sexta-feira, 3 de julho de 2009

TEORIAS SEM CONSPIRAÇÃO

Foto: Berlenga - "Fuga"


Quando o amor entra em coma,
há uma tremenda serenidade que nos invade!
O amor começa a ficar impávido quando deixamos de nos preocupar com ele. Quando, enfim ou por fim, começamos por nos esquecermos ou por nos lembrarmos de outras coisas que nada têm a haver. Quando nos esquecemos de ligar o telemóvel ou de telefonar. Quando vemos uma segunda ou terceira linha no horizonte. Quando vamos para qualquer lugar onde sabemos que não seremos encontrados. Quando o corpo não responde ao chamamento e o cérebro já nem sequer reage aos estímulos.
E há também um vazio!
Perde-se aquela ferverosa alucinação de um toque que nos permite momentos únicos de transe. Estarei a ser exagerada? Não. Conheço muito bem a sensação de suor e arrepio. Que então se torna tão distante e longínqua que quase nos parece fruto de uma hipnose.
Perde-se a criatividade!
O pensamento assenta sobretudo nas coisas palpáveis e reais que rodeiam o nosso dia a dia. Desaparecem as imagens dinâmicas que se passeiam pelo cérebro, criadas pelo desejo e imaginação emocional, aquilo a que chamamos "sonhos". É o lado sencionalista da vida a esbater-se, até que se apaga.
Desenvolve-se o sentido crítico da vida!
Há toda uma série de coisas, acontecimentos e pessoas, antes ignoradas, que ganham relevo. Porque há uma maior concentração no real e compreensão para o real.
Tudo tende para a monotonia!
Parece contraditório? Mas não é. Antes o pensamento concentrava-se no objecto amado, agora dispersa-se por uma infinidade de coisas que parecem novas, mas que o não são, apenas não conseguiamos ter a percepção da sua existência. Porém, a monotonia resulta deste dispersar contínuo, mas desafectado. Antes, a paixão, o desejo e o sofrimento todos a viverem no mesmo apartamento. Num tumulto! Agora, um cérebro repleto de imagens passadas, vivas, mas sem impulsos vitais, a treinar um coração devoluto, a transmitir-lhe dados novos, a inserir programas, a fornecer-lhe estímulos. Mas tudo se processa de forma gradual e lenta. É o periodo de serenidade.
O coma pode ser um período longo. Mas é ele que nos prepara para enfrentarmos a morte.
Há amores que têm morte súbita. A sério, é verdade. Mas normalmente há uma fatalidade irremediável que a provoca. E o luto tem um sabor amargo. É certo que o luto tem sempre um sabor amargo, mas este é daqueles que provoca úlcera.
Muito teria a dizer sobre isso, mas fica para outra altura.

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I am the rain - Peter Doherty

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