quinta-feira, 20 de março de 2008

NOTAS INCERTAS


Hoje, eu quis ficar na cama até mais tarde, sem compromisso ou cumprimento de um qualquer dever. A remexer os lençóis onde alojei o teu cheiro que toca o meu corpo nu e quente a finjir que não está sozinho. Mas eu sei, são desnecessárias as manhãs para perceber que o lado direito da minha cama está vazio. Não quero saber se vais demorar, só quero saber é se ainda cabes nele, se ainda se encaixa nas formas do teu corpo. Não quero saber que dia é hoje. Acredito que o oceano se encheu com as lágrimas de milhões de pessoas que contaram os dias de espera. E vê como ele é imenso!

Terei tempo de sobra para contar incertezas, enquanto houver manhãs. Que importa a tristeza de ontem? Não é já passado? Que importa a alegria ou a tristeza do dia seguinte? Por acaso será? Terei tempo hoje, de sobra, para todas as imbecilidades. Inventar palavras breves e deixar escapá-las por entre fendas, sabe-se lá, com que sentido, que dizeres, quais mensagens...

E de repente acordo! Sou capaz de tudo! Não acredites na certeza das coisas! Posso ficar sem tempo de uma hora para a outra. Basta-me a imprevisibilidade de um segundo! Um mero segundo! E atiro os lençóis para a roupa suja. Fixo-me no calêndário e afirmo que já é tarde. Não espero. Vou, sabes lá para onde!... Desconfia sempre do sentido dos ponteiros do relógio. Tu sabes... nem sempre vou por aí.
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Forest fire - Lloyd Cole

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