sábado, 10 de julho de 2010

PENSAMENTOS DISPERSOS

O amanhecer na minha janela
.
Ás vezes ponho a música muito alto para não ter de me ouvir. Que isto de ter uma voz que nunca se cala, que nos persegue para todo o lado, dá cabo do juízo!
Em tempos, há muito tempo, pratiquei yoga e até treinei meditação transcendental com bastante intensidade. Transcendi, muitas vezes. Tinha uma capacidade de abstração bastante elevada. Hoje não consigo abstraír e também transcendo muitas vezes.
Nos últimos anos dediquei-me à meditação. A uma prática de pensar, associada à filososfia, à psicologia e à natureza, como forma de combater o stress, de aceitar os disignios da vida e até de racionalizar. Tanto pratiquei a arte da meditação que me tornei incapaz de não meditar. Gerei uma máquina de pensamentos sucessivos, quando, na verdade a pretensão não era essa.
Houve um tempo em que eu conseguia fixar o olhar num ponto e apenas ouvir, ouvir uma música, ouvir o mar, ouvir o vento, os pássaros, sem qualquer pensamento a acompanhar o acto de ouvir. Também conseguia respirar fundo e sentir o mexer dos músculos, tendões e pele e expirar devagarinho, sentir cada coisa a voltar ao estado inicial, sentir a vida. Agora também consigo sentir, mas é uma grande inquietação!
"Encontrei-me com Deus e a minha vida mudou para sempre."- Disse-me uma cliente, que de um dia para o outro, começou a frequentar a igreja a toda a hora. Nessa altura pensei que talvez também eu devesse começar a ler a biblia, ou juntar-me às testemunhas de jeová, conviver com os mórmon, ou praticar peregrinação. Mas, vendo o rumo que a vida da cliente levava, percebi que Deus não se tinha encontrado com ela e até cheguei a pensar que só poderia haver uma explicação para o facto estar sempre enfiada na igreja, o padre devia ser um gajo jeitoso.
Dizem que trabalhar afincadamente nos faz parar de pensar e, portanto abstraír. Mas o raio da minha profissão exige raciocínio e, portanto, requer pensamento. Pensei então dedicar-me à agricultura, ao plantio de flores, sem qualquer outro interesse que não fosse o de trabalhar, sem qualquer ciência ou necessidade de pensamento. Dei por mim também a cultivar espinhos ou, se calhar, mais espinhos que flores! Quando, na verdade, a única coisa que pretendia era dar vida a uma rosa.
O pensamento, esse animal selvagem que nos come as entranhas, nunca se cala. Por mais alto que se ponha a música, ele consegue gritar sobre ela. A somar os gritos da vizinha que outra coisa não deve desejar senão que a deixe ouvir o seu pensamento na paz das tormentas.

.

To lose my life - White Lies

Nenhum comentário: