quarta-feira, 30 de junho de 2010

PEQUENAS COISAS

O cantantor


O jovem atrevido
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Os pardais têm uma forma peculiar e encantadora de se manifestarem. Primeiro rondam a janela com cantigas e danças eloquentes e depois poisam de mansinho nas cordas da roupa ou no parapeito e ficam à espera que lhes atire o pão ou o arroz. A seguir fazem voo picado e conseguem apanhá-lo em pleno voo. Estes são os meus grandes admiradores, fazem-me serenatas diurnas de derreter o coração!
Ás vezes apetece ser um pardal...
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segunda-feira, 28 de junho de 2010

A CONTAR HISTÓRIAS


Ela acende um cigarro. E depois outro e outro. Olha para o cinzeiro já cheio. Olha para a janela. Olha para dentro de si, a tentar definir os contornos dessa sua existência acrílica! Céus! Ela pensa. Que significado dar às coisas? Ela questiona-se.
Recorda aquilo que nunca teve ou que nunca viveu. Ao menos, poderá fingir contentamento? E contar o tempo ao contrário? Pensa. Não há nada dele que possa comprovar as horas infindáveis que passou a inventá-lo. Assim, pode apagar o que o sente. Ficar apenas com os grãos de areia nos olhos.
A lucidez abandonou-a. É uma saloia. Acende um cigarro. Foi sempre uma saloia. Se ele lhe pedisse para fugirem, fugiria com ele para qualquer lugar. Os dois montados num cavalo estúpido e cego a correr sem freio e sem destino. Sem razão nenhuma. O amor. O amor sem qualquer outra razão senão aquela sua própria razão. Será que ele a quer? Questiona-se. Renegaria a realidade. Quebraria todas as regras. Subiria o cadafalso como se fosse para a felicidade. Mas a ideia de infinto apaga-se na última fumaça do cigarro. Como as nuves, assim passam sobre nós e se diluem no céu.
Foi um mal entendido, dir-lhe-á ele. Ela sabe, já ilustra as palavras. Dói-lhe o peito. Sente um constrangimento na garganta semelhante a um nó de enforcado. Tem de parar de fumar. O tabaco mata. Foi tudo um mal entendido. Baralhei-me. Descontrolei-me. Ele acabará por lhe dizer. Foi uma neurose. Pensa ela. Como as águas de um rio, em dilúvio, que não encontraram o mar. Tomemos então um 605 forte. Voltemos aos espaços vazios, aos mesmos lugares de sempre, para que tudo seja antigo, para que tudo seja passado. Pensa ela enquanto estremece. Nunca chegou a dizer-lhe frontalmente que sonha com ele. Com o toque da pele. Não chegou a falar-lhe das coisas que queria que ele lhe ensinasse. Não foi por falta de vontade ou de tempo. É cobarde. É uma saloia submersa. Uma existência plástica. Não pode saber o significado a dar às coisas.
Acende mais um cigarro. O tabaco mata. Tem de parar de comer cigarros.

sábado, 26 de junho de 2010

DEVANEIOS


Carrego um enternecimento que preciso de pousar sobre uma pedra, para que a vida descanse. Porque não posso, não consigo, pousar uma pedra sobre o enternecimento.
Fui a um daqueles almoços em que os amigos se juntam e todos falam das coisas que se viveram e todos bebem exageradamente e todos riem de tudo e de nada. Cruzam-se os sons, os chim chins e assimila-se o alcoól.
- Ò minha amiga, o que é que se passa contigo, nem pareces tu! -Disse-me ela.
- Não sei! Nem eu sei! Estou tão ocupada que não me sobra um milimetro para mais nada!- Disse eu.
- E como foi que isso aconteceu?"- Perguntou.
- Não sei. Foi coisa que se foi alastradando devagarinho, primeiro ocupou-me o coração, depois a mente, depois os dias, as noites, e a agora talvez a vida!"
- Tenho um buraco no coração. - Disse ele.
- Eu não. Eu tenho os dentes cravados no coração. - Desse-lhe eu.
- Essa agora! Porquê? - Quis saber.
- Para o segurar. Para ver se ele não me foge. Está tão cheio que, suspeito, irá levantar voo. - Expliquei.
- O meu coração está feito em pedacinhos. - Disse um outro lá mais à frente.
- Aproveita e constrói um puzzle. - Aconselhei-o.
- Eu quero esquecer. - disse a rapariga com um falso suspiro.
- Não se esquece, supera-se. Só quando se supera é que se pode, então, parar de dizer que se quer esquecer. - Frisei.
Serve-se a sangria, o whisky e o gelado. Há gargalhadas pelo ar, até cairmos no aborrecimento ao cair da tarde.
Seremos todos muito mais felizes do que aparentamos ou aparentamos todos ser muito mais felizes do que somos?
- Estás ácida?- Perguntou-me ela ao ouvido quando me preparava para vir embora.
Chiu. Não respondas.
Ninguém tem de saber. Digo eu. Que falo baixinho para que ninguém me ouça. Ninguém tem de saber, que penso em ti todos os minutos. Que tudo me enfada porque só penso em ti. Que não estou em lugar nenhum senão no pensamento onde me parece encontrar a tua mão à distância dos meus cabelos.
- Hoje pareces-me ácida! - Comentou ela ao meu ouvido quando já saía a porta da rua.
Chui. Fala baixo. Não digas nada. Ninguém tem de saber senão tu própria deste doce enternecimento. Deste querer doido, deste desejo, desta vontade de gritar qualquer coisa.
Não, não estou ácida. Estou aturdida. Penso que preciso de descansar. De parar de sentir. De dormir um sono tranquilo.

HÁ DIAS ASSIM!

Em que descobrimos que estamos velhos para sonhar. Ou, se calhar, para viver e o que nos resta é mesmo isso: sonhar.
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The other side - Morphine

sexta-feira, 25 de junho de 2010

MEMORYHOUSE - THE YEARS

EP (2010)
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Para encantar ouvidos.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

PARA SEMPRE


Na ilha por vezes habitada do que somos,
há noites, manhãs e madrugadas
em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente
e entra em nós uma grande serenidade,
e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra
e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável:
o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres,
com a paz e o sorriso de quem se reconhece
e viajou à roda do mundo infatigável,
porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
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- José Saramago -

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A VIDA É INJUSTA


Os problemas do âmbito da família são dos mais difíceis de se lidar.
Esta manhã, o homem sentou-se à minha frente e completamente arrasado, disse-me:
- A minha mulher fugiu de casa. Abandonou-me. O meu mundo acabou. Destruiu-me a vida.
Eu olhei para o homem, estupefacta e pensei de imediato: - O mundo está perdido!
Mas só me ocorreu dizer: - Tem agora um mundo e uma vida novos para viver, hoje ainda é cedo, mas amanhã irá perceber isso.


Morreremos tantas vezes quantas os outros nos quiserem matar, mas viveremos tantas vidas quantas estivermos predispostos a viver. De facto, o fim de qualquer coisa será sempre o início de uma outra coisa qualquer. O mundo acaba, as vidas destroíem-se, a dor passa. E a lua sempre brilhará sobre as searas.
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terça-feira, 22 de junho de 2010

PENSAMENTOS DISPERSOS


"... quando o peso das palavras é enorme e soltá-las é ao mesmo tempo, um castigo e um desejo." - António Paiva, Pedaços de Vida e Fantasia -


Levo a vida a controlar as emoções, a transformar tudo em racionalidade e sensatez, a medir distâncias e consequências. Faço-o porque assim sou. Faz parte da minha essência, essa coisa que a cada um pertence como o ADN e que nos distingue de todos os outros, essa coisa que eu digo ser praticamente imutável. Faço-o porque tenho medo de ser rejeitada, de perder o controlo, de errar. Faço-o porque medito sobre tudo e tudo observo minuciosamente.


Mas tenho esta inquietante "alma", este ser que vive cá dentro, que arromba as entranhas e irrompe para fora de mim desobediente e descontroladamente, quando eu menos o espero. Não sou apenas este pedaço de carne, este monte de ossos, sou esta espiritualidade vádia que me foge, me troca as voltas e me espanta. Dizer que tenho uma alma será sempre uma boa desculpa para justificar como sou feliz com estes pequenos projectos do imaginário. Dizer que tenho uma alma será sempre uma boa desculpa para dizer que sou tola, sabendo de antemão que o sou efectivamente. E, sinceramente, eu faria um esforço enorme para nunca deixar de o ser, porque é, na minha essência, no meu todo, a parte que mais aprecio. Mas não preciso de me esforçar, porque, repito, há coisas praticamente imutáveis.


"Creio, primeiro, que o mundo em nada nos melhora, que nascemos estrelas de brilho ímpar, o que quer dizer, por um lado, que nada na vida vale o homem que somos, por outro lado que homem algum pode substituir a outro homem . Penso, portanto, que a natureza é bela na medida em que reflecte a nossa beleza, que o amor que temos pelos outros é o amor que temos pelo que neles de nós se reflecte, como o ódio que lhes sintamos é o desagrado por nossas próprias deficiências, e que afinal Deus é grande na medida em que somos grandes nós mesmos: o tempo que vivemos, se for mesquinho, amesquinha o eterno." - Agostinho da Silva. (Como eu gosto deste pequeno grande texto!)
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Sunlight - Kyte

sábado, 19 de junho de 2010


Há ecos de ti por toda a parte, espalhados na subtileza das palavras. Se as ouvisses, se ao menos soubesses, suspeitasses, que o vento corria na tua direcção e a barca navegava no teu mar vermelho...
Bem sei que digo estar presa ao cais! Bem sei que sou um navio encalhado nas contradições! Mas não percebo nada de ciências exatas e um dia, há muito tempo, sem que o confessasse, dei-te a mão num silêncio convencional. E nunca mais consegui largá-la! Segurei-te a mão no meu convés. E o meu convés tem o pequeno tamanho de um segredo, onde não desenhei uma porta. Foi para me sentir presa. Presa à vida. Sem tempo a rolar nos ponteiros dos relógios.
Não tenho pressa.

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Too Afraid To love You - The black Keys

THE BLACK KEYS - BROTHERS / WHITE LIES - TO LOSE MY LIFE

The Black Keys - Brothers (2010)

White Lies - To Lose My Life (2009)
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Fantásticos. Para ouvir muitas vezes.


sexta-feira, 18 de junho de 2010

PEQUENA EPIFANIA



"Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania."

- Caio Fernando Abreu -

quinta-feira, 17 de junho de 2010

PEDIR UM DESEJO


Há cerca de quatro anos, andava eu a passear o meu cão no baldio aqui por trás da casa e na borda do passeio de terra, encontrei uma bela e solitária figueira. Olhei, vi uns pardelecos e uns melros no topo, mas questionei-me se ela não gostaria de ter um dono, alguém que lhe apreciasse os frutos com o devido merecimento. Naquele momento nomeei-a minha figueira e tomei posse pela adopção. Assim foi. Desde então nos meses de Junho, Julho e Setembro, pela manhã, levo o cão e um saquinho e trago os figos fresquinhos para o dia.

Hoje colhi os primeiros figos do ano. Só dois é que estavam maduros ao meu alcance. Ei-los. (que foto tão mal tiradinha!!)

Quando eu era pequenina, a minha mãe disse-me que, sempre que provamos um fruto pela primeira vez no ano, devemos pedir um desejo. Desde então peço sempre um desejo. Nunca me esqueço. Há pouco, olhei para os figos e sentei-me. Tinha de pedir um desejo. Deixei-me ficar a contemplá-los durante algum tempo e a pensar, sem querer pensar, no desejo que haveria de desejar. Depois fechei os olhos e desejei, da mesma forma que sempre o fiz, como quando era pequenina. Bem sabendo que o desejo é como um sonho. Que o desejo é o retrato de um sonho. Que o sonho é uma fantasia. Que a fantasia é uma coisa bela que idealizamos. Que idealizmos porque não está ao alcance do real. Que a realidade está longe, mas o sonho é palpável. Que podemos ser crianças a vida inteira. E podemos desejar porque podemos sonhar.
Comi os figos como quem atira uma moeda ao poço dos desejos.
Amanhã talvez já tenha mais dois figos, mas amanhã já não poderei pedir um desejo.
Penso que amanhã terei de comprar cerejas.

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The only moment we were alone - Explosions In The Sky

A CONTAR HISTÓRIAS


Ela envolveu-se com individuo. O marido agarrou nos miudos e foi-se embora para poder meditar sobre o rumo a seguir. O individuo disse-lhe que gostava dela, que a apreciava, mas não sabia o queria fazer da vida dele. Ela ficou só e desesperada.
Perguntei-lhe porque o tinha feito. Respondeu-me que sempre foi uma lutadora, que sempre lutou por aquilo que queria, contra tudo e contra todos os obstáculos. Eu olhei-a com alguma pena e disse-lhe friamente:
- Isso não é ser lutadora, é ser leviana. E quando se é leviano, pode-se viver consequências muito amargas! Serias uma grande lutadora se tivesses lutado pela preservação do amor com teu marido, pela segurança da tua família e o equlibrio emocional dos teus filhos. Mas para isso precisavas de ter o discernimento suficiente para perceberes que, neste caso, o obstáculo era esse indivíduo e que era ele que deverias afastar.
Ela desatou a chorar e deu-me razão.
- O problema dos egocentricos é que só pensam neles e só veem o objecto dos seus desejos. Pensam que são lutadores por fazerem tudo para o obter, quando na verdade são uns egoístas. - Continuei.
Depois pus-lhe um prato de morangos à frente, que a infeliz pecadora há dois dias que não comia quase nada e prossegui o discurso:
- O problema das pessoas é a insensatez, a cegueira das paixões retira-lhes alguma da racionalidade. E a ti parece que te tirou a racionalidade toda! Porque haverias de pensar que esse fulano largaria a sua cómoda vida para ficar contigo? E o que é que aconteceu ao amor que tinhas ao teu marido, deitaste-o fora de um momento para o outro? E os teus filhos não mereciam alguma ponderação da tua parte? Deita-se assim uma vida na sarjeta?
Suspirei. A desolação dela estava-me a desolar. Porém, tenho este impulso de dizer o que penso e se ela mo perguntou, iria mentir?
A seguir coloquei-lhe o braço sobre os ombros.
- Mas tudo se resolve. - Disse-lhe. - Agora empenha-te ao máximo na reconquista do amor e da confiança do teu marido. Ele ama-te. E o amor tudo perdoa.
Estivemos a tarde toda a filosofar e a arranjar estratégias de reconquista.
Quando ela se foi embora já ia a sorrir. Deu-me um forte abraço. Estava confiante.
Uns minutos depois mandou-me um sms a agradecer por lhe ter ajudado a ver melhor a realidade e, de seguida, rolou estrada fora rumo aos lençóis do amante!...

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Eu bem digo: a essência das pessoas é praticamente imutável.

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Have you ever been in love - The Divine Comedy

terça-feira, 15 de junho de 2010

A SONHAR


Hoje estou assim!
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One day like this - Elbow

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A CANÇÃO QUE TE FIZ

Há uma inspiração que me abraça
e me chega de longe.
Ele não sabe,
ele não sonha.
Oh, não! Não!

Ele não sabe nem sonha
e eu não sei como dizer!

Esta noite bebi um whisky
e compus-lhe uma canção.
Sentei-me junto à janela
e falei ao vento,
ás sombras
e ao gato do vizinho.

Penso que estou doida

E ele não sabe,
ele nem sonha.
Oh, não! Não!

Ele não sabe nem sonha,
e eu não tenho escolha.
Não sei como dizer!
Oh, não! Não!

Não sei como dizer!

Uma golfada de ar
que vem de longe,
luz,
vida.

Penso que estou doida.
Que não tenho escolha.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

CANSADA


Ando assim! De rastos!
Sem fins-de-semana, sem feriados, sem horários, sem tempo para descansar, comer e escrever.
Só tenho trabalhado.
Estou sem inspiração e ando com falta de vista!
Apetece-me dormir durante três dias seguidos e acordar numa ilha deserta, sem nada para fazer e sem nada para reclamar.
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quarta-feira, 2 de junho de 2010

PENSAMENTOS


Ás vezes é preciso naufragar, para podermos ver as coisas mais profundas.
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Like a Stone - Audioslave

terça-feira, 1 de junho de 2010

O CASAMENTO ESTÁ FALIDO?


Tenho um amigo que, habitualmente, é bem-humorado e brincalhão. Nos últimos tempos tem andado ausente, calado e cabisbaixo. Perguntei-lhe o que se passava e disse-me que andava cansado. Porém, acabou por me confessar que a mulher dele tem um amigo íntimo, intimissímo. Estas situações são demasiado frequentes, o que me leva a constatar que, afinal, o homem e a mulher são feitos da mesma massa - só a forma é que é diferente - e a pensar que, indubitávelmente, o casamento é uma instituição pouco credível, fracassada.

Se o ser humano, por natureza, não é solitário pois tem uma necessidade intrínseca de relacionamento amoroso, cujo objectivo não se limita à procriação, por outro lado, também não é monogámico. Como diz o autor Gabriel Garcia Marquez, um homem consegue amar várias mulheres e até ao mesmo tempo, porque o coração de um homem tem mais quartos que uma pensão de putas. Ora bem, o exagero da expressão não é para levar a sério, mas uso-o para explicar que o coração humano é compartimentado, na medida em que pode albergar vários sentimentos, por vezes semelhantes, por diferentes pessoas.

Pessoalmente entendo que duas pessoas são o número ideal para um relacionamento*, pois mais do que isso tende para a anarquia, a sublevação dos valores tradicionais famíliares. Sendo certo que a família é a estrutura da sociedade. E que a sociedade precisa de alicerces fortes para não gerar o caos. Quanto a mim, a família é a base de tudo e o amor amoroso repartido apenas por dois, uno e indivizível. Quando ele é forte e livre não necessita da intervênção de terceiros. Digo eu!

Muitas vezes me interrogo como seria a sociedade poligâmica, bem sabendo que existem pequenas sociedades estruturadas dessa forma e que resultam, em ambientes totalmente diferentes desta enorme sociedade em que me movimento. Ainda assim, não sei como se processa o mecanismo emocional do amor nessas sociedades.

Porque é que o ser humano é ciumento? O ciúme é inato? É instintivo? Ou é um produto deste sentimento generalizado de posse? Porque é que o meu coração dói e se constrange perante a hipótese do objecto amado direccionar o seu interesse amoroso ou sexual para uma outra pessoa que não eu? Fui programada desta forma? Porque amo e quero aquela pessoa e não outra ou não outras em simultâneo?

São muitas as questões, mas o tempo é pouco.

Numa época em que o casamento está falido, luta-se pelo casamento entre os homosexuais. Penso que eles também têm o direito de comprovar por si mesmos a derradeira insolvência dos afectos conjugais.
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*Se já é tão difícil aturar e tentar compreender um homem, como seria aturar e tentar compreender dois ou três!?