e amar outro amor que seja meu.

Nenhum comentário: