domingo, 23 de agosto de 2009

Foto: "Consegues alcançar-me?"
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"Todos somos normais até nos conhecermos melhor."
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Não temos de entender/conhecer o outro.
Para/porque queremos entender/conhecer o outro? Saber tudo acerca dele, esmiuçar as entranhas dos seus pensamentos, confirmar os gostos e as apetências, observar os pormenores mais banais do espaço onde se movimenta, identificar os cheiros e os sabores, entrar vida adentro como se fosse nossa e instalarmo-nos como se a pudessemos conduzir na direcção do nosso interesse, sorver a individualidade, sugar o próprio eu do outro!... para, fatalmente o abandonarmos ou ele nos abandonar!...
Conhecer o outro dá muito trabalho!
Enquanto nos empenhamos em conhecê-lo, sobra pouco tempo para desfrutar, desinteressadamente, a graça dos momentos. Desvendar os mistérios é combater a ilusão. Á medida que nos vamos infiltrando no mundo do outro o outro vai-se tornando um estranho, cada vez mais rotineiro e ausente. Cada pedaço que julgamos conhecer do outro é uma peça que se retira ao puzle sonhado e que jámais se encaixa. E quanto mais julgamos conhecer, maior é o incómodo e a solidão. Conhecer/entender o outro é um processo cheio de armadilhas perigosas. Acabamos por perceber, entre nauseas sucessivas, que cada um de nós é um labirinto. Que a distância é cada vez maior e maior o abismo que nos há-de separar. Que o desconhecido, aquilo que nos inquieta, é precisamente aquilo que nos dá maior felicidade e ânimo.
Desejar o outro é predender tomá-lo exclusivamente para nós.
O desejo incessante de nos imiscuirmos na vida do outro, é a causa do outro desejar expulsar-nos da sua vida. Cada ser solitário, porque assim é. Todos buscamos companhia, amor e compreensão. O problema é o domínio que cada um quer exercer sobre o outro, ainda que inconscientemente. Para prender a si, aquele que acabará sempre por perder! Quanto mais fundo do outro vamos, mais distantes.

Quero-te desigual todos os dias, para que não me mates o sonho.
Não entres no meu túnel, para que não percas a luz.
Fica sempre por perto para que possa sentir-te.
Nunca deixes que te prenda ou que te abandone.
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Uprising - Muse




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