sábado, 9 de janeiro de 2010

PALAVRAS, LEVA-AS O VENTO



"Nem sei se ao menos ouves o vento..."


Foram-se as palavras, arrastadas por um temporal que, em qualquer tempo do passado "mais-que-perfeito" ter-nos-á devastado, sem darmos conta. As palavras foram-se, como se vão as modas e muitas lembranças. Foi um abandono, talvez misericordioso. Antes, sem ti, o tempo era tempo excedente, vivia-o como trabalho extraordionário não remunerado. Tu eras o lugar onde eu queria ficar, o mais apetecido, e ocupavas quase todo o sentido das palavras. Ter palavras sem sentido nenhum, é como não ter palavras. Antes as palavras multiplicavam-se dentro de mim, guerreavam, atropelavam-se incessantemente. Vinham em setes perfeitos e eram rebentação nos meus dedos. Depois pacificaram, fizeram-se lagoa. Agora apercebi-me que se foram para parte incerta, que voltarão sine die, se voltarem desta sinistra contumácia. Antes, tu eras o maestro e todas as palavras compostas funcionavam em mim como uma orquestra. Hoje sinto uma grande privação. E nem Amor te digo, e nem Saudade, nem uma única palavra que reste, nesta montanha de escombros que fazem do meu peito um túmulo abandonado!


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Dance me to the end of love - Leonard Choen

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