quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

EU GOSTO É DO VERÂO


Abomino a arrogância. A mania de quem sabe tudo e de quem tem sempre razão com a máxima de que vale mais a morte do que um braço torcido. Quem não sabe ser humilde jámais saberá ser justo com os outros e generoso, no verdadeiro sentido das palavras. Porque só conhece um prato da balança que é o seu e quando dá, fá-lo para ser admirado e não para beneficiar alguém.

Destesto a pedinchice. É certo que quem não chora não mama, mas há pessoas que levam a vida a chorar e a mamar em todo o lado e sem necessidade disso. Vestem a capa de coitadinhas e lá vai mais uma mamada aqui, mais uma mamada li. E mamada a mamada enche o mamão o papo!

Não suporto a graxice. Uma escovadela no ombro, uma lambedela nos pés e um arzinho de cão caseiro fiel ao amo e pronto a fazer tudo. E venha a nós o que nos interessa, ainda que rastejemos!

Entristece-me a burrice. Que de burros todos temos um pouco numa ou noutra matéria, ainda que o não saibamos, precisamente porque somos burros. Mas aquela burrice tacanha, disfarçada de analfabetismo- não estudei, mas não me lixam! - é que me incomoda. Porque nem todos são doutores e nem todos estudaram apesar do canudos, mas qualquer um ganha instrução, se fizer por isso.

Estes predicados todos reunidos numa só pessoa, tiram-me do sério! E ter de aturar essa pessoa de vez em quando, é obra para um grande engenheiro - tipo o Sócrates. Por isso, hoje zamguei-me. Raramente me zango. Lido com muitas pessoas no dia a dia e acabo muitas noites a suspirar, a pedir a deus que me dê paciência e sabedoria para as entender e respeitar.
Mas hoje, disse a uma mulher: "A Senhora é teimosa, arrogante e não tem o menor sentido de justiça. Usa as pessoas e é capaz de tudo para sobreviver da melhor forma. A sua vida tem apenas um sentido único, o seu, aquele em que circula e para o qual se dirige. É por isso que a sua vida é cheia de dissabores. Vê os espinhos, mas não consegue ver a rosa. Anota o que dá, mas não consegue contabilizar o que recebe. Passa a maior parte do tempo a chorar as perdas, mas é incapaz de se congratular com as beneces. Desculpe, mas não tenho paciência para si. Estou cansada de falar consigo, porque tudo o que lhe digo bate-lhe na testa, faz ricochete e perde-se no ar. Não me peça mais favores. Desejo-lhe umas boas festas e peço-lhe que medite sobre a sua vida e sobre si mesma. Vem aí um novo ano, talvez seja uma boa altura para mudar alguma coisa. Vá para casa reflectir." Dei-lhe dois beijos e virei costas.

Raramente me zango! Mas esta dor de cabeça que já dura há dois dias e as hormonas às voltas dentro de mim, por via do periodo menstrual que está mesmo à porta, deu nisto! E a mulher anda a dar comigo em doida, aliás, já aqui falei dela uma outra ocasião, há relativamente pouco tempo, também por me ter tirado do sério. É minha cliente, mas à custa de se fazer passar por coitadinha nunca lhe cobro nada. Concluo que vive melhor do que eu, que sabe viver muito melhor do que eu!
Agora estou prá'qui com a cara dela estampada na minha cabeça, parecida com um cachorro que acabou de levar uma tareia do dono! Estou cheia de remorsos! Até dou comigo a falar alto sozinha! Não sei se por via do que lhe disse, se por via das hormonas andarem em guerra aberta no colo do meu útero!
O melhor é ir dormir e esquecer o episódio, pois só lhe disse, com sinceridade, aquilo que penso acerca dela. Creio que ela até não se zamgou comigo, pois agradeceu e deu-me um abraço, com lágrimas nos olhos, magoada possivelmente. Pronto, estou lixada! As hormonas e os remorsos já me estragaram a noite!


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