quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

NO FIO DA NAVALHA?



São mais do que momentos, é um estado. De profundo desinteresse? Não é apatia. Nem sequer é tristeza. Mais do que ansiedade é angustia. E nem sei se angustia será. Pois, não sei o que é. Não sei o que me move ou o que me pára. Insatisfação?

Sou independente e autónoma, tenho uma profissão nobre, um filho lindo, um cão maravilhoso, um namorado impecável, um carro razoável, casa própria...

Tenho ainda toda a ornamentação do Natal, na porta da rua, no corredor, na sala, como se fizesse parte da decoração da casa. Olho e penso que um dia destes desmancho e guardo tudo. E o tempo passa!

A máquina da roupa avariou já lá vão vinte e tal dias. Ando a lavar á mão e a juntar montanhas de roupa suja. Olho para ela e penso que um dia destes chamo alguém para a arranjar. E o tempo passa!

Tenho a despensa quase vazia, o congelador vazio, o frigorífico sem nada. Ando a comprar comida feita só para não ir às compras, com a promessa de que irei no dia seguinte. E o tempo passa!

Não brinco com o cão, não vejo tv, não leio, mas tenho trabalhado que nem uma desgraçada. E o tempo passa!

Apercebo-me que já não danço, rio pouco e me irrito fácilmente.

Quem sou eu? Quem é esta gaja? Que porra é esta que me esvazia completamente? E porquê?

Mais do que escrever, preciso de respostas, urgentes. No fundo, no fundo, bem no fundo, é como estar de luto. Creio ser isso. Foi assim que me senti, durante muito tempo, depois da minha mãe falecer! E não sei como combater este estado de alma. É como se estivesse a afundar-me voluntáriamente.

Na verdade, estou deserta.

3 comentários:

SéRgio disse...

Como eu te compreendo....

Anônimo disse...

Sinto-me exactamente assim...
Quem me quer bem preocupa-se e pergunta: porquê?!...
Não sei responder - logo - não sei ajudá-la...
Na opinião de todos, eu não tenho razão pra estar assim,apática, mergulhada dias a fio numa espécie de alheamento e sei que isso não me resolve coisa nenhuma.
A minha mãe tambem partiu... depois de muitos anos de sofrimento, partiu, um dia, sózinha.
Em tantos dias com companhia, esse Deus que dizem existir algures, levou-a quando estava sózinha.... O meu luto tem muito tempo e por isso, eu achava que, quando ela partisse, eu começaria a viver ...
apenas e só porque quando isso acontecesse, ela deixaria de sofrer ...
Não foi assim... já vai fazer dois anos e ainda este Natal, quando acordei pensei que ia buscá-la.. foi de repente, e de repente tive conciência que não havia ninguem pra ir buscar...

espinhos e outras flores disse...

sabes h2o, esse luto é permanente. Já lá vão 8,5 anos e parece que foi ontem. O tempo alivia a dor, mas não cura. Eu costumo dizer "Se sobrevivo a esta a dor de viver sem a minha mãe, então suportarei todas as outras com leveza".
Mas a vida é como um rio, corre sempre, segue um sentido, temos de contornar montanhas e saltar obstáculos... e nós somos vamos fazê-lo.