quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

NORMALIDADE


Ontem sentia-me em baixo, sem razão nenhuma, andava como o tempo! Ao final da tarde ligou-me uma amiga: - Estou com uma neura do @! Já bebi duas cervejas e preciso de companhia- Disse-me ela. Boa! Já eramos duas! Veio jantar comigo e depois propus irmos a um bar aqui perto onde só passa música dos anos oitenta e se dança.
Ela é casada mas em vias de separação porque se envolveu com um amigo. O marido descobriu e deu-lhe um tempo para se decidir. A dada altura da noite perguntei-lhe:
- Achas possível gostar de duas pessoas ao mesmo tempo?
- Se acho possível? Tenho a certeza. Olha para mim. Eu gosto dos dois. Por mim ficava com os dois, só assim é que era feliz. O meu marido é que não quer, o outro não se importava. - Respondeu.
- E achas que é normal gostar de duas pessoas ao mesmo tempo?
- Deve ser, pois eu acho que não sou anormal. Ou se calhar sou! Não sei! O que é que tu achas?
- Não sei! Às vezes a normalidade é uma coisa estranha! - Afirmei.
- Se o meu marido aceitasse, até era um homem feliz, porque eu andava feliz e fazia-o muito feliz a ele. Assim, andamos todos na merda, numa tristeza profunda. E eu não posso, porque não consigo, decidir-me. De qual gosto mais? Amo os dois! - Disse desolada.
- A vida encarregar-se-à de decidir por ti. - Disse-lhe eu. Porém, pensei que, certamente, ela acabaria sozinha. É que há pessoas e são muitas, que gostam de aventuras, não sabem ser fieis. Estou convicta que aquele que trai uma vez, facilmente volta a trair. É um comportamento reiterado e reíncidente. Se ela optar pelo amante, um dia trairá o amante, se ficar com o marido, um dia voltará a ter um outro amante. Não tem de, necessáriamente ser assim, mas acredito nisto.

As pessoas vivem vidas duplas! Estive casada muitos anos e era tão apaixonada pelo meu marido e sentia que ele o era por mim, a ponto de não conceber a ideia de ele alguma vez me traír. Só quando me divorciei é que percebi a vida dupla que o mesmo fazia. Ele saía frequentemente para bares e discotecas enquanto eu ficava em casa a zelar pelo nosso filho. Aí engatava gajas e dava umas quecas em casa delas ou no carro. Tem sido dificil aceitar que vivi uma vida que, afinal, era um teatro, e eu era o único actor que levava a peça a sério. A realidade, não é a realidade! A normalidade, também poderá não o ser. Uma destas noites entre amigos e copos, fiquei a conhecer mais umas quantas aventuras do meu ex-marido. Ele estava presente, senti-me revoltada, mas disfarcei muito bem. Sou de um orgulho extremo e sei camuflar completamente o que sinto. Quando me despedi de todos e lhe ia dar dois beijos no rosto ele pediu-me um beijo na boca! Olhei-o com pena. - Tem juízo! - Disse-lhe eu. - No mínimo deverias ter vergonha e respeito. Ele pediu desculpas e eu virei costas. Não há vergonha e não há paciência!

Os bares são locais de engate, nitidamente. Duas mulheres sozinhas e há logo uma catrafada de gajos de volta delas! Elas só têm de escolher, se quiserem! E quem são estes homens? São solteiros, são casados, têm namorada? Quem o sabe? E quem o quer saber?
- Por amor de deus! Descontrai. - Disse a minha amiga enquanto se exibia sedutoramente para dois gajos que se colaram a nós. - Estamos aqui para nos divertirmos e isto está cheio e de homens giros.
Pode parecer ridiculo, mas ninguém mexe com a minha reputação. Sou muito ciosa da minha imagem e tenho tentado ao longo da vida que a minha imagem seja, de certa forma, em espelho daquilo que eu sou na verdade.
Estava completamente descontraída e estava a divertir-me. Só que detesto dar nas vistas, pela negativa, se assim se puder entender. Além disso estava na minha zona, ali estavam uns vizinhos, além um primo, um cliente e eu preservo imenso a minha reputação.
- É pá, o dos cabelos compridos está-te a chamar, quer que dances, quer falar contigo. Podes ao menos olhar para ele?
- Não. - Respondi.
- Porquê?
- Porque já o vi muito bem e é uma verdadeira tentação. E sendo uma tentação, o melhor é evitá-la. É assim que se evitam as infidelidades. Só vim aqui para ouvir música, conversar e beber uns copos.
Raios me partam! Quando saí dali tive a nitida sensação, quase a certeza que, se eu tivesse tido outro comportamento mais aberto, a minha amiga não teria saído dali comigo, mas muito melhor acompanhada! É por isso que digo, com convicção, que os comportamentos das pessoas são lineares. Há quem viva vidas duplas e, seja como for, seja com quem for, sempre viverão vidas duplas. Não se trata de gostar ou não gostar de uma pessoa, são formas de estar na vida. E são demasiadas as pessoas que assim vivem! E quem o sabe?! Só os melhores amigos, nunca quem os ama, esse é sempre o último a saber!

Não confio em ninguém!
Usem o preservativo, sempre.