sexta-feira, 25 de março de 2011

PENSAMENTOS DISPERSOS


Convidaram-me para um jantar esta noite. Um daqueles jantares de gajas de meia idade, solteiras, divorciadas e separadas, em suma, sozinhas e mal resolvidas, como eu. Um daqueles jantares em que todas falam ao mesmo tempo coisas parvas, barulho estridente como num galinheiro, bebe-se muito alcóol (para adormecer as frustrações), comem-se muitos doces (para amortecer as carências afectivas) e acaba-se a noite numa daquelas estranhas discotecas de Lisboa, à moda antiga, cheia de sofás e mesas, música italiana e latina, de prefência para dançar agarrada, com o tutano espremido contra a virilidade de um gajo qualquer que nos convida para dançar depois de ter dado três ou quatro voltas sobre nós a tirar-nos as medidas como se analisasse um material para investimento! Arre! Agora sou eu que digo: Que coisa tão deprimente!!! Sei do que falo, já me aconteceu anteriormente, por duas vezes. Saí do jantar completamente apardalada pelo barulho histérico de tanta voz feminina, dei por mim em sitios tão esquisitos que nem pensei que pudessem existir, onde homens e mulheres vão, mais para o engate do que para se divertirem. Não danço. Eu que levo a vida a dançar, juro que não danço! Sinto-me incapaz de partilhar intimidades com estranhos que não conheço de lado nenhum, ainda que tenham aspectos desejáveis. Não danço e aborreço-me! Fico estarrecida a olhar para a pista cheia de casais feitos no momento a movimentarem-se num erotismo descaradamente barato. Depois saiem dali para troca de fluidos num sitio qualquer e de madrugada regressam ás suas vidinhas tristes e enfadonhas. É verdade!
Não tenho nada contra estas vidas, estes jantares de mulheres de meia idade que procuram uma fuga para o dia-dia mediocre, nada contra estes locais de engate, onde me parece que há quem se divirta bastante mas, por Zeus! Tirem-me desse filme! Só eu sei o quanto nos conseguimos aborrecer em noites como essas quando não sabemos o que estamos ali a fazer e quase rezamos para que termine rapidamente, principalmente se estamos dependentes da boleia da amiga! Arre! Que deprimente!
Dizem que é muito mais deprimente ficar sozinha em casa, numa sexta-feira à noite a ver filmes. Mas eu gosto. Gosto de estar sozinha e sou viciada em filmes. Que ninguém me tire esse prazer.

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