sábado, 19 de dezembro de 2009

PENSO, LOGO...


Tu querias devorar-me. Eu simplesmente amar-te.


Ás vezes amo realmente. Quando não penso no amor. Que o amor não é coisa que se pense. O amor é como um cavalo bravo, não há quem o segure. Se o seguramos, já deixou de o ser. Resta é a ilusão de um cavalo bravo que entregou as rédeas para se deixar abater. Porque o amor também se abate.

Ás vezes não penso e amo. Agora penso muito. Agora ando constemente a pensar.

Eu queria amá-lo, simplesmente. Porque ele era delicioso e cheio de encanto e porque o amor faz-me muita falta. Quando amo sou melhor pessoa, enriqueço o espírito e fico mais bonita.

Pensei em amá-lo. Quando eu pensei em amá-lo, havia um roedor a subir e a descer do estomago à boca e o meu corpo sentia um furmigueiro inquietador. Além de que, de tempos a tempos, ficava febril. Também pensei estar doente. Talvez fosse a gripe A. Mas havia aquele sorriso que não me largava!

Depois ele começou a domar o amor, a controlar tudo de forma devastadora. Foi quando eu comecei a pensar no risco, a fazer a leitura dos sinais mais óbvios, a antever o próximo capitulo, a perceber que o roedor iria rápidamente começar a descer, a chegar-me às visceras e a provocar-me um tumor malígno. Fiz a operação antes que viesse a necessitar da quimio-terapia.

Antigamente eu não era assim tão radical! Eu arriscava. Deixava-me levar pelas marés boas e enfrentava as más quando elas chegavam. Mas amadureci. Eu preciso do amor. Mas não preciso de um qualquer amor. Não preciso de um amor que me consuma. Eu preciso do amor que me reconheça como pessoa, me faça sentir melhor pessoa e mais bonita. Depois que venham as marés e cá estarei para segurar a barca.

Antigamente eu não pensava tanto. Hoje continuo a entender que o amor não se pensa, que o amor é como um cavalo bravo. Mas hoje penso na qualidade do cavalo, quanto mais puro, melhor.
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Abandono - Amália Hoje

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