segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

CONVERSAS DE INVERNO




Há pouco, o meu filho virou-se para mim e disse-me: - "Mãe gostava de ter uma conversa contigo. Agora que já sou crescido e consigo entender as coisas, diz-me porque é que aturaste o meu pai durante tantos anos. Porquê mãe, como é que foi possível? Como é que pudeste suportar a vida que ele sempre fez?
Fiquei surpreendida, mas, perante tão grande empenho e sendo raro ele querer conversar comigo, lá respondi: -"Primeiro era o amor. Depois era o amor e uma gravidez. Depois era o amor e um filho. Depois era o amor, um filho e dificuldades económicas. Depois era o amor, um filho e esperanças. Depois divorciei-me, quando só já havia o amor, um filho e nenhuma esperança."
"Bolas mãe! Que resposta parva! - Observou com ar grave. - "Então porque é que depois de te divorciares te voltaste a juntar com ele?
"Porque depois... depois era o amor."- Respondi.
"Bolas mãe! - Disse dando um safanão na perna. - "Eu não acredito nisto! Vou te dizer uma coisa. Não sei se ta deva dizer... fiquei a saber este fim de semana, foi ele próprio que o disse... ele já tinha bebido uns copos, levou um exerto de um gajo... e não sei se tu sabes, se calhar é melhor calar-me!"
"Ahhmm!? Outra vez! O teu pai ainda não se deixou disso?" - Questionei.
"Parece que não. Meteu-se com uma gaja e o namorado não gostou! Mãe, não sei se te deva dizer..."
"Diz lá. Vá, fala. Já nada me afecta." - Pedi com o coração a bater a trezentos sem imaginar o que ia saír dali..
"Ok. Não fiques triste. Sabias que o pai te traía? Que nas noitadas dele andava no engate?" - Perguntou-me bastante perturbado.
Por segundos fiquei a olhar para ele. "Ah! É isso? Sabia. Aliás, só o soube depois de me divorciar. Quando amamos, vemos as pessoas de outra forma que os outros as veêm. Não acreditamos nas coisas más. Essas coisas só acontecem ao casal que mora ao lado, não connosco." - Expliquei-lhe.
"Mas depois, ainda assim, voltaste a viver com ele?! Como é que é possível?!"
"O amor é uma coisa estranha e muito forte. Permite-nos fazer coisas incompreensíveis! Depois eu já não andava enganada ou iludida. Depois era o amor simplificado, aquele que só pode existir com a aceitação do outro, tal como ele é e que também já consegue definir regras e limites. É um amor mais racional." - Disse-lhe.
"Mãe, deixa-te dessas filosofias. Porque eu nunca entenderei porque viveste tanto tempo com o meu pai. Desculpa, mas eu nuca quis que voçês se separassem, mas agora, quando penso na realidade, não te entendo! E o pior, é que ele traiu-te com a M. e deixou-te para ir viver com ela e agora faz-lhe o mesmo, mas mais descaradamente!"
"Não tenhas pena dela. Ela tinha obrigação de pensar que um dia lhe faria com outra, o mesmo que fez com ela. É sempre assim. Ninguém muda. A essência das pessoas é quase inalterável." - Disse-lhe enquanto me esticava para lhe dar um beijo.
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April - Sun Kil Moon

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