quinta-feira, 17 de junho de 2010

PEDIR UM DESEJO


Há cerca de quatro anos, andava eu a passear o meu cão no baldio aqui por trás da casa e na borda do passeio de terra, encontrei uma bela e solitária figueira. Olhei, vi uns pardelecos e uns melros no topo, mas questionei-me se ela não gostaria de ter um dono, alguém que lhe apreciasse os frutos com o devido merecimento. Naquele momento nomeei-a minha figueira e tomei posse pela adopção. Assim foi. Desde então nos meses de Junho, Julho e Setembro, pela manhã, levo o cão e um saquinho e trago os figos fresquinhos para o dia.

Hoje colhi os primeiros figos do ano. Só dois é que estavam maduros ao meu alcance. Ei-los. (que foto tão mal tiradinha!!)

Quando eu era pequenina, a minha mãe disse-me que, sempre que provamos um fruto pela primeira vez no ano, devemos pedir um desejo. Desde então peço sempre um desejo. Nunca me esqueço. Há pouco, olhei para os figos e sentei-me. Tinha de pedir um desejo. Deixei-me ficar a contemplá-los durante algum tempo e a pensar, sem querer pensar, no desejo que haveria de desejar. Depois fechei os olhos e desejei, da mesma forma que sempre o fiz, como quando era pequenina. Bem sabendo que o desejo é como um sonho. Que o desejo é o retrato de um sonho. Que o sonho é uma fantasia. Que a fantasia é uma coisa bela que idealizamos. Que idealizmos porque não está ao alcance do real. Que a realidade está longe, mas o sonho é palpável. Que podemos ser crianças a vida inteira. E podemos desejar porque podemos sonhar.
Comi os figos como quem atira uma moeda ao poço dos desejos.
Amanhã talvez já tenha mais dois figos, mas amanhã já não poderei pedir um desejo.
Penso que amanhã terei de comprar cerejas.

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The only moment we were alone - Explosions In The Sky

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