segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O REGRESSO

Foto: Nordeste transmontano
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Mais um ano!

Saí de casa com 17 graus, cheguei ao Norte com 3. Pelo caminho vivi sensações únicas. Percorri mais de 80 Km rodeada de neve. Tudo branquinho à minha volta! Um frio de rachar e eu bem quentinha dentro do carro, a deslizar sobre o gelo, devagarinho, e a sorrir como uma miúda que vai ao circo pelo Natal. A neve tem qualquer coisa de deslumbrante que mexe com as emoções! Talvez por ser branca, porque o branco é associado à pureza, à clarividência, ou simplesmente porque sim.

Chuva e frio, muito frio - as mãos doíam, os pés pareciam cepos e o nariz respingava, quando passeava pelas ruas da cidade onde cresci. Há anos que não vestia tanta roupa!

A casa estava quente e divertida. os cozinhados da mana sabiam a iguarias (que pecado!) e os vinhos (ai os vinhos!) divinalmente escolhidos pelo cunhado - especialista que venero - sempre divididos em 2 por 1 (dois terços da garrafa para mim, um terço para ele) e os licores caseiros feitos pela mana (xi!), os queijos regionais - mormente o de pedra (queijo de ovelha tão duro que só já vai à martelada), os salpicões... ha!... comi veado, pombo e codorniz - cunhado caçador - e cogumelos de espécies várias.

Amor, muito amor. Ali habita o amor. Aquele amor que nasce lá no fundo, no vale, e sobe a serra até tocar as núvens.

Saí de lá com 4 graus e cheguei com 15. Hoje de madrugada estavam 12 graus e eu julgava que era Primavera! Ainda não vesti um casaco, nem liguei o aquecimento e digo a toda a gente que está calor. Ficam a olhar para mim e perguntam-me se estou doente.


Enfim, de regresso á vidinha do costume!

Hoje julguei começar a trabalhar, mas deparei com um precalço. Levei o meu filho à escola e quando regressava a casa para levar o cão à rua cruzei-me com a namorada dele e tive um mau pressentimento. Fui ao pão, passeei o cão e saí desarvorada, novamente na direcção da escola. Dei com ele passeio acima, de mochila às costas, telemóvel na orelha, sorriso largo! E eu, devagarinho, a segui-lo, os nervos em frangalhos, dedo a fundo na buzina, pé no travão, quatro piscas e um berro: "Onde vais meu menino?" - O rapazinho dá um salto com o susto, perde o pio, engasga-se, fica branco como a cal e não sabe se há-de render-se ou fugir. Faço-lhe sinal com o dedo imperativamente e mando-o entrar no carro. Fui entregá-lo na sala de aula, sem fogo de artifício ou bandeira asteada. Toda eu era autoridade silenciosa. E fui pide, abanquei no portão da escola quase todo o dia. Os clientes telefonavam e eu ia marcando datas, sem agenda, de memória apenas. Não fiz nada, quase não comi nem bebi, mas ele não me fez de parva! Não me fez de parva!? Acreditarei mesmo nisso!? Xui. Bem sei, bem sei. Não importa e nem quero saber. O que eu bem sei, é o que em tempos fiz quando tinha a idade dele, mas os meus pais não iam à escola, só sabiam do horário que eu lhes inventava e não tinham carro para me perseguir. E ainda assim, não fiz mais, porque tinha um medo deles que me pelava. Mas o meu filho não tem medo e aí é que está o grande problema!


Há cerca de um mês e meio inscrevi-me no facebook. Hoje reparei que já tenho uma catrafada de amigos que não conheço de lado nenhum e com quem nunca estabeleci qualquer contacto, que a minha foto já faz parte de um calendário de 2010 (não, não estou nua nem coisa parecida), e ainda não percebi para que serve isso - o facebook! Há cada modernice mais parva!


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All That Numbs you - Anywhen

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