domingo, 6 de dezembro de 2009

MÁSCARAS


Quando olhamos, é preciso ver as pessoas e os figurantes. É preciso ver as pessoas e as pessoas que elas representam. É preciso ver os rostos e as máscaras. Ás vezes é preciso ver os detalhes para vermos que é preferível não arriscar a arrancar as máscaras. Vá! Qualquer um de nós sabe que há quem fique bem melhor com ar de palhaço. Antes de palhaço que de cretino!

Hoje sentei-me numa esplana a ver os enfeites de Natal e os figurantes que passavam. Chovia e ninguém mais se sentou na esplanada. As pessoas olhavam para mim, os figurantes quase paravam, a modos que a perguntar-me se não tinha frio, se não temia uma gripe. Vá lá, sigam com as vossas vidas! Não se preocupem, uso uma máscara impermeável e os meus cosméticos são à prova de água.
Fiquei ali algum tempo, com uma das minhas mais sofisticadas máscaras, a pensar no tempo dos bailes de finalistas e das festas de garagem. Nesse tempo dançava-se slow de forma tão espremida um comtra o outro, que não era possivel usar máscara que não saltasse do rosto. Os rapazes tremelicavam das pernas com o cangurizinho aos saltos, a querer sair da bolsa, e nós fingiamos que não davamos por isso. Bebiamos cerveja e fumavamos cigarros que faziam sonhar. Eram outras máscaras nesse tempo! Tapavam-nos o rosto, mas não o coração.
Não sei quanto tempo fiquei por ali. Virei-me para o lado e perguntei-me: "Estou farta deste cenário e se fossemos teatrar para outro lado?" Respondi que sim. Agarrei em mim e lá fomos pela marginal a transparecer uma realidade qualquer. Um vizinho cruzou-se comigo, tirou a máscara, cumprimentou-me e voltou a colocá-la. Segui a pensar no tempo em que as pessoas tiravam o chapéu.

Isto fez-me lembrar, quando há tempos, estacionei o carro, dirigia-me ao escritório, quando me cruzei-me com uma pessoa que vestia um fato inteiro, usava um capacete e uma máscara, e andava com uma máquina que cortava ervas daninhas nos passeios. Parou para me deixar passar e ali ficou parado e silencioso, atrás da sua máscara, até eu desaparecer na esquina. Ao final do dia, quando cheguei ao carro, tinha um bilhete preso no limpa vidros que dizia mais ou menos isto: " Sou o Homem da máscara, o cortador de ervas, fiquei encantado na senhora, não consigo tirá-la do pensamento, se não achar muito atrevimento, gostava de a conhecer. Se estiver interessada ligue-me por favor". E deixou-me o nº de telefone. É claro que eu nunca liguei. Cerca de mês depois, estava eu num bar da praia, era noite e havia um homem (quase um rapazito), sempre a olhar para mim. Até que se apresentou: "Sou o Homem da máscara. Deixei-lhe um bilhete no carro... Hoje não tenho máscara." Disse ele!!!
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You Do Something to Me - Paul Weller

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