Abro os olhos a custo. A cabeça teima em doer, recosto-a na cadeira a travar o pensamento. Estes dias de exilio, sem nada para fazer ou sem nada poder fazer, trazem maior velocidade ao pensamento. A minha vida por um cigarro! Meio, pode ser? Não?! Que cruel esta garganta inflamada ao extremo, a tolher-me a voz, este peito em ferida! Ah! Eu quis embalsamar as dores do peito, dar-lhes rostos de olhos parados e baços, inertes, inofensivos, para as contar uma a uma, como troféus, e rir sozinha na minha demência. Eu quis embalsamar o peito para impedir mais dores, outras dores, dores. Esqueci-me de lembrar como se arrefece o peito, como se congela o peito e se torna uma placa transparente ou opaca, fria como um glaciar. A dor parte-me o peito em pedaços, lascados como vidros. Não esta dor, não esta dor, que esta dor é outra dor. E o peito arde de dor, arde de amor!
A cidade da literatura
Há 2 semanas
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