quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

SOLIDÃO PLATÓNICA

Foto de Pedro - Mirandela
.
Antes dele havia ruas barulhentas e pessoas em movimento desatinado. Havia o vento que assobiava nas árvores e a chuva que cantava nas janelas. Antes dele havia rios a correr para sul e nuvens que marchavam para o mar. Havia as sombras nas noites e manhãs que despertavam pelos quartos. Antes dele havia os nevoeiros à tardinha e as curvas das estradas. Havia aviões a riscarem o céu e o sol a descer pelas montanhas. Antes dele havia os violinos e os cubos de gelo a tilintar no gin. Havia os mal-me-queres nas bermas dos caminhos e os livros de Tolstoy nas bibliotecas. Antes dele havia os sonetos de Camões e as passeatas ao domingo. Havia combóios apinhados de gente e barcos a apitar no cais. Antes dele... a vida. A vida monotona, a vida alegre, a vida triste, a vida a cores, a vida cinzenta, a vida...
Depois dele NADA, o silencio. O silencio e NADA mais.
Ela quis muito amá-lo. Amá-lo pelas ruas barulhentas, por entre as pessoas. Amá-lo contra o vento e à chuva. Amá-lo nos rios, nas nuvéns e no mar. Amá-lo à noite e de manhã ao despertar. Amá-lo no nevoeiro e nas curvas das estradas. Amá-lo até ao céu ao sol e às montanhas. Amá-lo ao som do violino, ao sabor do gin, a tilintar. Amá-lo nas bermas dos caminhos sobre os mal-me-queres, nas bibliotecas e nas passeatas aos domingos. Amá-lo nos combóios e no cais. Amá-lo... como amam todos aqueles que amam...
Ela está entre as coisas e o silêncio. Ele não existe. Tudo é AUSÊNCIA.
AUSÊNCIA, silencio, NADA.

Nenhum comentário: