quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O BEIJO


Há homens que não beijam. Ou porque não o sabem fazer ou talvez porque pensam que estender os lábios fechados, encostá-los a outros lábios, em forma de bico e esmagá-los duramente, seja beijar.

Há homens que não beijam decentemente. E quando digo decentemente quero dizer daquela forma indecente e lambuzada em que as línguas se buscam a salivar de desejo, os lábios se contorcem e mordem e os bigodes ficam todos molhados. Um beijo decente encerra em si mesmo uma elevada carga de indecência.

O beijo é a primeira e a mais primária forma de manifestação de afecto. Todo o relacionamento amoroso se inicia por um toque de mãos ou de lábios, quase sempre ferveroso . O beijo é a mais deliciosa forma de dizer amo-te, quero-te, desejo-te, adoro-te, estou apaixonada/o. De que forma o dirá quem não beija? Apenas por palavras? Uma boca pode dizer muita coisa, mas uma boca fechada ao beijar é como uma porta fechada, ou como um livro que encerra em si muitas palavras escritas, mas que só fazem sentido quando o abrimos e retiramos dele o prazer das palavras vividas.

Há homens que nunca beijam, embora encostem os lábios. Mas porque raio é que estes homens não o fazem? O beijo é uma manifestação espontânea. Não se ensina a beijar.

Há muitos anos tive um namorado que não beijava. Estendia os lábios seca e raramente. Aquilo incomodava-me. Durou muito pouco, apenas o tempo suficiente para perceber que seria sempre assim e que assim, não era nada. Nenhuma luz se acendia dentro de mim, pelo contrário, se alguma existia, apagava-se. Disse-lhe que não podiamos continuar, pois não sentia paixão alguma no nosso relacionamento. O rapaz desesperou-se. Durante muito tempo insistiu em me telefonar pois dizia-se apaixonado. Ora essa?! Desculpe se quiser, mas o beijo fala comigo e neste caso não me dizia nada.

há uns dois anos atrás tive um namorado que também era assim. Era tão bonitinho! Era tão bom rapazinho! Não fosse o beijo, ou a falta dele, eu até poderia ter-me apaixonado. Mas porra! Comecei a pensar que se calha tinha mau hálito, daí que comprei um elixir e comecei a andar sempre de pastilha elástica com sabores a frutas. Questionei todos os meus amigos e amigas se notavam em mim algum cheiro, encostava-lhes a boca, lançava-lhes um bafo e pedia-lhes para serem sinceros pois era de suma importância saber a verdade. Nada! Eu andava traumatizada! Não resultou. Não poderia resultar. Nunca resultaria.

O beijo é o mais importante elo de ligação. Daí a importância do primeiro beijo, o guardarmos na memória o seu sabor e o seu calor.

Afinal que sabedoria exige um beijo? Nenhuma. Um beijo não se pensa, dá-se porque se deseja e sente-se simplesmente com a mesma intensidade do desejo.

Há dias, em conversa com um grupo de amigos e conhecidos, um fulano comentou que detesta beijos de boca aberta. "Interessante - pensei - deixa-me cá explorar o assunto." Perguntei-lhe porque razão. Disse que lhe faz inpressão a boca toda molhada, toda aquela humidade. Então perguntei-lhe se as outras humidades também lhe faziam impressão. Respondeu-me que não! Pronto, está explicado. Só não está é entendido, cá pela parte que me toca.
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The high road - Broken Bells

Um comentário:

JORGE DELFIM disse...

Gostei! Como não se pode gostar de um beijo molhado?! Um beijo molhado, faz brivar, é sinal de paixão, de querer amar, assim se consegue sentir e ter o outro, desfrutar do mesmo prazer.

Beijinhos e já agora molhados

Jorge Delfim