quinta-feira, 30 de outubro de 2008

CARTA A LÁPIS


Desculpa. Desculpa nem sempre saber como estar, como partilhar. Desculpa nem sempre saber ser terna e doce e nem sequer saber como desculpar-me. Nem sempre o sorriso. Nem sempre a vontade. Vivem sombras dentro de mim que não sei como apagar. Por vezes nem sonhos. E nem palavras para dizer o que sinto ou o que não sinto. Por vezes um vazio inquietante e um silêncio a transbordar. E nem contigo e nem distante. Tão somente comigo mesma e com a minha solidão. Sem querer outra coisa que não seja o tempo dos passeios de mãos dadas e o sol no nosso horizonte. E palavras para poder rimar contigo.
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Micro Cuts - Muse

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

E PORQUE SERÁ?


"Com o tempo, não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros."
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- Mário Quintana em Poesia Completa -

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O SONHADOR...


"Meu Deus! Um minuto inteiro de felicidade! Afinal não basta isso para encher a vida inteira de um homem?..."
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- Fiódor Dostoiévski em Noites Brancas -

domingo, 26 de outubro de 2008

SINAL DO TEMPO


O infinito é apenas o sobressalto de uns minutos. Aqueles minutos em que o núcleo do universo és tu e a grandeza do momento. Depois acordas e sabes que nem o céu existe, que é apenas a vista da janela dos teus olhos, onde, jámais os teus dedos tocarão.
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Tenho nos sentidos a lucidez da vida, com toda a simplicidade das manhãs escuras. Já não aquele claro e imenso vazio das coisas por acontecer, ou a trágica angústia do irrecuperável nas coisas acontecidas. Antes a vida como um ressuscitar diário. A vida como um livro que se transporta debaixo do braço para todo o lado. E se vai lendo nos intervalos. E que revela sempre um pouco de novidade e mistério. E se quer ler mais, devagar, com o possível prazer do momento, sem pressa de chegar ao fim da história.
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A vida é indecifrável. Tem de viver-se como se bebe um chá. Lenta e sossegadamente. Ainda que tendendo para a monotonia, a morna e sonolenta quietude... chata, silenciosa e adormecida... isenta dos impulsos e turtuosos desejos, paixões arrasadoras, explosões interiores, arrepios... a vida toda na ponta dos lábios e da língua... e por vezes, a vontade de virar a mesa, puxar a toalha, abrir a janela e soltar uns berros... por a música aos gritos e insultar os vizinhos... fazer gestos obscenos ao condutor da frente e chamar nomes ao detrás... mijar na berma da estrada, desenhar uns cornos na fotografia do ex namorado e bigodes na da sogra...
Perdi-me!... Não, não, não. A vida indecifrável, vivida como quem escreve ou lê um livro de virtudes. Sem anseios no estomago e vontade de trepar paredes.
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Sem fendas. Nada para desvendar. Como um barco no rio a morrer ao pôr-do-sol e a renascer em cada madruga. Ao menos por hoje...
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A eternidade é tão só a doce imaginação de quem teme a morte.
Desenrolo-me, devagar. Hoje não vivo como se Paris fosse aqui ao lado e pudessemos descer o sena de mãos dadas.

sábado, 25 de outubro de 2008

NO ENTRETANTO DOS NOSSOS DIAS



Ela podia ter um pouco de vergonha e dizer "não". Aquele não que lhe ecoa no cérebro todas vezes que diz "sim". Mas ainda que ela diga "não" - o não que lhe transborda da consciência - é o "sim" que lhe soa nos lábios - aquele sim que lhe transpira na pele.
É por isso que quando ela diz "sim", é um sim mentiroso. Porque, em consciência ela quer dizer "não". Porém, é um sim de tom arrepiante, porque arrepia as entranhas e o caminho. Ainda que diga "não", é um não tão mentiroso quanto o sim, porque ela já lá está. Chega no preciso momento da chamada. Toda a distância a percorrer do sim à presencial chegada, é um mero momento em que varre o não da consciência e o corpo cintila no desejo.
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For Emma - Bon Iver




quinta-feira, 23 de outubro de 2008

ENCANTAMENTO


O encantamento é qualquer coisa que se infiltra no nosso cérebro, percorre as nossas veias, passeia-se pelo nosso corpo e instala-se no olhar. O encantamento é um estado de alma, com personalidade própria, que molda o nosso comportamento e desenha uma curva nos nossos lábios voltada para o céu. Já tive encantamentos que duraram anos. Aprecio qualquer um, até aqueles que acontecem quando um cão rafeiro passa por mim e duram apenas uns minutos. O encantamento pressupõe bem estar e serenidade. E por vezes euforia e felicidade extrema. Sinto-me serenamente bem.
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Wanna fall in love - Chris Isaak

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

TEMPORARIAMENTE


Deixa-me ficar no envolvimento d'um abraço, só enquanto penso o que fazer com as memórias.
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Momento - Bebel Gilberto

terça-feira, 21 de outubro de 2008

LELLO - É TINTO E DO DOURO

O Outono é um retrato de tempo ameno e indefinido. Não sei se é da inconstância do sol, se da imprevisibilidade da chuva. Fico assim..., como o tempo. Gosto de me envolver no mistério da ondulação dos sentimentos e de oscilar entre a ternura e a sedução. Não sei se incoerente, se puramente irracional. Baloiço... para cá e para lá, ao sabor da suavidade do vento. Não penso demasiadamente no ontem, nem alcanço a previsão do amanhã. Deixo-me embalar no perfume que hoje me encanta. Há encantamentos, há sim senhor, que eu bem o sei. Surgem pela madrugada em forma de sorriso, espreguiçam-se nos nossos braços e tomam o pequeno almoço nos nossos lábios. Depois vão conosco para o trabalho, atendem as chamadas com voz meladada, quase a imitar a nossa em dias de boa disposição. Almoçam no nosso prato, acompanham-nos o resto do dia distraíndo-nos aqui e ali numa quase lanzeira incontrolável, jantam à nossa mesa e, não bastando, apoderam-se do nosso sono. Os dias de encantamento duram 24H00! Pois o encantamento resiste ao sono, infiltra-se nos sonhos e perdura para além deles. E há encantamentos que duram meses e até anos.
Gosto do encanto do Outono. E de me sentir assim... numa amena tempestade de sentimentos temperados de imprevisibilidade.
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Sons of the silent age - David Bowie

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

AMO

Apetece-me trepar a um poste e uivar. Simplesmente porque hoje estou feliz. feliz como uma garotinha que recebeu um presente. My daddy veio visitar-me. Sim, veio lá do norte, quinhentos e tal quilómetros, e esteve comigo 45 minutos. Pode parecer pouco, mas foram suficientes para eu pular e rir durante um mês inteiro. Afinal de contas só vejo o meu pai uma vez por ano. Mas, com esta, já é a segunda vez este ano! Foi ao jantar de formatura da neta. Formou-se em medicina. Sim senhor! O velhote só tem a quarta classe, mas tem uma descendência de letrados! O velhote está impertigado de felicidade! E eu também! Tanto que até estou comovida! Tinha tanta coisa para escrever... afinal fico-me pelas emoções!...



terça-feira, 14 de outubro de 2008

DÁ-ME LUME

Guardo o meu amor passado (no sentido de quase acabado, mas não desfeito), num envelope com janela. Fechado. Não porque tenha endereço e faça intenções de remete-lo ao destinatário, apenas porque ainda não estou preparada para o manter no escuro.

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Cant get enought of your love - Bad Company

domingo, 12 de outubro de 2008

THE WALKMEN - YOU & ME / OUTROS...

The Walkmen - You & Me (2008)

Travis - Ode To J. Smith (2008)


TV On The Radio - Dear Science (2008)



Portugal, The Man - Censored Colors (2008)


The Hold Steady - Stay Positive (2008)

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Chove ao som da música. Aqui todas as coisas têm um só cheiro. E a graça de uma lembrança. Penso que tudo é possível, que tudo está a acontecer. É o Outono, o Outono... Dizem que as hormonas femininas se alteram no Outono e causam depressão, estado de tristeza e ansiedade. Dizem... talvez não, talvez nem por isso... não sei! Gosto das paixões outonais de cores alanrajadas e beges e penso em dois corpos despidos, encruzilhados sob lençóis de folhas caídas. Gosto do Outono, de ouvir música enquanto chove lá fora...

sábado, 11 de outubro de 2008

COISAS

Penso no porquê das coisas. Como se todas as coisas tivessem de ter um porquê! Ou como se tivessemos de ter explicação para todas as coisas!
A noite passada ele ligou-me eram 21H00 para me dizer que ela lhe telefonara aos gritos a ameaçá-lo.
Ela ligou-me às 21H30, para me dizer que estava pronta para a batalha e que ele é um merdas.
Eu continuei a beber ginginha e a ouvir Piano Magic num lugar estranho. E a pensar como estranhas são todas as pessoas!
Ele ligou-me às 04H26 para me dizer que ela o queria por na rua e que os pais dela se tinham instalado lá em casa para o insultarem.
Eu acordei sobressaltada e até pensei que alguém tivesse morrido!
Ela ligou-me eram 05H01 para me dizer que ele é indigno do seu nome de família e que até a conhecer nunca tinha tido um carro decente.
Eu desesperei com o sono e questionei-me se é o carro que faz o carácter de um Homem!
A mãe dele ligou-me eram 05H07 para me dizer que tinha ligado para a GNR pois previa uma tragédia.
Tragédia! Que tragédia? Maior tragédia que o fim de grande amor?
É para isto que servem os amigos! Quando se casam prometem que é para o melhor e para o pior! Tretas! Afinal, para o melhor e para o pior, só mesmo os amigos! Aturam todos os desabafos, embebedam-se solidáriamente connosco, abraçam-nos e dizem que não somos uma bosta apenas um merdoso muito querido, abrem-nos a porta de noite e deixam-nos dormir no sofá, até fazem de árbito numa discussão a meio da noite.
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"Eu devia ter ido para fereira. Sempre foi a minha vocação. A sério. Tenho consciência disso porque nunca gostei de sexo." Disse-me uma aqui há tempos, assim, de um minuto para o outro, inesperadamente. Engasguei-me. Tossi. Era para começar a rir à gargalhada, mas, então, num rápido fixar de olhos, percebi que era verdade. Três longas horas se seguiram de minuciosas descrições de factos que justificam a razão de um corpo ou de uma alma não gostar de sexo. No final apertou-me fortemente com os braços, num abraço de franco agradecimento por lhe ter dado oportunidade de colocar a nu um espirito que vive num corpo que nunca gostou de se despir!
"Que foda!" - Pensei eu.
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Tenho todas as razões para dançar à chuva. Abrir o tecto do carro e começar a uivar. Só não o faço porque não chove e o fecho do tecto do meu carro está estragado. Nada é perfeito!
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Momento - Bebel Gilberto

terça-feira, 7 de outubro de 2008

ANDO POR ACOLI



Quando ando assim... tipo... menos fodida ... até um pouco maravilhada com a vida, a inspiração foge-me para as solas dos pés. Caminho muito, passeio, leio, ouço música, medito, converso... mas escrever népia! Não sai nada!

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Doctor doctor - Iron Maidon