quinta-feira, 1 de abril de 2010

A CONTAR HISTÓRIAS


"Se bem reparares, durante grande parte da vida agimos mal, durante a maior parte não agimos nada, durante toda a vida agimos inutilmente." - Séneca, "Cartas a Lucílio"

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Posso contar-te uma história minha ou dos outros. E tu podes lê-la com escárnio da minha arrogância para com as palavras e as vidas que vivo e que invento. Possivelmente nem a lerás, ou nem repararás no esforço subjacente de tocar, ainda que ao de leve, como um sopro ténue e quente, na tua própria vida. Nem darás conta que estará escrito um pouco de ti, muito de mim e até, alguma coisa de nós.
Vou contar-te uma história.
É ao final do dia que mais penso nas coisas por dizer e por fazer, quando regresso a casa cansada e passo por todos os sitíos vazios. E são tantos! Não sei se sou eu que não vejo movimento nem sinto brisa, ou se os lugares morreram definitivamente.
Disse um dia que precisava de partir. Ainda preciso. Sento-me no cais a ver os barcos seguirem. De permeio muita água e uma bagagem que não cabe em nenhum deles. Um dia partirei, quando tiver nas mãos apenas o peso dos dedos. Mas hoje, presa ao cais, presa a tanta tralha, como poderei entender estas marés de prosa? E esta necessidade angustiosa de te amar?
O céu está limpo e eu estou só.

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"Em que estás trabalhando?", perguntaram ao senhor K.
Ele respondeu: "Tenho muito que fazer, preparo o meu próximo erro" - Bertolt Brecht, "Histórias do Senhor Keuner"

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