quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

SE ME ESQUECERES




Quero que saibas uma coisa
Tu sabes como é:
se contemplo a lua de cristal,
os ramos rubros
do outono lento da minha janela,
se toco,
ao pé do lume,
a implacável cinza
ou o corpo enrugado da lenha,
tudo a ti me conduz,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
em direcção às tuas ilhas que me esperam.

Ora bem,
se a pouco e pouco deixares de amar-me
deixarei de amar-te a pouco e pouco.
Se de repente me esqueceres,
não me procures,
que
já te haverei esquecido.

Se consideras longo e louco
o vento de bandeiras
que percorre a minha vida
e decidires
deixar-me à margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
nessa hora,
Levantarei os braços
e as minhas raízes irão
procurar outra terra.

Mas se em cada dia,
em cada hora,
sentes que a mim estás destinada
com doçura implacável,
Se cada dia em teus lábios
nasce uma flor que me procura,
ai, meu amor,
ai minha,
todo esse fogo em mim se renova,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor do teu amor se nutre, amada,
e enquanto viveres
continuará nos teus braços
Sem abandonar os meus.
.
(Pablo Neruda, in "Os versos do Capitão")

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