quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ENQUANTO SONHO


De noite, enquanto sonho, o meu pai vem visitar-me. Conversa comigo, ri comigo, partilhamos coisas e momentos. É assim todas as noites.
Quando a minha mãe faleceu aconteceu o mesmo. Durante mais de um ano, ela vinha todas noites conversar comigo. Infiltrava-se nos meus sonhos. Ás vezes dava-me a mão e afagava-me o sono. E quando eu acordava, ainda sentia o calor na minha mão. Aquilo era estranho para mim, mas habituei-me. Era a maneira que eu encontrava de continuar a (con)viver com ela. Depois começou a vir só de vez em quando.
Agora tudo se repete, mas com o meu pai. Mal adormeço ele chega de mansinho, sem bater à porta, sem fazer barulho e entra dentro dos meus sonhos. Hoje trazia uma camisa branca e estava sempre a sorrir e eu disse-lhe que estava bonito. Há coisas que nunca disse ao meu pai. Creio que ele vem para eu ter oportunidade de lhas dizer (embora ele as saiba)
Acho que as coisas boas nunca as deveriamos calar. Não sei porque vivemos tão fechados! E é tão pesada a caixa onde as guardamos!
.
I Talk to the wind - King Crimson

Nenhum comentário: