terça-feira, 6 de abril de 2010

AS TUAS MÃOS


Não sei se alguma vez houve peixes verdes nos teus olhos. Que cores tem a poesia? Eu não faço poemas, nem perscruto rios. Nenhum olho tem uma tonalidade absoluta. Podem ser aves, estrelas e até abismos. Não faço questão de gerar poemas, nem me interesso verdadeiramente por decifrar que coisa foram os teus olhos e de que cor morreram.
Na verdade, nunca me afeiçoei aos teus olhos sempre ausentes. O que eu, sobretudo amava, eram as tuas mãos. Muitas vezes vi os teus olhos desertos e áridos, quando as tuas mãos, talvez acidentalmente, aqueciam em gestos vagarosos nos meus seios. O desespero espelhado nos teus olhos, como um segredo indecifrável, apaziguava nos teus dedos quando parecias tocar piano no meu corpo. Nunca ninguém me tocou com tão delicada e extrema graça! Os teus olhos eram da cor do silêncio, só as tuas mãos tocaram e permaneceram.
Não sei se o teu olhar era feito de peixes verdes. Nem quero saber. Mas as tuas mãos, ora distantes, eram feitas de magia.
Eu não faço poemas. Se algum dia fizesse poesia, faria um hino às tuas mãos.
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To the end (la comedie) - Blur & Francoise Hardy

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