segunda-feira, 16 de novembro de 2009

HÁ DIAS ASSIM


Foto: Entardecer no Seixal



Andei a empatar o tempo, a produzir-me, a enfeitar-me, a bezuntar-me com cremes cheirosos a ajeitar o decote, a disfarçar as olheiras e a empandeirar o cabelo volumoso. Não me apetecia o trabalho. Estava um pouco ressacada de um fim-de semana de noitadas. Cheguei tarde e a más horas. A senhora começou a mostrar-me as nódoas negras na coxa, no braço esquerdo e os arranhões no pulso, provocados pelas unhas e ponta-pés da filha menor que se havia atirado a ela no meio de uma gritaria familiar. As lágrimas vieram-me aos olhos, comovida e triste. O pensamento começou a vadiar pelo meu dia a-dia.
Ao fim da tarde, cheguei a casa e antes que chovesse, agarrei no cão e fomos dar um passeio. Fez-se noite. Quando regressei o meu filho já cá estava e comentou que eu estava muito simpática. De facto, este delicioso animal tem o dom de me pôr bem-disposta. Ainda assim respondi: "Sim, até tu fazeres alguma que estrague tudo." A seguir abri o correio e quando vi a factura do meu telemóvel sentei-me, à beira de um ataque de nervos. Gritei o nome dele que veio com aquela cara, cuja descrição não me ocorre. Não se pense que o rapazinho é um desgraçadito, porque ele tem o dele. Foi uma discussão muito feia! Bastante feia! Ainda não me recompus e o pior é que ele amanhã faz anos... e a única coisa que me apetece é meter-me no carro e desaparecer.
Que se passa com os nossos filhos? Que mundo é este? Onde é que vivemos? Veio-me à memória o "Guardador de Vacas e de sonhos", "A Cidade e as Serras", vá-se lá saber porquê!


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O meu amor existe - Jorge Palma

Um comentário:

Anônimo disse...

Lembra-te "tudo passa".

Adoro-te. Até breve. Milhões de beijos.

Lin Xung