terça-feira, 10 de novembro de 2009

I KNOW

Foto: Baía do Seixal - "Levo-te comigo"



Quando o coração não sabe o que sentir, bate aleatóriamente, esquerda, direita, esquerda, esquerda, direita, direita, direita, esquerda... e a um ritmo atabalhoadamente monótono. Falta-lhe a cobiça, a cor do pecado, a intriga, a cor do ciúme, o mistério, a cor do desejo... falta-lhe, sobretudo, o ritmo.
Quero apaixonar-me. Decididamente, o meu coração reclama uma paixão. Ele quer desfrutar da hora do encontro, daquele momento em que sai do peito pelos olhos, entra novamente pela boca, aos empurrões de palavras gagas e se engasga na garganta, quando os lábios se prendem noutros lábios e o sufoco lhe redobra o trabalho, a um ritmo onde o bater é um a-ver-se-te-avias.
Quando se perde algo vagarosamente - uma espécie de quimio-terapia que nos leva o cabelo e tudo o mais, mas depois nos devolve uma peruca lindíssima, uma esperança brilhante e momentos de ilusão - é como caír no precipício em queda livre: puro prazer, uma queda deslumbrada, a brisa a bater no corpo e lá em baixo o mundo inteiro, pequeno e banal! Depois o impacto, os pés a baterem no chão e a dor a conjugar-se com a realidade!
É esta sensação de estar tão longe, tão distante, o tempo arrefecido, quase frio, que me faz pensar que é urgente o aquecimento. É urgente tratar do coração. É urgente encontrar o ritmo certo. Pois não sei até quando bate um coração dentro do meu peito.



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Ne me Quitte pas - Jacques Brel



Um comentário:

comboio turbulento disse...

dos textos mais lindos que aqui escreveste