quarta-feira, 14 de outubro de 2009

DESVARIOS

Foto: "Lua cheia"
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A semana passada, tirei esta foto, da janela da minha cozinha . Bem se vê que a minha máquina é uma murraça. Mas a lua estava lá em cima, redonda e enorme, a apelar para qualquer coisa. Tenho uma janela que dá para a lua. E nem me dou conta que tenho uma máquina incapaz de captar a lua tal como eu a vejo. Da janela, eu via a lua e mesmo que a não visse ela estava lá. Eu podia não ter uma máquina para fotografar a lua. Podia até nem ver a lua e ela continuaria lá. Mas eu podia imaginar a lua tal como ela ali estava, cheia e esbelta, muito mais atraente do que na minha fotografia. Da mesma forma que também posso imaginar uma pessoa.
Da janela da minha cozinha eu olho e já não vejo a lua. Agora invento a lua em frente à minha janela. A lua é como o tempo e como as pessoas. Passam e não ficam! Às vezes voltam, e depois vão-se outra vez!
Abandonei a máquina sobre a mesa da cozinha. Parece que já não me faz falta. Houve um tempo em que se enchia de imagens e de sonhos, que depois apagava. Antes, tive uma máquina que se enchia disso tudo, mas permaneciam, não era possível apagar nada, nem mesmo as imagens desfocadas. Mas agora, podemos apagar tudo num instante!
Porém, se eu não tivesse tirado esta fotografia e não a tivesse gravado, poderia pensar que a lua era uma fantasia. Pois podia!
Já não vejo a lua. Não sei por onde anda. Morre o meu olhar na noite escura enquanto espreito pela janela. Tudo me parece um engano! Tudo! Hoje estou tão lúcida que chego a duvidar de mim própria! E a minha máquina fotográfica parece uma ladra de memórias. E o meu pensamento está tão vazio de imagens que parece uma maré baixa. Respiro angústias que prefiro não confundir com saudades.
Fecho a janela. Vou-me embora. Não tenho os olhos verdadeiramente abertos para ver a lua. Esta lucidez está voltada para dentro. E eu nunca tive fé. Nunca conheci nenhum deus. E tenho medo que o céu me caia na cabeça.
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Soldier On -Richard Hawley


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