segunda-feira, 16 de março de 2009

IN


Eu até já tinha chegado á primavera. O sol, a beira mar, os sussurros das gaivotas, as camisas leves sobre a pele, o tom rosado em volta dos sorrisos e a vontade de viajar. Eu até já pintava quadros na imaginação. Mas uma manhã acordei com a realidade a entrar-me pela janela e, ao invés de empunhar a espada e lutar, deixei-me ficar prostrada sobre a cama a cobrir-me de inverno.


Ofereceram-me uma lamela de Valdispert. Dizem que me trará o sono repousante que então acabou por se perder. Que me ajudará a organizar os ficheiros de memória, a compartimentar o cérebro e a reparar estragos. Que me trará de novo a primavera. Não sei. Não estou acostumada. Sou céptica com os químicos, mesmo quando me dizem que são naturais. Prefiro um bom jantar e uns copos de vinho. Umas cigarradas e música num bar a cheirar whisky. Uma noite de sexo.


Fico aqui agarrada às minhas perdas, paraplégica, mórbida, quase apática, a envelhecer. E nem me sinto deste tempo. Acho que este inverno não é meu. Ainda assim, sinto-me fria. A morrer, porque morre em mim aquilo em que acreditava. Morre em mim uma invenção. Um capítulo que nunca se fez livro.

Preciso de um silêncio absoluto. Parece-me que só já tenho um único e último coração e é urgente saber o que fazer com ele. Hoje estou cansada desta rua de sentido único.
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In Your World - Muse

Um comentário:

maoqueeaaf disse...

O silêncio vai trazer-te de volta a Primavera. Porque amanhã vais estar cansada dele. Sei que sim! :)