quinta-feira, 20 de março de 2008

ESTA NOITE PODERIA ESCREVER VERSOS TRISTES...


Descubro, sem pranto e sem espanto,
que o sossego se extraviou! De novo!
Pouco importa.
Quero embedar-me.
Subir que nem um balão inflamável.
Voar sobre a cidade,
sem rumo,
indiferentemente.
E rir, rir, rir, só por mera tolice.
Como quem quebra a monotonia a fazer asneiras.
E rir, impiedosamente,
da desoladora paisagem de cérebros áridos,
que se passeiam pelas ruas.
Só para não chorar o tédio de tanta poeira que me passa pelo cérebro.
.
As minhas alegrias são migratórias.
Vêm, de repente, com o vento a favor.
Deixam-se ficar por algum tempo, mornas, em banho-maria.
E partem com a primeira paisagem impressionista,
ou mesmo surrealista, que avistam.
.
Tumultuosos são todos os quereres.!
Pois sejam!
Quero embebedar-me.
Porque chove na minha sobriedade. Chove fininho.
Aquela chuva pinga-amores, que nem fode, nem sai de cima.
Mas que antecipa um nada, um rigorosamente nada,
do qual nem me hei-de lembrar.
E é o nada aquilo que eu mais temo. Vá-se lá saber porquê!
Acho que o nada é devorado por uma inutilidade assombrosa,
por um abandono universal.
.
Há poemas infinitamente belos!
Poderia fazer poesia, escrever frases loucas carregadas de sentido.
Mas não governo os sentimentos.
Sou desgovernada!
Desenrolam-se infatigavelmente,
emaranham-se com os pensamentos
e declamam sensações, ainda que vagas,
de descontentamento.
Todos os meus poemas se escoam na lentidão dos silêncios.
.
Só quero fingir indiferença.
E embebedar-me.
Poder pensar preguiçosamente, em coisas deliciosas e banais.
Sacudir os sonhos como cascas de amendoíns caídas sobre o peito,
semi-nu, eróticamente aconchegado nas rendas da blusa aberta,
propositadamente,
para esquecer ternuras antigas.
.
Mas, por enquanto,
quero embebedar-me
e subir que nem um balão inflamável até perder a chama.
.
Here comes the summer - The Fiery Furnaces

Nenhum comentário: