quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CARTAS ANÓNIMAS




Fala-me num idioma que eu não conheça. Não te esforces, em boa verdade só conheço o português. Diz-me coisas que eu não entenda e me façam sorrir. Esquece o preto, o cinzento e o amarelo. Fala-me em azul ou vermelho, junto às farripas do cabelo, na nuca, em jeito de brisa a sacudir uma folhagem. Adensa-me o espirito de ventos que arrastem as núvens para outro continente. Limpa-me o céu. Formata-me o sol para que brilhe intensamente ainda que seja necessário reíniciar. Fala-me num idioma que eu não conheça. Como se estivesse de passagem por uma terra estrangeira e desejasse ficar para sempre. Faz-me sentir uma parede sem retratos, um campo de papoilas ou um lago perdido entre montanhas. Dá-me cores para ver mas, sobretudo, para sentir. Dá-me um aroma para levitar e, por fim, caír em teus braços. Corta-me a respiração, mas não te esqueças de me prestares os devidos socorros, de ma restituires. Dá-me um punhado de sonhos e uma mão cheia de lugares que possam ser comuns. Fala-me num idioma que eu não conheça. Porque estou cansada de palavras repetidas
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