segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CONVERSAS DE GAJAS



- Sabes o que gajo me disse? - Falou ela agarrada ao whisky e ao cigarro. - "Eu sou um operário." Disse-me gajo. E eu respondi-lhe: "Está bem. Mas és o operário da minha vida."

- Essa é forte! Até conseguiste arrasar comigo! Já estou lamechas outra vez!- Observei.

- Mas não com ele. Manteve-se impávido! Nem uma expressão! É de pedra! Sofre de um complexo de inferioridade que lhe fecha todos os poros. - Disse ela. - Os homens têm medo de mulheres independentes, de mulheres autónomas, ficam atrofiados!

- Os homens têm medo de mulheres autênticas, de mulheres que sabem o que querem. - Completei.

- Este gajo é um materialista revoltado com a vida. Penso que entende que não tem nada para me oferecer. E então despreza-me, espesinha-me! Eu não deveria ser amada? Eu preciso de alguma coisa mais do que o que tenho? Onde é que anda o amor e uma cabana? Eu só quero o amor. Tudo o resto que tenho basta-me. - Afirmou com a mais pura nostalgia.

- Eu emprestava-vos a viola... - Disse a brincar. - O amor deveria bastar-nos. Mas isso somos nós a sonhar. Olha para mim, o clássico exemplo de uma julieta a mandar mensagens ao seu romeu! Até onde nos pode levar a poesia?

- A vida é dor! Ainda bem que estamos vivas!

Depois de mais uns copos, a meio da noite, ela já completamente de quatro, a rir que nem uma doida:

- Vou bebêda para casa! Porra! Mas não me importo. Se aparecer amanhã de manhã no tribunal, já tenho defesa. Digo ao careca do juíz, que o detesto por ser um cretino, o que é verdade. E pergunto-lhe: "Ó Sô Dotor, V. Exª nunca se embebedou? Experimente. Abre-lhe o espírito, alegra-lhe a alma, liberta-lhe as frustrações e o meretíssimo deve ter muitas, porque é homem. É uma adrenalina absoluta!" Amiga. Se sobreviver a esta noite e se sobreviver a esta paixão, ainda nos vamos rir muito mais. Fica com o meu telemóvel, vá impede-me de voltar a ligar áquele idiota. Fica com ele, não me deixes humilhar-me mais.

- Ok. Dá cá as chaves do carro, é também a única forma de te impedir de o ires procurar. E já agora, deixa cá também a garrafa que me faz falta.

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