domingo, 21 de dezembro de 2008

ESTADO DE GRAÇA


Se as Coisas (entenda-se por coisas: pessoas incluindo nós mesmos, factos e acontecimentos), nunca são como gostaríamos que fossem, então temos de aprender a aceitá-las tal como elas são. Só assim se consegue alguma tranquilidade na vida.

Não importa tanto o "se tivesse feito assim ou tivesse acorrido daquela maneira, não teria sido assado"? Importa mais o "se fizer assim ou permitir/tentar fazer desta maneira, não poderá ser assado?" - Sendo certo que também o não será.

Voltemo-nos para o futuro. O passado mora lá atrás e não recebe visitas, quando muito, permite-nos umas visitas semelhantes a visitas virtuais. E estas devem servir para recordar momentos felizes ou retirar lições.

Já percebi que me encontro mais fácilmente com o diabo do que com deus. E é por isso que vivo naquele estado a que chamam o purgatório. Pensava eu que o purgatório era um estado intermédio entre o inferno e o céu. Mas não. Afinal, o purgatório é uma última oportunidade de purificação daqueles que morrem em estado de graça e que até já estão destinadas ao paraíso, mas que ainda têm de o conquistar.
Eu já morri algumas vezes. E em todas elas senti que morri em estado de graça, que tinha ali, algúres, o paraíso à minha espera. Sucede que, o inferno exerce sobre mim uma atracção difícil de resistir. É que, ao contrário do passado, o pecado mora sempre ao nosso lado.
Assim, também já percebi que, por mais vezes que morra e por muito que viva, será sempre no purgatório. Num filha da puta de um estado de graça - que só eu é que o noto - com a brisa do inferno sempre atrás de mim, a sussurar-me tentadoramente ao ouvido e o paraíso, que eu imagino - porque imaginação foi coisa que nunca me faltou- sempre à minha frente: a acenar-me como quem diz: anda que eu estou aqui.

Ora bem, este discurso tinha um propósito qualquer, o certo é que fui escrevendo e acabei por me perder. Mas, voltando ao início, dando a volta para tentar juntar as pontas, o que quero dizer é que... bem... acabei por perder as palavras... mas básicamente é isto: não devo chorar sobre o leite derramado, devo antes evitar derramá-lo. Mas se o derramar, devo tentar limpar, se possível e beber o próximo com cuidados redobrados. Pois o inferno existe. Mas bebendo com a consciência que o paraíso só existe na minha imaginação Mas que a minha imaginação é fundamental para me manter no purgatório - num certo estado de graça. E, se deixar caír umas pingas, não devo pensar noutra coisa senão que a perfeição é para os deuses, aqueles que vivem no paraíso.

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