terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O INVERSO


Foto: Nordeste transmontano

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Dói-me a cabeça há vários dias e não há meio de me passar. Azedei!

O cão cheira aqui e cheira ali e nada! Ralho com ele, desapaciento-me, apetece-me dar-lhe uma cacetada! Ela sai de dentro do carro a acenar-me com o cigarrinho na mão e vem ao meu encontro com as dentolas enormes todas à mostra. O cabelo pintado de loiro berrante, as sobrancelhas grossas e pretas o batom vermelho, as peles, falsas ou verdadeiras, à volta do pescoço e a descerem-lhe até às virilhas. Não mudou nada! "Pirosa" - Penso de imediato. O cão enrosca-se nas suas pernas e tenta trepar por elas. "Ainda anda a dormir?" - Pergunta-me. "Não. Dói-me tanto a cabeça que mal consigo abrir os olhos"- Respondo. E nunca mais aquela boca se fecha, parece uma matraca! O cão não mija nem caga e apetece-me entregar-lho, pois fazem um belo par.

A casa está tão desarrumada! Entro e logo me apetece sair, mas não sei para onde. O mar chama por mim. Tenho saudades do mar. Está ali ao lado, mas não encontro a estrada!

O trabalho aguarda-me, amontoado em pastas sobre a secretária. Abro uma e ponho-a de lado. Abro outra e apetece-me mandá-la janela fora.

Prometi que iamos beber um copo quando chegasse. Até cheguei a dizer que tinha saudades! Eu disse isso?! Então é porque seria verdade. Mas quando agarro no telefone os dedos recusam-se a marcar a chamada! Se calhar não eram saudades. Se calhar, é receio de caír no mesmo erro. Ou se calhar é uma outra merda qualquer.

O telefone dá uma apitadela. "Olá Kerida". Olá Kerida?! Foda-se! Não respondo. Não me apetece. Hoje sou uma besta quadrada a abarrotar de hipocrisia.


Dói-me tanto a cabeça! É como se me doesse a vida!
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The Chronicles of Life and Death - Good Charlootte

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