domingo, 11 de julho de 2010

ANDO ASSIM

Tristinha, sem vontade de fazer nada.
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Ontem à noite fui a casa de uma amiga.
Algum tempo depois do pai desta minha amiga falecer, a mãe, já com uns 70 anos, conheceu um homem e apaixonou-se. A minha amiga entrou em depressão, estado de choque e quase deixou de falar com a mãe, dizia que tinha vergonha daquela relação. Mas a velhota andava tão feliz que não desistiu. Por várias vezes me falou do que sentia e me pediu para falar com a filha, para ver se lhe abria o coração. Ela acabou por ir ao casamento da mãe mas nunca aceitou o homem. Nunca permitiu que o homem entrasse na sua casa ou na sua vida e por estranho que pareça nunca o chamou pelo nome, mas sim por uma alcunha feia que lhe arranjou. O convívio com a mãe faz-se à parte, a ele apenas o cumprimenta e nada mais. Já lá vão cinco anos de casamento e nunca alterou o comportamento.
A mulher gosta de conversar comigo. Eu gosto de conversar com ela. Ela é o exemplo vivo de que a paixão e o amor não têm idade, que só o nosso corpo envelhece, os sonhos e a vontade de amar e de ter uma companhia que nos ame são intemporais, fazem parte da essência humana.
Ontem ela estava em casa da filha e eu ofereci-me para a levar a casa dela. Lá fui. Ficamos à porta de casa cerca de uma hora, a conversarmos, a contar-me como esta relação lhe restituiu a vida que já há muito havia morrido, mesmo antes do marido morrer. E do desgosto que tem por a filha única não aceitar esse facto real e consumado. Eu também não entendo! Não deveria ela estar feliz com a felicidade da mãe? O que pretendemos para as pessoas que amamos, não é somente a felicidade? Creio que a minha amiga empedreceu. Vive uma vida de cimento, com algum luxo mas completamente desprovida de afecto. Ela e o marido apenas vivem na mesma casa e fingem que são um casal. A falta de partilha de afecto retira ás pessoas a capacidade para entender o que é o amor.
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Ao contrário, eu vivo de emoções. Os pés na terra, mas sempre a sonhar!
Durante mais de três anos vivi com o coração indisponível, presa a uma pessoa que nunca me amou. Envolvida numa relação que não o era, mas que emocionalmente não me permitia entragar-me a qualquer outra. Vivemos a uns míseros vinte e tal quilómetros de distancia, mas só nos encontravamos de vez em quando, de quinze em quinze dias, ás vezes só uma vez por mês e muitas vezes passavam-se dois, três ou mais meses. Poderá haver distância maior do que essa? Se assim era, porque razão o continuava a amar? Não sei. No ultimo ano entendi que não valia a pena. Ele sempre soube que não valia a pena. Mas não temos como abrir o coração e tirar de lá o que nos magoa, pois não? Ou como ordenar-lhe que pare de sentir, pois não? Por ele, eu teria ido até ao fim do mundo, mas perdi-me no caminho. O amor precisa do amor para sobreviver.
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Levo a vida a sentir, a escrever e a falar sobre o amor. Digo que o amor não se escolhe, que não se despreza, que nunca lhe devemos virar as costas. Digo que a paixão é o estado mais incrível em que nos podemos encontrar pois tira-nos da madorna da vida, por isso é sempre desejável. Digo que o encantamento é um estado morno de calor e bem querer. Digo tanta coisa! Mas, quando às vezes, tão raras vezes, sinto a possibilidade de me acontecer um pedaço de vida, não sou capaz de fazer nada para deitar a mão a essa possibilidade, fico paralizada, tolhida de ansiedade, á espera que o outro ou o destino se encarreguem de ma colocar na mão.
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Dizem que os meus olhos brilham. Estão olheirentos. Não durmo bem, durmo muito pouco. Tenho receio que os meus olhos parem de brilhar. Quero trocar mais que olhares contigo. A distância não é mais que uma palavra, pois não? Eu sei bem que não. Ás vezes tão perto e tão longe, outras vezes tão longe e tão perto. A impossibilidade é a negação da possilidade. E eu nunca digo que tudo é possível, mas sempre digo que há coisas que são possiveis. Quero dizer-te como me puseste o coração a trabalhar desordenadamente, como se estivesse avariado! Quero que me ajudes a encontrar-lhe o ritmo certo. Devagarinho. O ritmo das coisas verdadeiras, terrenas. Sem nada esperar, senão que a vida aconteça da forma que tiver de acontecer, não de outra forma.
Tanta conversa, mas era só isto que eu te queria dizer. É que "já não sei andar só pelos caminhos", levo-te para todo lado... e invento que tens coisas para me falar comigo. Invento que me queres.

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