domingo, 7 de dezembro de 2008

AFINAL, NÃO ERA UM POEMA!



Agora já sei. Há muito que poderia sabê-lo. E até já o sabia. Porém, ignorava-o. Mas agora já não é possivel continuar a fechar a janela para ver apenas o que quero ver. Agora conheço a cor dos teus sentimentos, ou a ausência dela ou mesmo a ausência deles. É por isso que agora já não posso dramatizar. Já não preciso de escrever. O poema não nasce. E a vida não é mais do que um colar de estações que trago ao pescoço, como uma velha que traz consigo o terço para todas as beatitudes. Pior que isso. Agora sinto-me como aquele fanático que deixou de acreditar na causa pela qual até tinha sido capaz de apostar a vida. E nem perdida me sinto. Pior que isso. É como se tivesse perdido a fé. Como se descobrisse que, afinal, o céu não existe. O sofrimento fosse ridículo. A vida se descaracterizasse. E o poema nem seja necessário.

E então agora os dias são mais aborrecidos. Já dispenso os longos passeios solitários. Já não falo com o mar. Já não tenho visão periférica para as pequenas coisas. Tudo é naturalmente como deveria ser. Tudo está e tudo é por mero acaso. Até as noites são mais aborrecidas. A cama tem apenas a marca do meu corpo onde me encaixo e durmo. Já não me levanto três e quatro vezes a esfumaçar cigarros ao luar com lágrimas nos olhos e uma angústia em todos os sentidos, porque havia um espaço por preencher. É por isso que agora até a lua já me não faz falta.

Entendes agora porque tudo era mais bonito quando eu sonhava, me inquietava, chorava, tinha as minhas pequenas felicidades e até podia inventar que me querias?

.

Shadow magnet - Lisa Gerrard & Pieter Bourke

Nenhum comentário: